Nações Unidas, Estados Unidos - Os presidentes americano, Barack Obama, e russo, Vladimir Putin, discordaram nesta segunda-feira sobre o conflito na Síria na abertura da Assembleia Geral da ONU, acusando-se mutuamente de impedir o avanço de uma solução.
Em um momento histórico, Obama também pediu que o Congresso americano suspenda o embargo de seu país contra Cuba, diante dos olhares do presidente Raúl Castro, que participa pela primeira vez do grande encontro anual da ONU.
Obama disse estar confiante de que o Congresso "inevitavelmente suspenderá um embargo que não deveria mais estar em vigor", provocando aplausos das delegações dos 193 países-membros da ONU.
O presidente insistiu em que as políticas de isolamento de Cuba fracassaram em melhorar a vida dos
cubanos.
"Nós mudamos isso", lembrou Obama, referindo-se à histórica aproximação diplomática iniciada em dezembro passado entre Washington e Havana.
"A mudança não chegará de um dia para outro em Cuba, mas acredito em que a abertura, e não a coação, apoiará as reformas e vai melhorar a vida dos cubanos, assim como também acredito que Cuba terá êxito se buscar a cooperação com outras nações", acrescentou.
"Continuamos tendo diferenças com o governo cubano e vamos continuar defendendo os direitos humanos, mas abordamos estes assuntos por intermédio das relações diplomáticas e aumentamos o comércio e os laços entre pessoas", insistiu.
Para Obama, à medida que esses contatos derem resultados positivos, os congressistas americanos vão-se convencer e suspender o embargo.
"Os Estados Unidos estão preparados para trabalhar com qualquer país, incluindo Rússia e Irã, para resolver o conflito" na Síria, disse Obama, afirmando que seu país não quer uma nova Guerra Fria com Moscou derivada da crise na Ucrânia.
Obama estabeleceu, no entanto, uma linha vermelha, denunciando aquelas nações que apoiam "tiranos" como o líder sírio Bashar al-Assad, uma referência direta à Rússia e ao Irã por seu apoio militar ao regime de Damasco nesta guerra civil que leva quatro anos e meio e que deixou mais de 240.000 mortos.
A resposta de Putin, presente em uma Assembleia Geral pela primeira vez desde 2005, foi rápida: ao subir ao pódio pediu uma "ampla coalizão" para lutar contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) e assegurou que a rejeição em cooperar com o governo sírio é um "erro enorme".
Esta coalizão seria "parecida com a coalizão contra Hitler", na Segunda Guerra Mundial, e os países árabes "teriam um papel-chave", explicou Putin, que também coincidiu pela primeira vez com Obama na grande cúpula anual da ONU.
"Seria um erro enorme não cooperar com aqueles que combatem frontalmente o terrorismo. Devemos reconhecer que ninguém, salvo as Forças Armadas do presidente Assad, combatem realmente o Estado Islâmico e outras organizações terroristas na Síria", completou.
Obama e Putin se encontrarão à tarde em paralelo à Assembleia Geral, em sua primeira reunião em mais de dois anos.
Rohani oferece ajuda do IrãEm outra das intervenções mais esperadas desta segunda-feira, o presidente iraniano, Hassan Rohani, também convocou uma "frente unida" contra o extremismo violento e disse que seu país está pronto para ajudar a "levar a democracia" à Síria e ao Iêmen.
"Queria convidar o mundo inteiro, e particularmente os países da minha região, a construir uma frente unida contra o extremismo e a violência", disse Rohani, em seu primeiro discurso na ONU desde a conclusão em julho do ano passado, em Viena, do compromisso sobre o programa nuclear de Teerã.
Antes de falar diante da ONU, o presidente francês, François Hollande, declarou que uma transição na Síria passa pela saída de Assad. "Ninguém pode imaginar uma solução política" com o presidente sírio, frisou.
O certo é que, enquanto isso, o EI consolida suas posições e mantém seu poder de atração: 30.000 jihadistas estrangeiros viajaram para Síria e Iraque desde 2011, segundo responsáveis de Inteligência americanos citados pelo jornal "The New York Times".
Dilma defende sua gestãoA Assembleia Geral da ONU começou com o apelo do secretário-geral, Ban Ki-moon, para a Europa fazer mais para ajudar os milhares de refugiados que chegam às suas terras, procedentes do Oriente Médio e da África.
"O sofrimento atinge novos patamares", disse Ban, lembrando que, no mundo, há "100 milhões de pessoas que precisam de ajuda humanitária imediata" e "60 milhões de pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas, ou países".
A primeira voz latino-americana do dia foi a de Dilma Rousseff, que defendeu sua gestão, afirmando que a economia do Brasil "é mais forte" e vai superar as atuais dificuldades.
"Hoje, a economia brasileira é mais forte, sólida e resiliente do que há alguns anos. Temos condições de superar as dificuldades atuais e avançar na trilha do desenvolvimento", insistiu a presidente.
Atingido pela pior crise econômica em anos, com o país em recessão e com o real em seu valor mais baixo na história, o governo de Dilma foi afetado por graves casos de corrupção, como o da Petrobras.
Outra presidente questionada que falará nesta segunda-feira é a chilena Michelle Bachelet, abalada na pesquisas de opinião em seu país pelos tropeços de suas reformas e pelo escândalo de corrupção de seu filho Sebastián Dávalos.
No âmbito externo, Bachelet também foi abalada com a decisão da Corte Internacional de Justiça de Haia (CIJ), que declarou sua competência para tratar a demanda da Bolívia para ter uma saída para o mar. A disputa terá um novo capítulo neste dia, já que Evo Morales também subirá ao palco da ONU.
A Assembleia Geral marca a despedida de Cristina Kirchner, que deixa o poder na Argentina em dezembro após oito anos - ou 12, se for somado o mandato inicial de seu falecido marido Néstor.