Agência France-Presse
postado em 02/10/2015 14:06
Nablus, Territórios palestinos - Na Palestina, alguns encontraram na cozinha uma forma de resistência, como Fátima Kadumy, que no centro de histórico de Nablus cozinha abobrinha recheada e hummus como forma de apoiar a causa palestina."Alguns fazem a guerra, mas há melhores maneiras de defender o país", afirma esta mulher que sete anos atrás teve a "ideia maluca" de fundar uma escola de culinária nesta cidade da Cisjordânia.
Em Nablus, ela viveu os anos mais duros da intifada e, com o ensino de suas receitas tradicionais, espera apoiar a criação de um Estado palestino.
Seus esforços foram recompensados, pois desde 2008 recebeu mais de 1.200 visitantes de países como China, Austrália, Alemanha e Estados Unidos.
"Por trás da cozinha existe política e resistência", diz em sua pequena loja em Nablus, que batizou de Bait al Karama (Casa da Dignidade em árabe). "Nós ensinamos a nossa cozinha e as nossas vidas tal como nós a vemos. Então, os estrangeiros podem julgar os palestinos a partir de dentro", afirma.
Há pouco tempo, um casal americano de Washington aprendeu a cozinhar folhas de videira e abobrinha recheada graças a Nidal, a chef da escola. Um dos visitantes, Rex, disse estar encantado em poder "compartilhar a vida diária" dos palestinos nesta cidade que viveu entre 2000 e 2005 os piores dias de violência da segunda intifada.
Antes de cozinhar, Fátima Kadumy acompanhou o casal através das ruas da cidade até o mercado para comprar apenas produtos palestinos, porque sua escola boicota os produtos israelenses.
Além de um boa comida, incentiva falar de política. "Na mesa sempre falamos com mais calma, mais facilmente", diz esta mulher que usa um véu azul e dourado e óculos de sol. Sua escola faz parte do movimento global Slow Food, fundado na Itália para promover a culinária local. "Por muito tempo permitimos que só os israelenses falassem", afirma.
Palestinos e israelenses disputam não só o território, mas também a origem de alguns pratos como o homus, um creme que também é consumido na forma de croquetes (falafel).
No entanto, todos concordam que o melhor é o de Abu Shukri, um pequeno restaurante na cidade velha de Jerusalém inaugurado em 1948, quando Israel foi criado, e que hoje é conduzido por Yasser Taha, um palestino que o herdou de seu pai.
"Os israelenses aprenderam a preparar o homus com a gente", explica, orgulhoso deste prato feito de grão de bico, azeite de oliva, suco de limão, alho e tahine (pasta de gergelim).
"Eles olharam e aprenderam a cozinhar e agora dizem que foram eles que o inventou", diz Tahar sorrindo em seu restaurante, que tem muitos clientes israelenses.
"Olhe para os nossos pratos vazios", diz Elad, de 52 anos, que veio com sua filha, enquanto comia um pedaço de pão com o que sobrou de um homus decorado com salsa e sumac, uma espécie de páprica. "Nós amamos vir aqui, é delicioso", diz ele.
Neta, uma mulher israelense, ainda acredita que este prato modesto poderia ter um papel no conflito entre palestinos e israelenses. "Todo mundo gosta do homus, é algo que temos em comum, podemos nos levar à compreensão mútua", assegura.
Perto do restaurante, os cartões postais mostram a diversidade de opinião: em alguns aparece um prato de homus com uma bandeira israelense e em outros com a bandeira palestina.