Agência France-Presse
postado em 27/10/2015 13:31
Istambul, Turquia - Atacado pelos jihadistas e o governo, o Partido Democrático Popular (HDP), pró-curdo, foi forçado a uma campanha discreta para as eleições legislativas antecipadas na Turquia no domingo. Há cinco meses atrás, o carismático líder do HDP, Selahattin Demirtas, um advogado de 42 anos, fazia discursos para dezenas de milhares de pessoas entusiasmadas.
Desta vez, em um contexto difícil para o HDP devido ao fim da trégua entre o exército e os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), Demirtas se limita a um serviço mínimo. No domingo passado, por exemplo, o "menu" de campanha de Demirtas se limitou a um café da manhã com trabalhadores da construção civil, um almoço com estudantes e na hora do lanche da tarde um discurso para algumas centenas de partidários em Istambul.
[SAIBAMAIS]"É um período muito difícil para o nosso partido, temos de enfrentar o governo e o Daesh (sigla em árabe para Estado Islâmico)", explica Emin Ergin, um militante de 67 anos. "Eu sou curdo e conheci ditaduras, mas pela primeira vez em minha vida não estou tranquilo em sair e participar de um ato" de campanha, confessa Ergin.
O duplo atentado suicida em Ancara contra uma manifestação pró-curda em 10 de outubro, que deixou um saldo de 102 mortos, balançou a campanha do HDP, que já havia sofrido um primeiro ataque em Diyarbakir em 5 de junho. Após o ataque, o partido cancelou todos os eventos de massa e optou por organizar "encontros" em locais fechados, sob estritas medidas de segurança, incluindo cães farejadores para detectar bombas e evitar novas vítimas.
Depois do atentado jihadistas, Demirtas, um homem moderado, acusou o governo islâmico conservador turco de ter deliberadamente descuidado da segurança do ato e o presidente Recep Tayyip Erdogan de dirigir um "Estado assassino em série".
O governo e o HDP estão em uma disputa acirrada desde as eleições legislativas de 7 de junho, quando o partido de Demirtas conquistou 13% dos votos, 80 deputados e deixou o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) de Erdogan sem a maioria absoluta que tinha no Parlamento há 13 anos. Por sua vez, Erdogan e o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu acusaram o HDP de ser "cúmplice dos da montanha", referindo-se aos líderes militares do PKK.
Após o atentado de Suruç (sul) em julho, atribuído aos jihadistas, em que 34 jovens militantes da causa curda morreram, o PKK retomou os seus ataques contra o exército e a polícia da Turquia, símbolos de um Estado que negligencia a segurança da população curda.
Apesar de Demirtas afirmar repetidamente que o HDP não é "a vitrine política" do PKK, sua posição foi minada pelo aumento dos combates entre o exército e os guerrilheiros curdos. Os rebeldes o deixaram em uma posição desconfortável quando declararam uma trégua até 1; de novembro, a data das eleições, para não "prejudicar" a sua campanha.
Desde 1984, quando a rebelião curda começou, o conflito matou 40.000 pessoas. "Traidores da pátria, inimigos da nação. Observem que eles nunca falam de nós como adversários políticos", disse Demirtas, referindo-se ao governo. O governo "empurrou a Turquia para a beira da guerra civil", acrescentou. "Fala mal porque estão com inveja", considera Kenan Ozturk, de 24 anos, que apoia o HDP, acrescentando que "a árvore que dá fruto sempre acaba sendo apedrejada".
"Os outros políticos permanecem no passado. Selahattin Demirtas está próximo de nós", afirma por sua vez Rabia Aktürk, uma jovem militante de 22 anos.
Apesar de viver um momento difícil, o HDP espera confirmar o resultado de junho e, quem sabe, melhorar ainda mais. As pesquisas de opinião indicam uma intenção de voto entre 12% e 14%. Sob a liderança de Demirtas, o partido expandiu a sua base para além da defesa da autonomia curda e tornou-se uma formação de esquerda moderna "que defende todas as minorias" e se destaca como a "única alternativa real" ao AKP.
"Superaremos uma nova etapa", disse Demirtas, que no domingo pretende ultrapassar a barra dos 100 deputados.