postado em 04/10/2015 15:14
A Rússia intensificou neste domingo sua operação de bombardeios na Síria, em uma intervenção que o presidente sírio, Bashar Al Assad, considerou crucial para evitar que a região do Oriente Médio seja "destruída".
Os aviões russos bombardearam, pelo quinto dia consecutivo, vários alvos na Síria e destruíram posições do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), segundo Moscou.
Mas os países ocidentais voltaram a lamentar que estes bombardeios atingem, sobretudo, os grupos rebeldes que enfrentam Assad e não só o EI.
O presidente sírio, que falava pela primeira vez desde o início da intervenção russa na quarta-feira, considerou indispensável o êxito da coalizão contra "o terrorismo" formada por Síria, Rússia, Irã e Iraque.
"É preciso alcançar o êxito, senão toda a região será destruída e não só um ou dois países", declarou em uma entrevista para a televisão iraniana Khabar.
"O preço a pagar será seguramente alto", completou Assad, que mostrou-se convencido das "grandes possibilidades de êxito" desta coalizão.
Assad, que está há 15 anos no poder e resistiu às revoltas de 2011 que acabaram com vários regimes árabes, sente-se reforçado pela intervenção russa. Com a ajuda de Moscou, espera pôr fim à série de derrotas que suas tropas sofreram nos últimos meses.
O Kremlin informou neste domingo que seus aviões Sukhoi fizeram 20 saídas em 24 horas e bombardearam "10 alvos dos terroristas do EI".
Erro grave
O presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, por sua vez, declarou que a campanha empreendida por Moscou é "inaceitável". "Infelizmente, a Rússia está cometendo um erro grave", declarou em coletiva de imprensa.
Essas ações na Síria são "preocupantes e perturbadoras", dadas as relações amistosas entre Moscou e Turquia, declarou Erdogan, que avisou que isto "isolará a Rússia na região".
Ambos países se opõem sobre a forma de gerenciar a crise na Síria. Moscou é o maior apoio internacional para o regime de Assad, enquanto Ancara sempre defendeu que sua saída do governo é a única solução ao conflito.
Inúmeros líderes ocidentais também exigiram que o presidente sírio abandone o poder. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, fez uma chamado aos russos neste sentido.
"Mudem de caminho, unam-se a nós para atacar o EI, mas reconheçam que se querem uma região estável, necessitamos de outro líder que não seja Assad", declarou neste domingo à BBC.
"De maneira trágica, pelo que podemos comprovar até agora, a maioria dos bombardeios russos ocorreram em zonas da Síria que não são controladas pelo EI, mas por outros opositores ao regime", lamentou Cameron.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, também pediu neste domingo a Moscou que "não se equivoque nos objetivos".
Também a chanceler alemã, Angela Merkel voltou a insistir neste domingo que para que o processo político na Síria tenha sucesso é necessário que Assad participe diretamente das discussões.
Quem são os moderados
A ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) informou que, na madrugada do domingo, várias bombas caíram sobre Raqa, a "capital" do EI, que controla cerca da metade do território sírio.
Mas o OSDH não pode determinar se estes ataques foram obras de aviões russos, do regime ou da coalizão antijihadista liderada por Washington.
Segundo a mesma fonte, outros aviões, "aparentemente russos, efetuaram vários ataques contra dois povoados do norte da província de Homs, uma região controlada em sua maioria por organizações rebeldes, como a Frente Al-Nusra, braço sírio da Al-Qaeda.
Um alto oficial do Estado Maior russo, o general Andrei Kartapolov, repetiu no sábado que a Rússia só ataca "terroristas", um termo que, tanto para o regime sírio quanto para o Kremlin, corresponde a todos os grupos que combatem as forças de Assad.
Na véspera, havia destacado que desde a quarta-feira foram realizados "60 ataques" semeando o pânico entre os jihadistas, e "expulsando 600 combatentes" de suas posições.
Dmitri Peskov, o porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, lamentou neste domingo que os ocidentais não tenham sido capazes de explicar a Moscou quem formam, segundo eles, a "oposição moderada".
Assad considera negativo o balanço da coalizão liderada pelos Estados Unidos. Desde seu começo há um ano, "o terrorismo teve uma expansão geográfica e aumentou seu número de recrutamentos", declarou à televisão iraniana.
Neste domingo, as autoridades sírias detiveram por várias horas Munzer Jaddam, um líder da oposição tolerada pelo regime, dias depois que criticou os ataques russos. "A solução da crise russa não é tão iminente como acreditam alguns sonhadores e a intervenção russa complica (o conflito) ainda mais", havia publicado em sua página do Facebook.