Agência France-Presse
postado em 05/10/2015 12:20
Os Estados Unidos realizaram o bombardeio que matou no sábado (03/10) 22 pessoas no hospital da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Kunduz, no Afeganistão, a pedido das forças afegãs, indicou nesta segunda-feira (05/10) a Otan.[SAIBAMAIS]O exército afegão, que estava encurralado pelos rebeldes talibãs, "pediu um apoio aéreo das forças americanas" no último sábado, declarou o general americano John Campbell, que dirige a missão da Otan no Afeganistão. A aviação americana bombardeou então o hospital.
Estas declarações contradizem a versão anterior da Aliança Atlântica, que afirmava que o bombardeio buscava apoiar as forças americanas.
"Indignada" pelo bombardeio que provocou a morte de 22 pessoas - 12 funcionários da organização e 10 pacientes - a ONG decidiu retirar seus funcionários de Kunduz, um duro golpe para a população civil, que sofre as consequências dos combates entre o exército afegão e os rebeldes talibãs, que disputam o controle desta grande cidade do norte do Afeganistão.
O hospital era o único capaz de tratar os feridos graves na região. "Até o momento não posso dizer se o centro de traumatologia de Kunduz voltará a abrir ou não", explicou Kate Stegeman, porta-voz da MSF no Afeganistão.
No sábado às 02h15 locais a aviação americana bombardeou o entorno do hospital da MSF, admitiu a missão da Otan no Afeganistão. No momento do bombardeio, mais de 100 pacientes e 80 funcionários, afegãos e estrangeiros, estavam no hospital.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apresentou suas profundas condolências após o ataque e afirmou que esperará os resultados da investigação "antes de ter um julgamento definitivo sobre as circunstâncias desta tragédia". A situação era "confusa e complicada", disse seu secretário de Defesa, Ashton Carter.
Estas explicações foram consideradas insuficientes pelo diretor-geral da MSF, Christopher Stokes, que pediu uma investigação exaustiva e transparente por parte de um "organismo internacional independente".
Efetivamente, a MSF rejeita as justificativas de autoridades afegãs, segundo as quais combatentes afegãos estavam no interior do hospital e o utilizavam como base.
"Estas declarações mostram que as forças afegãs e americanas decidiram conjuntamente arrasar um hospital totalmente funcional (...) Isso equivale a reconhecer que se trata de um crime de guerra", declarou Stokes.
A ONU já havia considerado no sábado que o bombardeio aéreo pode ser considerado um crime de guerra se for considerado "deliberado pela justiça".
Além disso, "isso contradiz totalmente as primeiras tentativas do governo dos Estados Unidos de minimizar as consequências dos ataques ao considerá-los um ;dano colateral;", vocábulo utilizado inicialmente pela Otan poucas horas depois do bombardeio, destacou Stokes.
A ONG afirma ter transmitido preventivamente as coordenadas GPS de seu hospital aos exércitos afegão e americano. Mas os bombardeios prosseguiram por mais de 45 minutos depois que a ONG informou aos exércitos que o hospital havia sido atingido pelos primeiros disparos. "Os disparos estavam muito focados, sempre contra o mesmo imóvel (...)", explicou à AFP o Doutor Bart Janssens, diretor de operações da MSF.
A recuperação de Kunduz
A Otan, que conta com 13.000 soldados no Afeganistão, incluindo 10.000 americanos, é alvo de controvérsia pelos danos colaterais que seus bombardeios aéreos costumam gerar.
No entanto, estes bombardeios foram essenciais no apoio dado ao exército afegão em sua contraofensiva para recuperar Kunduz das mãos dos talibãs.
Os talibãs conseguiram tomar a cidade em apenas algumas horas na segunda-feira passada, alcançando sua maior vitória desde a queda de seu regime, em 2001. As forças de segurança mostraram então, mais uma vez, as dificuldades que têm para conter os combatentes islamitas.
Nesta segunda-feira, após quase uma semana de combates, a calma parecia ter retornado à cidade, livre de talibãs. As redes de televisão mostravam as ruas da cidade com bastante movimento.
Segundo o ministério da Saúde, 60 pessoas morreram e mais de 400 ficaram feridas pelo controle desta cidade, considerada uma passagem estratégica na estrada que une Cabul ao Tadjiquistão.