A Turquia esfriou nesta sexta-feira (16/10) o entusiasmo da União Europeia, criticando seu plano de ação para frear o fluxo de migrantes, enquanto na fronteira búlgaro-turca um afegão morreu baleado por um guarda fronteiriço. Na noite de quinta-feira, ao término de uma cúpula europeia, a Comissão anunciou ter chegado a um acordo com a Turquia para um plano de ação destinado a frear a chegada de migrantes à União Europeia.
[SAIBAMAIS]Mas a Turquia considerou que se tratava apenas de um projeto. "Não é definitivo (...) é um projeto no qual estamos trabalhando", declarou o ministro das Relações Exteriores turco, Feridun Sinirlioglu, em Ancara nesta sexta-feira.
A Turquia se converteu no principal país de trânsito utilizado pelos migrantes que tentam chegar à Europa e a UE busca envolver Ancara para frear as chegadas. Segundo o plano apresentado pela Comissão, a Turquia aceitaria combater os traficantes de seres humanos, cooperar no controle das fronteiras da UE e frear a partida de refugiados sírios em direção à Europa.
Por sua vez, os líderes da União Europeia aceitaram acelerar o fim das restrições aos vistos para os turcos que viajam à Europa, abrir novos capítulos nas negociações de adesão ao bloco e dar mais fundos a Ancara para que possa enfrentar o problema, embora não tenham especificado quanto, informando que seria negociado nos próximos dias.
No entanto, para Ancara a proposta financeira de Bruxelas é inaceitável, segundo Sinirlioglu. A Turquia precisa de ao menos 3 bilhões de euros no primeiro ano, disse.
Ancara afirma que administrar a chegada ao seu território dos quase 2,2 milhões de refugiados desde o início do conflito na Síria lhe custou 7 bilhões de euros. "A Turquia não é um país que deve ser lembrado apenas em períodos de crise ou com o qual é preciso cooperar apenas por razões técnicas", disse Sinirlioglu.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, estimou na noite de quinta-feira que o acordo era "uma etapa maior" na gestão da crise migratória, que faz sentido "apenas se (a Turquia) contiver o fluxo de refugiados".
Afegão morto na Bulgária
Enquanto a cúpula era realizada, na noite de quinta-feira em Bruxelas, a crise migratória deixou mais um morto. Um afegão proveniente da Turquia que tentava entrar na Bulgária de maneira ilegal morreu baleado por um guarda fronteiriço búlgaro.
Segundo o escritório do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), trata-se do primeiro caso conhecido de tiro mortal das forças de segurança desde o início da afluência em massa de migrantes à Europa.
A vítima formava parte de um grupo de 54 migrantes localizados por uma patrulha em uma estrada próxima a Sredets (sudeste), perto da fronteira búlgara-turca, e foi atingido por uma bala disparada por um guarda fronteiriço, segundo as autoridades.
O grupo, que não obedeceu as ordens da polícia, não estava armado, acrescentaram. O presidente búlgaro, Rossen Plevneliev, lamentou a trágica morte e pediu uma ação rápida da UE para enfrentar a crise de refugiados.
Desde o início do ano 600.000 pessoas chegaram à UE e 3.000 morreram na tentativa, a maioria em perigosas travessias do Mediterrâneo. A crise migratória não provoca tensões apenas com países de origem ou trânsito dos migrantes, mas também entre os 28 membros da UE.
A Hungria anunciou nesta sexta-feira que à meia-noite (19h00 de Brasília) fechará sua fronteira com a Croácia, de onde entraram no último mês 170.000 solicitantes de asilo. Budapeste já havia fechado sua fronteira com a Sérvia em 15 de setembro para deter o fluxo de migrantes.