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Quatro anos após a morte de Kadhafi, sua herança ainda pesa sobre a Líbia

Morto em 20 de outubro de 2011, Kadhafi governou o país com mão de ferro depois de tomar o poder em 1969 por meio de um golpe de Estado, abolindo o regime monarquista

Agência France-Presse
postado em 20/10/2015 12:52
Quatro anos após a morte do ex-ditador líbio Muammar Kadhafi, seu legado ainda pesa sobre o país, assolado pela violência e lutas pelo poder e ainda à procura de uma unidade nacional. "Kadhafi construiu um Estado em torno de sua personalidade" durante as quatro décadas que passou no poder, explica Michael Nayebi-Oskui, especialista em Oriente Médio no centro de reflexão americano Stratfor.

Ele "usou o dinheiro do petróleo para financiar um aparato repressivo destinado a esmagar toda a oposição, ao invés de construir instituições sólidas do Estado que poderiam sobreviver a ele", afirma. "Vai levar anos ou décadas para que a Líbia possa construir uma identidade nacional", acredita o pesquisador.

Morto em 20 de outubro de 2011, após oito meses de conflito desencadeado por uma revolta popular, Kadhafi governou o país com mão de ferro depois de tomar o poder em 1969 por meio de um golpe de Estado, abolindo o regime monarquista até então apoiado pelo Ocidente.

Desde sua morte, o país, de estrutura predominantemente tribal, está mergulhado no caos com disputas entre grupos armados rivais e autoridades pelo poder, apesar dos esforços das Nações Unidas para formar um governo de unidade nacional.

Em agosto de 2014, a capital Trípoli caiu nas mãos de milícias, algumas das quais islâmicas, que estabeleceram uma autoridade rival à autoridade reconhecida pela comunidade internacional, forçada a fugir para o leste, em Tobruk. Aproveitando o vácuo político e a insegurança, o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) também se estabeleceu no país neste mesmo ano.

De A a Z
A Líbia também se tornou o playground favorito de traficantes sem escrúpulos, que organizam por enormes somas partidas para a Europa de milhares de migrantes, em sua maioria africanos, em embarcações frágeis,contribuindo para tornar o Mediterrâneo um vasto cemitério.

"Tudo o que Kadhafi deixou para trás é corrupto: política, economia, sociedade e até mesmo o esporte. As leis, as regras de funcionamento (impostas por Kaddhfi) precisam ser mudadas de A a Z", indica por sua vez uma autoridades do governo paralelo em Trípoli.


"Ele jogou tribos locais e grupos étnicos uns contra os outros, o que explica a dificuldade para os líbios de definir atualmente uma identidade nacional", analisa Nayebi-Oskoui.

Este especialista prevê que "o nome de Kadhafi permanecerá onipresente, particularmente por conta do julgamento de seus parentes e dos eventos relacionados a ele como o atentado de Lockerbie".

Na semana passada, magistrados escoceses identificaram dois novos suspeitos líbios no ataque contra um Boeing da Pan Am sobre Lockerbie em 1988 (270 mortos). O regime de Kadhafi tinha admitido sua responsabilidade pelo ataque e pagou US$ 2,7 bilhões em compensação às famílias das vítimas.

Para Nayeb-Oskoui, Kadhafi deixou para trás "uma nação fraturada" e "continuará a assombrar as mentes até que os 40 anos de caos possam ser superados". Além disso, a economia corre o risco de um colapso total caso o conflito atual continue, alertam as autoridades líbias.

Kadhafi fez do petróleo o principal motor da economia, mas as exportações caíram em mais da metade, a 400.000 barris por dia, devido ao caos em todo o país. E a ONU ainda não conseguiu fazer com que os protagonistas entrem em acordo para formar um governo de unidade nacional, apesar dos repetidos apelos da comunidade internacional para tirar o país da crise.

Nos muros de Tripoli, pichações do ex-ditador foram pintadas, uma delas representando-o em uma lata de lixo. Nesta terça-feira, os habitantes da capital deveriam se reunir no centro da cidade para comemorar o quarto aniversário da morte do homem que chegou a ser chamado de "o rei dos reis da África".

"Antes tínhamos medo de olhar para seu quartel-general", diz Ahmad, um vendedor de cigarros. "As coisas mudaram, é claro, mas esse medo, nós ainda sentimos cada vez que passamos em frente às muralhas e que nos fazem lembrar dele (Kadhafi). Levará gerações para que esse medo desapareça para sempre."

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