Agência France-Presse
postado em 30/09/2015 08:32
Beirute, Libano - A oposição e os rebeldes sírios afirmaram na terça-feira (29/9), sem ambiguidades, que não aceitarão jamais negociar com o presidente Bashar Al Assad, rejeitando assim a aproximação dos países ocidentais com o chefe de Estado sírio.[SAIBAMAIS]Negociar com Al Assad seria um verdadeiro sacrilégio para as 240.000 pessoas que morreram desde o início da guerra civil síria em 2011, declaram seus adversários.
"Será um fracasso se o regime se mantiver e se Assad permanecer no poder. Será também um insulto aos sacrifícios feitos pelo povo sírio e uma falta de respeito com o que nosso povo deseja", disse à AFP Ahmad Qura Ali, porta-voz do poderoso grupo de insurgentes Ahrar al Cham.
Tomando uma posição similar, Ibrahim al-Idlibi, que participou nas manifestações contra o regime em março de 2011, assegura que os sírios "não aceitarão que Assad permaneça no poder durante o período de transição".
Segundo ele, "é impossível considerar um assassino terrorista como um protetor ou como alguém capaz de trazer segurança". A renúncia de Al Assad é a principal exigência da oposição desde que iniciaram as revoltas há mais de quatro anos.
Os opositores políticos e os rebeldes invocam o comunicado de Genebra I de 2012, no qual as principais potências do mundo pediam a formação de um governo de transição.
A oposição e seus padrinhos internacionais afirmam desde o início que Assad não deve ter nenhum papel nesta transição, mas recentemente vários países ocidentais têm adoçado sua postura.
Al Assad "tem favorecido" o EI
Os países ocidentais têm que fazer frente ao auge do grupo jihadista Estado Islâmico, que não parece fragilizado pelos ataques da coalizão liderada pelos Estados Unidos e à chegada maciça de meio milhão de refugiados, dos quais mais da metade são sírios que fogem da guerra.
Vários países veem agora Al Assad como um mal menor em comparação às atrocidades cometidas pelo EI, uma longa lista que inclui decapitações, estupros e destruição de monumentos inscritos no patrimônio da Humanidade. Mas a oposição insiste no fato de que as forças leais a Al Assad têm massacrado muito mais sírios do que o EI e que o regime buscou desde sempre se apresentar como a única alternativa aos extremistas.
"O regime tem favorecido o auge do EI e sua expansão na Síria tem ocorrido em detrimento da revolução e não em detrimento do regime", assegura Mamoun Abou Omar, um ativista de Aleppo.
Muitos opositores veem no amolecimento dos ocidentais com Assad o último exemplo da confusão que caracteriza sua política sobre a Síria. "É inacreditável a maneira com a qual Irã e Rússia apoiam o regime, enquanto os países do grupo dos ;Amigos da Síria; (coalizão que apoia a oposição) mostram suas rivalidades", lamenta Samir Nashar, um líder da Coalizão da oposição. São incapazes de "apresentar uma frente comum", completa.
"Nada mudou"
Os principais aliados dos rebeldes, Estados Unidos, Turquia, Arábia Saudita e Qatar, nunca conseguiram chegar a um acordo sobre a melhor maneira de apoiar a oposição.
"Nós sírios deixamos de escutar suas declarações, que não provém sobre o que ocorre no terreno, mas sim sobre sua política interna", afirma Ibrahim al-Idlibi. "No início, pensava que os ocidentais eram verdadeiros aliados do povo sírio, mas nossa opinião mudou rapidamente devido a sua incoerência".
No terreno, os rebeldes afirmam que seguirão lutando contra o regime e que demonstrarão que este último não é um aliado nos combates contra o EI. "Para nós nada mudou e seguiremos atuando no terreno", afirma Ahmad Qura Ali, porta-voz do Ahrar al Cham.
Outros asseguram que não há outra opção que lutar para derrubar Al Assad. "Com centenas de milhares de mortos e tanta destruição é impossível voltar atrás. Chegar só na metade da revolução equivale a cavar sua própria cova", declara Mamoun Abu Omar.