Agência France-Presse
postado em 07/10/2015 15:11
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obamam apresentou nesta quarta-feira suas desculpas à ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) pelo bombardeio de seus militares contra um hospital afegão em Kunduz.
A MSF, por sua vez, exigiu uma investigação internacional sobre o ataque que deixou 22 mortos, entre pacientes e pessoal sanitário.
[SAIBAMAIS]As Forças Armadas americanas ofereceram várias explicações sobre o ataque aéreo, inicialmente considerado um "dano colateral", e agora admitem um "erro", como Obama esclareceu durante o telefonema à presidente da MSF, Joanne Liu.
Obama telefonou "para se desculpar e apresentar suas condolências", anunciou seu porta-voz, Josh Earnest, que indicou que o presidente também falou com o presidente afegão Ashraf Ghani e se comprometeu com a realização de uma investigação completa e transparente.
Três investigações, uma americana, uma afegã e uma da Otan, já foram diligenciadas sobre este caso, mas a MSF, que chama o ataque de "crime de guerra", disse nesta quarta-feira que "não confia em uma investigação militar interna".
Sua presidente, Joanne Liu, exigiu uma "comissão internacional humanitária para restabelecer os fatos" que provocaram a morte de 12 funcionários da ONG e de 10 pacientes, além da destruição do edifício principal de seu hospital em Kunduz, um estabelecimento de saúde vital para os civis presos entre o fogo dos combates entre o exército afegão e os rebeldes talibãs.
"Não se tratou apenas de um ataque contra nosso hospital, mas de um ataque contra as Convenções de Genebra. Não o toleraremos", afirmou Liu, invocando as regras do direito humanitário em tempos de guerra.
Assinadas em 1949, as Convenções de Genebra codificam sobretudo o comportamento que os beligerantes devem adotar para proteger os feridos e doentes "em qualquer circunstância". De maneira mais precisa, MSF exige que seja ativada uma comissão de investigação existente desde 1991, mas que nunca foi utilizada e que requer o impulso de um dos seus 76 Estados signatários.
"Pedimos ao presidente (americano Barack) Obama que autorize a comissão de investigação", afirmou o diretor da MSF nos Estados Unidos, Jeson Cone, durante coletiva de imprensa em Nova York. "Com isso enviará um poderoso sinal do compromisso e respeito do governo dos Estados Unidos pelo direito humanitário internacional e pelas regras em tempos de guerra", acrescentou.
A MSF rejeita a palavra erro utilizada pelo general americano John Campbell, comandante dos 13.000 soldados estrangeiros mobilizados no Afeganistão, com a qual na terça-feira classificou este bombardeio. "Infelizmente", este bombardeio "não foi um erro", estima Mego Terzian, presidente da MSF França.
Obama pede desculpas
A Casa Branca informou que Barack Obama telefonou nesta quarta-feira à presidente da MSF para pedir desculpas após o bombardeio contra o hospital em Kunduz. Obama também telefonou para apresentar suas condolências.
Segundo a Casa Branca, Obama, que também falou com o presidente afegão Ashraf Ghani, se comprometeu com a realização de uma investigação completa e transparente.
Indagado sobre o pedido da MSF para que seja realizada uma investigação internacional, Obama declarou confiar no Pentágono na execução de uma investigação "transparente e objetiva".
Na terça-feira, ante uma comissão do Senado, o general Campbell admitiu que o hospital da MSF em Kunduz foi bombardeado por erro em um ataque americano solicitado pelos afegãos, mas decidido pela rede de comando americana.
Segundo o jornal The New York Times, que cita uma fonte próxima, o general Campbell estima que as forças especiais americanas não seguiram as regras que precedem um bombardeio, quando atacaram no sábado este centro médico em Kunduz.
Um bombardeio é legítimo apenas em caso de "eliminação de terroristas, proteção de soldados americanos em dificuldade e em apoio às tropas afegãs", explica o jornal. "Muito provavelmente" o ataque de Kunduz "não entra em nenhuma destas categorias", afirmou o general Campbell em declarações privadas divulgadas ao jornal por pessoas próximas a ele.
Pior ainda, as forças aericanas que realizaram este ataque não visualizavam o alvo que seus colegas afegãos pediam para atacar, segundo a mesma fonte. Para justificar o bombardeio, o exército afegão afirmou que havia talibãs dentro do estabelecimento de saúde.
Kunduz era uma cidade estratégica do norte do Afeganistão, perto da fronteira com o Tadjiquistão, que há alguns dias caiu nas mãos dos talibãs, antes de ser tomada pelas forças afegãs. Atualmente, "a maior parte" de Kunduz está sob o controle das tropas afegãs, afirma Campbell.
Mas o fato de os talibãs terem conseguido se apoderar desta cidade, embora brevemente, mostra as dificuldades enfrentadas pelas forças afegãs para conter os combatentes islamitas. O general Campbell, que reconhece esta situação, propôs reforçar o dispositivo militar americano depois de 2016.
Mas pelo momento os Estados Unidos preveem manter no Afeganistão apenas 1.000 soldados, contra 9.800 atualmente. Esta força se centraria na embaixada americana em Cabul.
Em seus 14 anos de presença no Afeganistão, Washington gastou 60 bilhões de dólares para constituir um exército nacional afegão. Mas apesar destes esforços o exército "não possui a capacidade de combate e as forças para proteger todas as regiões do país", disse Campbell.