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Obama e Putin divergem sobre Síria na Assembleia Geral da ONU

Assunto foi motivo de troca de acusações entre ambos os presidentes

Agência France-Presse
postado em 29/09/2015 08:24
Presidentes em aperto de mão amistoso durante Assembleia Geral da ONU

Os presidentes americano, Barack Obama, e russo, Vladimir Putin, discordaram nesta segunda-feira (28/9) sobre o conflito na Síria na abertura da Assembleia Geral da ONU, acusando-se mutuamente de impedir o avanço de uma solução.

O conflito na Síria dominou os debates com fortes discursos trocados entre Obama e Putin, que se encontraram em privado durante a tarde, em uma esperada primeira reunião bilateral em mais de dois anos. "Os Estados Unidos estão preparados para trabalhar com qualquer país, incluindo Rússia e Irã, para resolver o conflito" na Síria, disse Obama, abrindo as portas para um diálogo.

[SAIBAMAIS]Obama estabeleceu, no entanto, uma linha vermelha, denunciando aquelas nações que apoiam "tiranos" como o líder sírio Bashar al-Assad, uma referência direta à Rússia e ao Irã por seu apoio militar ao regime de Damasco nesta guerra civil que leva quatro anos e meio e que deixou mais de 240.000 mortos.

A resposta de Putin, presente em uma Assembleia Geral pela primeira vez desde 2005, foi rápida: ao subir ao pódio pediu uma "ampla coalizão" para lutar contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) e assegurou que a rejeição em cooperar com o governo sírio é um "erro enorme". Esta coalizão seria "parecida com a coalizão contra Hitler", na Segunda Guerra Mundial, e os países árabes "teriam um papel-chave", explicou Putin, que também coincidiu pela primeira vez com Obama na grande cúpula anual da ONU.

"Seria um erro enorme não cooperar com aqueles que combatem frontalmente o terrorismo. Devemos reconhecer que ninguém, salvo as Forças Armadas do presidente Assad, combatem realmente o Estado Islâmico e outras organizações terroristas na Síria".

Em entrevista coletiva após seu discurso, Putin disse que não descarta realizar ataques aéreos em apoio às forças de Al-Assad em sua luta contra o Estado Islâmico. "Estamos pensando nisso. Não descartamos nada, mas, se agirmos, será apenas respeitando por completo as normas legais internacionais". Sobre o envio de tropas terrestres à Síria, Putin afirmou que "um envolvimento russo não pode ser tema de discussão".

Putin rejeitou os apelos de Obama e do presidente da França, François Hollande, pela renúncia de Al-Assad. "Eu me relaciono muito respeitosamente com meus colegas dos Estados Unidos e da França, mas eles não são cidadãos da Síria e não deveriam se envolver com a escolha da liderança de outro país".

Rohani oferece ajuda do Irã

Em outra das intervenções mais esperadas desta segunda-feira, o presidente iraniano, Hassan Rohani, também convocou uma "frente unida" contra o extremismo violento e disse que seu país está pronto para ajudar a "levar a democracia" à Síria e ao Iêmen.

"Queria convidar o mundo inteiro, e particularmente os países da minha região, a construir uma frente unida contra o extremismo e a violência", disse Rohani, em seu primeiro discurso na ONU desde a conclusão em julho do ano passado, em Viena, do compromisso sobre o programa nuclear de Teerã.

Em discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente francês, François Hollande, defendeu que uma transição na Síria passa pela saída de Assad, afirmando ser impossível que "vítimas e algoz" trabalhem juntos.

Enquanto a comunidade internacional não entra em acordo, o EI consolida suas posições e mantém seu poder de atração: 30.000 jihadistas estrangeiros viajaram para Síria e Iraque desde 2011, segundo responsáveis de Inteligência americanos citados pelo jornal "The New York Times".

Dilma defende sua gestão

A Assembleia Geral da ONU começou com o apelo do secretário-geral, Ban Ki-moon, para a Europa fazer mais para ajudar os milhares de refugiados que chegam às suas terras, procedentes do Oriente Médio e da África.

"O sofrimento atinge novos patamares", disse Ban, lembrando que, no mundo, há "100 milhões de pessoas que precisam de ajuda humanitária imediata" e "60 milhões de pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas, ou países".



A primeira voz latino-americana do dia foi a de Dilma Rousseff, que defendeu sua gestão, afirmando que a economia do Brasil "é mais forte" e vai superar as atuais dificuldades. "Hoje, a economia brasileira é mais forte, sólida e resiliente do que há alguns anos. Temos condições de superar as dificuldades atuais e avançar na trilha do desenvolvimento", insistiu a presidente.

Outra presidente questionada que falou nesta segunda-feira foi a chilena Michelle Bachelet, abalada na pesquisas de opinião em seu país pelos tropeços de suas reformas e pelo escândalo de corrupção de seu filho Sebastián Dávalos.

Bachelet pediu "fazer mais" pelos refugiados que fogem da guerra e da pobreza no Oriente Médio e na África e evitou qualquer referência a decisão da Corte Internacional de Justiça de Haia (CIJ), que declarou sua competência para tratar a demanda da Bolívia para ter uma saída para o mar.

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