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UE busca difícil 'contrato de confiança' com a Turquia sobre refugiados

A UE reiterou sua proposta de uma ajuda financeira e pôs na mesa a liberação de vistos para os cidadãos turcos que viajarem à UE

Agência France-Presse
postado em 05/10/2015 16:54
A União Europeia (UE) tenta coordenar melhor com seus vizinhos o enfrentamento da crise migratória, em primeiro lugar com a Turquia, cujo presidente foi recebido nesta segunda-feira (5/10) em Bruxelas para negociações difíceis sobre um "contrato de confiança mútua".

Para a UE, aonde chegaram 630 mil migrantes desde o começo do ano, o objetivo é associar Ancara na gestão ou na contenção do fluxo de demandantes de asilo, sem precedentes desde 1945.

A Europa "deve controlar melhor suas fronteiras", afirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, depois de uma reunião com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Mas "esperamos que a Turquia faça o mesmo", insistiu Tusk.

A UE reiterou sua proposta de uma ajuda financeira e pôs na mesa a liberação de vistos para os cidadãos turcos que viajarem à UE. Precisa-se de "um contrato de confiança mútua", avaliou a Comissão Europeia.

Zona de segurança
"Se quisermos resolver o problema dos refugiados, há três coisas" a fazer, disse Erdogan. "A primeira é treinar e equipar" as forças rebeldes moderadas que combatem o regime de Bashar al Assad. "A segunda é decretar uma zona de segurança que deveria estar protegida do terrorismo e a terceira diz respeito a uma zona de exclusão aérea", acrescentou.

A "zona de segurança" que Ancara quer ao longo de sua fronteira com a Síria e para a qual a UE se mostrou pouco entusiasmada até agora, exige "uma decisão do Conselho de Segurança da ONU", afirmou o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz.

Quanto à zona de exclusão aérea na Síria, Moscou se pronunciou contrário. Segundo o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, um acordo entre a UE e Ancara suporia que a Turquia participasse de patrulhas conjuntas com a guarda costeira grega no leste do mar Egeu, no âmbito de uma ação coordenada pela agência europeia Frontex.



Segundo o jornal, os migrantes detidos tentando chegar à UE seriam devolvidos à Turquia, enquanto a UE aceitaria receber até 500 mil pessoas, permitindo-lhes chegar ao bloco europeu de forma segura, sem ter que recorrer a traficantes.

Mas as autoridades europeias não evocaram nesta segunda-feira medidas tão concretas. "As discussões se apresentam difíceis" e há poucas possibilidades de que se alcance um acordo nesta segunda-feira, avaliou uma autoridade europeia segundo a qual uma delegação viajaria à Turquia esta semana para dar continuidade às negociações.

Tensão turco-russa
Oficialmente, a Turquia recebeu 2,2 milhões de sírios desde o início da guerra civil na Síria, lembrou Erdogan. O presidente turco também buscou em Bruxelas o apoio de seus aliados da Otan e dos altos funcionários europeus para sua fronteira com a Síria, onde a aviação militar turca e russa iniciaram uma queda de braço. Moscou começou a bombardear a Síria na quarta-feira, em apoio ao presidente Bashar al Assad.

Foram registrados, desde então, vários incidentes com aviões russos e turcos. Os dois países têm visões diametralmente opostas sobre o futuro de Assad, inimigo de Ancara, que pede há anos a sua saída.

No sábado, um caça russo entrou no espaço aéreo turco, mas de acordo com o ministério russo da Defesa, foi por apenas "alguns segundos" e devido às "más condições meteorológicas".

Em alusão ao incidente entre a Rússia e a Turquia, a ONU advertiu nesta segunda-feira que a presença no espaço aéreo sírio de aviões da coalizão comandada pelos Estados Unidos e de aeronaves russas "cria uma situação repleta de perigos".

"Agora vemos diferentes países, diferentes coalizões operarem nos céus sobre a Síria, isto cria uma situação repleta de perigos e muito delicada", disse, em Nova York, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric. "Isto deveria levar a comunidade internacional a se concentrar na busca de uma solução política" para o conflito sírio, avaliou.

O porta-voz da ONU lembrou que "toda ação lançada contra o Daech (acrônimo em árabe para o grupo Estado Islâmico) e outros deve estar de acordo com as leis internacionais e as leis humanitárias internacionais".

A Otan também considerou "extremamente perigosas" as incursões da aviação russa na Turquia e os 28 membros da Aliança Atlântica demonstraram sua "grave preocupação" com os bombardeios aéreos da Rússia na Síria, "que deixaram vítimas civis e não visaram" aos combatentes do grupo Estado Islâmico.

A UE, por sua vez, quer alcançar um acordo de coordenação com todos os países que se encontram na "Rota dos Bálcãs", utilizada este ano por mais de 400 mil solicitantes de asilo para chegar da Síria até as fronteiras da UE, segundo a ONU.

;Pressão migratória;
Na quinta-feira, os ministros do Interior e de Relações Exteriores se reunirão em Luxemburgo. Participarão do encontro os chanceleres de Turquia, Líbano, Jordânia, Albânia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Sérvia e Kosovo.

Enquanto isso, o fluxo de migrantes para a Europa não para. A Alemanha, um dos principais destinatários dos requerentes de asilo, poderia receber até 1,5 milhão de pessoas em 2015, noticiou nesta segunda-feira o jornal alemão Bild. Mas o governo alemão não confirmou estas cifras.

Para "gerenciar a pressão migratória", a Frontex exortou aos países-membros da UE que ponham à disposição 775 guardas fronteiriços adicionais.

"Devem reforçar prioritariamente as equipes na Grécia e na Sicília, encarregadas de registrar os migrantes que chegam, mas uma parte deste contingente será deslocada nas fronteiras terrestres da UE", explicou nesta segunda-feira à AFP Eva Moncure, porta-voz da Frontex.

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