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Aumenta a tensão entre Irã e Arábia Saudita após polêmica de Meca

O Irã acusou as autoridades sauditas de negligência na organização das manifestações religiosas

Agência France-Presse
postado em 30/09/2015 11:37
A tensão entre o Irã e a Arábia Saudita subiu um novo degrau nesta quarta-feira (30/9) após a interceptação de um barco iraniano com armas para os rebeldes do Iêmen e uma nova polêmica sobre o tumulto que provocou a morte de centenas de pessoas perto de Meca.

[SAIBAMAIS]O drama da peregrinação a Meca, que fez desta edição dos rituais hajj a mais mortífera nos últimos 25 anos, envenena ainda mais as relações já muito deterioradas entre a República Islâmica xiita do Irã e o reino sunita da Arábia Saudita.

Quase uma semana após o trágico tumulto, no qual 769 peregrinos morreram, o guia supremo do Irã, Ali Khamenei, advertiu que o Irã reagirá duramente se a Arábia Saudita não cumprir com seu dever de repatriar rapidamente os corpos dos 239 iranianos mortos na tragédia. "O governo saudita não cumpre com seu dever no que diz respeito à repatriação dos corpos" e se não o fizer o Irã reagirá duramente, afirmou nesta quarta-feira Ali Khamenei.

Antes desta declaração, a coalizão árabe dirigida pela Arábia Saudita anunciou que havia interceptado no sábado passado, em frente à costa da cidade de Salalah, em Omã, um barco carregado de armas destinadas aos rebeldes xiitas huthis do Iêmen.

Segundo a coalizão, no barco de pesca iraniano interceptado foram encontrados 18 morteiros antiblindados, 54 morteiros antitanques BGM17 e sistemas de orientação de disparos. Além do capitão, 14 iranianos estavam a bordo da embarcação, registrada como barco de pesca no Irã, acrescentou o comunicado.



A coalizão, integrada principalmente pelos países do Golfo, impõe um bloqueio marítimo no Iêmen desde o início de sua intervenção, em março passado, para apoiar o presidente Abd Rabbo Mansour Hadi contra os rebeldes xiitas huthis aliados ao Irã.

O governo iemenita e a coalizão acusam regularmente o Irã de apoiar ativamente os huthis, que se ampararam de vastos territórios iemenitas há um ano e controlam Sanaa, a capital. Para justificar a intervenção, as monarquias sunitas do Golfo, lideradas pela Arábia Saudita, afirmam que querem impedir que o Irã reedite no Iêmen a experiência do movimento libanês Hezbollah.

O Conselho de Segurança da ONU adotou em abril passado uma resolução que impõe um embargo às vendas de armas ao Iêmen. Além disso, na última semana a Arábia Saudita e o Irã já haviam subido o tom em relação ao mortífero tumulto que ocorreu durante a peregrinação a Meca.

O Irã acusou as autoridades sauditas de negligência na organização das manifestações religiosas. A Arábia Saudita respondeu acusando o Irã de querer politizar a catástrofe que abalou a peregrinação.

Nesta quarta-feira, o Irã manifestou sua impaciência pelo atraso na repatriação dos corpos dos peregrinos iranianos, apesar de a "República Islâmica do Irã ter demonstrado moderação, cortesia islamita e fraternidade".

O ministério iraniano das Relações Exteriores convocou nesta quarta, pela quarta vez desde a tragédia, o encarregado de negócios saudita em Teerã.

O ministério lembrou que nenhum familiar das vítimas "quer que sejam enterrados na Arábia Saudita". Os familiares pedem "a repatriação rápida e respeitosa dos corpos" ao Irã, indicou o ministério, segundo a agência de notícias oficial iraniana IRNA.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, encurtou sua estadia em Nova York, onde participou da 70; Assembleia Geral da ONU, para poder acompanhar a chegada dos corpos das vítimas, que estava prevista num primeiro momento para terça-feira.

Mas as dificuldades para identificar as vítimas e entregar as autorizações de aterrissagem dos aviões atrasou a repatriação dos corpos, segundo as autoridades iranianas.

Irã e Arábia Saudita também discordam sobre a guerra civil na Síria. "O Irã forma parte do problema, e por isso não pode formar parte da solução", declarou na terça-feira em Nova York o ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Khubeir.

O Irã é acusado de ser uma "força de ocupação" na Síria e de fomentar a instabilidade e o extremismo no Oriente Médio.

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