Agência France-Presse
postado em 20/10/2015 13:19
Dezenas de milhares de sírios abandonaram as regiões situadas ao sul da cidade de Aleppo, fugindo da ofensiva das forças governamentais, apoiada pela aviação russa, cujos bombardeios deixaram em três semanas mais de 370 mortos, em sua maioria rebeldes.Enquanto uma coalizão anti-jihadista liderada pelos Estados Unidos realiza ataques aéreos na Síria, o Pentágono anunciou nesta terça que Washington e Moscou assinaram um protocolo de acordo para evitar incidentes entre seus aviões que operam separadamente no céu sírio.
Reforçado pela intervenção militar aérea que a Rússia lançou no território sírio em 30 de setembro passado, o exército lançou várias ofensivas, particularmente nas províncias centrais de Homs e Hama e na nortenha Aleppo, sem conseguir até o momento abalar as forças rebeldes.
Segundo o Observatório Sírio de Defesa dos Direitos Humanos (OSDH), 100.000 pessoas tentavam fugir da ofensiva do exército. "Cerca de 35.000 pessoas foram deslocadas de Hader e Zerbé, a sudoeste da cidade de Aleppo, devido às ofensivas governamentais dos últimos dias", comunicou à AFP Vanessa Huguenin, porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, em inglês).
Muitas puderam se refugiar em localidades mais a oeste da província de Aleppo, indicou Huguenin. "As pessoas precisam urgentemente de alimentos, produtos básicos e tendas de campanha", acrescentou a porta-voz da OCHA, que ressaltou sua preocupação pelas numerosas famílias sem teto.
No dia 17 de outubro, as forças governamentais lançaram uma ofensiva apoiadas pela aviação russa e por tropas iranianas e do Hezbollah libanês. O objetivo da ofensiva é se apoderar das localidades situadas perto da estrada estratégica que une Aleppo com Damasco.
A província de Aleppo está quase totalmente nas mãos da Frente al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda, e seus aliados islamitas, ou de jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI). O governo só controla uma estrada que lhe permite abastecer os bairros ainda sob seu controle na cidade de Aleppo.
Segundo o militante Maamun al-Khatib, milhares de pessoas fugiram dos bombardeios russos e "temem que as milícias iranianas ataquem seus vilarejos". O envolvimento da Rússia no campo de batalha aumentou a complexidade do conflito.
A Rússia, que decidiu intervir no conflito sírio para apoiar o governo de Bashar al-Assad, afirma que os bombardeios têm como alvo o Estado Islâmico e outros grupos terroristas, ou seja, contrários ao poder. Mas os ocidentais acusam a Rússia de concentrar seus ataques contra as posições de grupos rebeldes classificados como moderados.
Em três semanas, "370 pessoas morreram em centenas de ataques russos, entre elas 243 combatentes, dos quais 52 do grupo Estado Islâmico, e 127 civis", afirmou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Entre os civis, figuram 36 crianças e 34 mulheres, acrescentou.
Os russos bombardeiam sobretudo as províncias de Aleppo e Idleb (noroeste), de Latakia (oeste), de Homs e Hama e a província de Damasco, controladas pelos rebeldes moderados ou pela Frente Al-Nosra. Na província de Latakia, a aviação russa matou na segunda-feira 45 pessoas, em sua maioria rebeldes, entre elas um comandante, mas também civis, na região montanhosa estratégica de Jabal Akrad, indicou o OSDH.
Nos combates morreram 16 milicianos das Forças de Defesa Nacional (FDN), principal milícia favorável ao regime de Assad, informou o OSDH. Por sua vez, o departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou que Washington e Moscou estão prestes a chegar a um acordo para evitar qualquer incidente entre suas respectivas aviações que operam separadamente no céu sírio.
Paralelamente, a Otan se declarou preocupada com o "risco de um incidente" aéreo na Síria entre a Rússia e a coalizão internacional, declarou nesta terça-feira Alexander Vershbow, secretário-geral adjunto da Aliança Atlântica.
"Os alvos das operações aéreas russas sobre a Síria e os da coalizão anti-Estado Islâmico (grupo jihadistas EI) não são os mesmos", o que "aumenta o risco de um incidente fora de controle", afirmou em uma coletiva de imprensa em Lisboa, à margem de um fórum reunindo a Otan e a indústria da defesa.
"Vamos discutir nas próximas semanas para ver se é necessário tomar medidas ou precauções adicionais para assegurar a integridade das fronteiras turcas", indicou.
Os Estados Unidos realizam na Síria, há mais de um ano e muito antes da intervenção russa, bombardeios contra o grupo jihadista Estado Islâmico. O conflito sírio, que se desencadeou em 2011, provocou a morte de mais de 250.000 pessoas, deixou quatro milhões de exilados e sete milhões de deslocados dentro do país.