Agência France-Presse
postado em 29/10/2015 11:33
As discussões para delinear um plano de saída para o conflito na Síria serão retomadas nesta quinta-feira (29/10) em Viena entre os chefes da diplomacia americana, russa, turca e saudita, aos quais se juntará o Irã.[SAIBAMAIS]Depois de um primeiro encontro na sexta-feira (23/10) passada em um palácio de Viena, uma reunião quadripartite entre os ministros das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, americano, John Kerry, saudita, Adel al-Jubeir, e turco, Feridun Sinirlioglu, está prevista para esta tarde (15h00 de Brasília) para discutir as perspectivas de uma solução para a guerra civil síria, que já matou mais de 250 mil mortos desde 2011.
Nesta sexta-feira (30/10), as discussões expandidas vão incluir outros chefes da diplomacia regionais e europeias, incluindo o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, o que marca uma grande virada diplomática desejada por Moscou, que apoia Damasco.
"A única maneira de encontrar uma solução para a crise síria é reunir o maior número de atores possível ao redor da mesa. Desta forma, a abertura de negociações, mesmo que seja apenas o começo, é uma coisa boa", observou um diplomata europeu. O Irã nunca havia participado de discussões internacionais sobre a resolução da crise síria.
Em 2012, Teerã não participou da conferência de Genebra-1 sobre a Síria, e seu convite para participar nas conversações-2 em 2014 foi retirado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, depois da oposição dos Estados Unidos e da Arábia Saudita.
O Irã xiita e a Arábia Saudita sunita - as duas grandes potências rivais na região - são abertamente opostos sobre a questão síria. Teerã fornece apoio financeiro e militar para o regime de Damasco, enquanto a Arábia Saudita apoia os rebeldes e participa nos ataques aéreos da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI).
A Rússia insiste desde o início do conflito na Síria sobre a participação do Irã. Mas o envolvimento de Teerã foi firmemente rejeitado pelos Estados Unidos antes da mudança surpresa na terça-feira de sua posição.
Nesta quinta-feira de manhã, já em Viena, o secretário de Estado americano John Kerry programou uma série de reuniões, principalmente com o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.
O desafio imposto "não é nada menos do que uma corrida contra o tempo para escapar do Inferno", declarou Kerry antes de embarcar para Viena. Essas discussões representam "a ocasião mais promissora para encontrar uma abertura política", considerou.
Teste para o Irã
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, e a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, também estarão em Viena, bem como os chanceleres libanês e egípcio.
Para a Arábia Saudita, essas negociações serão a ocasião de testar "a seriedade" do Irã e da Rússia na busca de uma solução negociada do conflito.
"O fato dos sauditas terem aceitado a presença dos iraniano já é significativo. E é por isso que podemos esperar alguma coisa desta reunião", afirmou Karim Bitar, diretor de pesquisa do Instituto francês de relações internacionais (IFRI), que não espera "um acordo definitivo", mas "o início de uma nova fase".
"Não espero avanços importantes nas discussões de Viena (...)" declarou, por sua vez, o secretário de Estado adjunto americano, Tony Blinken, de passagem à Paris. "É uma etapa para ver se podemos chegar a um acordo sobre a forma de uma transição política", explicou.
Favorável à presença do Irã em Viena, a França indicou ter consultado na terça-feira à noite seus aliados ocidentais e árabes sobre as "modalidades de uma transição política garantindo a saída de Bashar al-Assad". O destino do presidente sírio Bashar al-Assad continua a dividir Washington e Moscou.
Washington e seus parceiros acusam a Rússia, que lançou em 30 de setembro de uma campanha de bombardeios aéreo na Síria, de querer salvar o chefe de Estado sírio, enquanto Moscou afirma intervir contra o "terrorismo".
No terreno, o exército russo anunciou na quarta-feira que bombardeou 118 alvos "terroristas" nas últimas 24 horas, de uma intensidade sem precedentes.