Agência France-Presse
postado em 08/10/2015 08:24
Moscou, Rússia - A intervenção da Rússia na Síria entrou nessa quarta-feira (7/10) em uma nova fase com o início de uma vasta ofensiva terrestre do Exército sírio, revigorado pelos ataques lançados pela Força Aérea e pela Marinha russas. Nesse contexto, o presidente Vladimir Putin anunciou uma "intensificação dos ataques" aéreos, enquanto Washington denunciou que 90% dos ataques realizados até agora foram contra grupos armados sírios moderados, e não contra o Estado Islâmico (EI), ou a rede Al-Qaeda."O Exército sírio e forças aliadas iniciaram uma operação terrestre em partes do norte da província de Hama com cobertura da Força Aérea russa", declarou uma fonte militar à Agência France Presse (AFP).
[SAIBAMAIS]Esse forte envolvimento russo permitiu ao Exército sírio, após sucessivas derrotas para o EI nos últimos meses, lançar nessa quarta "uma ampla operação terrestre no norte da província de Hama", completou a mesma fonte de Damasco, consultada pela AFP. Os soldados sírios intervêm "com cobertura da Força Aérea russa", acrescentou.
De acordo com o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, pela primeira vez, navios de guerra russos atiraram 26 mísseis de cruzeiro contra posições do EI, somando-se à ofensiva aérea. Os disparos foram realizados por quatro navios da frota do Mar Cáspio contra 11 alvos, que "foram destruídos", destacou o ministro Shoigu.
Uma infografia publicada no site do Ministério russo da Defesa mostra os mísseis lançados do mar Cáspio, a quase 1.500 km de distância de seu alvo. Antes de chegar à Síria, os projéteis sobrevoam Irã e Iraque. Segundo análise da AFP, com base no mapa divulgado, os mísseis atingiram a região de Al Bab, na província de Aleppo, que está nas mãos do EI. Outros se dirigiram para o setor de Aleppo sob controle rebelde. Em uma semana, segundo ele, a Rússia bombardeou 112 alvos jihadistas.
De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), as forças russas bombardearam pelo menos quatro locais na província de Hama (centro), e três na de Idleb (noroeste). A província de Idleb está nas mãos do Exército da Conquista, uma coalizão rebelde composta pelo braço da Al-Qaeda na Síria e pela Frente Al-Nosra, que busca reforçar sua presença em Hama.
Os bombardeios, que aconteceram à noite e logo cedo de manhã, eram "mais intensos do que de costume", relatou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman. "Pela primeira vez, eles foram acompanhados de combates no terreno entre as forças do regime e os rebeldes", acrescentou Abdel Rahman.
O Observatório informou que houve pelo menos 30 ataques russos sobre Hama, e 16 sobre a província de Idleb. Além disso, completou a ONG, há um balanço de seis mortos em Maret al Noman, em Idleb, em um "dos inúmeros ataques, certamente russos".
Coordenação com Washington
Também hoje, a Rússia afirmou que poderá implementar propostas americanas para coordenar seus bombardeios com a coalizão internacional liderada por Washington para minimizar os riscos de incidentes. Moscou garantiu que está informando "seus sócios em países que têm vínculos com o Exército Sírio Livre sobre sua disposição para estabelecer contatos com a liderança dessa estrutura".
A este respeito, Putin também afirmou que seu colega francês, o presidente François Hollande, sugeriu uma aliança entre o regime sírio e a oposição do Exército Sírio Livre (ESL). A informação foi negada pela França. "Ele falou da necessidade da presença da oposição síria ao redor de uma eventual mesa de negociações. O resto não é uma ideia francesa", afirmou o gabinete de Hollande.
Mais cedo, em Roma, o secretário americano da Defesa, Ashton Carter, afirmou que os Estados Unidos não estão cooperando com os bombardeios da Rússia na Síria por considerá-los "basicamente um erro". "Já dissemos que acreditamos que a estratégia da Rússia é equivocada. Continuam bombardeando alvos que não são do grupo jihadista Estado Islâmico", afirmou.
O porta-voz do Departamento de Estado americano John Kirby denunciou nesta quarta-feira que "mais de 90% dos ataques (russos) que temos visto não foram contra o EI, ou contra terroristas da Al-Qaeda. Em sua grande maioria, foram contra grupos opositores".
Segundo Moscou, seus aviões bombardearam, ontem à noite, 12 alvos do EI nos arredores da cidade de Deir Ezzor (leste) e nas províncias de Damasco, Idleb e Latakia. O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, garantiu nesta quarta que "apenas dois dos 57 ataques aéreos russos foram dirigidos contra o Daesh [acrônimo do EI em árabe]".
Iniciado em março de 2011, o conflito sírio se tornou muito complexo, devido à multiplicação dos atores e com a participação de grandes potências. A guerra já deixou mais de 240.000 mortos e obrigou milhões de pessoas a fugir, causando uma grave crise humanitária e migratória.