Cairo - Os egípcios votaram neste domingo (18/10) para eleger um Parlamento que, com quase toda certeza, consolidará o poder do presidente Abdel Fatah al-Sisi, em um cenário sem oposição, que foi duramente reprimida desde a destituição, em 2013, do presidente islamista Mohamed Mursi.
A votação para a eleição dos 596 membros do Parlamento acontece em duas fases e deve terminar em 2 de dezembro.
Na primeira fase votaram 14 das 27 províncias do país. Os egípcios residentes no exterior votaram no sábado.
Este será o primeiro Parlamento eleito desde que Al-Sisi, ex-comandante do exército, destituiu em 3 de julho de 2013 o então presidente, o islamita Mohamed Mursi. Em seguida, toda a oposição foi reprimida de maneira violenta, islamista, laica e liberal.
Quase todos os candidatos das legislativas apoiam o presidente, que foi eleito presidente em maio de 2014.
A única dúvida a respeito da votação é o índice de participação. De acordo com os analistas, o comparecimento às urnas permitirá saber se a grande popularidade - quase um culto à personalidade - de Al-Sisi, que encerrou brutalmente o efêmero poder civil da Irmandade Muçulmana, prossegue ou não em um país com graves problemas econômicos.
Desde a destituição de Mursi, as forças de segurança mataram mais de 1.400 manifestantes islamitas que exigiam o retorno de seu presidente, o primeiro eleito democraticamente no Egito.
Mais de 15.000 integrantes da Irmandade Muçulmana foram detidos. Centenas deles, como o próprio Mursi, foram condenados à morte em julgamentos sumários coletivos, criticados pela ONU.
Com a oposição erradicada pelo atual governo, o presidente não precisou fazer campanha. Abdel Fattah al-Sisi se limitou a pedir, no sábado, que os egípcios compareçam às urnas para garantir um alto índice de participação.
Sendo assim, estas eleições são celebradas sem qualquer tipo de oposição. Os principais cartazes que cobrem os muros da capital há alguns dias mostram apenas candidatos que apoiam o presidente Al-Sisi.
Além disso, nem o presidente nem seu governo tiveram que fazer campanha. Al-Sisi se limitou a exortar no sábado os egípcios a irem em massa às urnas para alcançar uma "participação alta".
O presidente desfruta, ainda, do apoio dos países ocidentais, que lhe vendem armas e material militar, pois estão convencidos, como ele mesmo afirma, de que ele é o principal muro de contenção na região contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI).
No entanto, o braço egípcio do EI, muito ativo na península do Sinai - na fronteira com a Faixa de Gaza e Israel - multiplica atentados sangrentos desde 2013, quase exclusivamente contra o exército e a polícia, em represália, segundo os jihadistas, à repressão sofrida pelos islamitas.
Por fim, todas as coalizões que se apresentam nas eleições apoiam Al-Sisi e contam, entre seus membros, com ex-líderes do dissolvido Partido Nacional Democrata (PND) de Mubarak ou ex-ministros deste. Outra coalizão importante é a Frente Egípcia, dirigida pelo partido de Ahmed Chafiq, último premiê de Mubarak.
O partido salafista Al Nur é o único islamita na disputa, mas também apoia Al-Sisi abertamente.
"Este Parlamento será frágil inútil, só serve para dizer que se celebram eleições legislativas", constatou um eleitor, Islam Ahmed, contador de 32 anos, ao passar em frente à seção eleitoral de Haram.