Buenos Aires, Argentina - A candidatura presidencial do opositor de direita Mauricio Macri ganhou um novo impulso para o segundo turno de 22 de novembro na Argentina, depois que o líder da terceira força política do país, Sergio Massa, descartou apoiar o governista Daniel Scioli.
Macri desfruta, ainda, do efeito da surpreendente enxurrada de votos que conseguiu no domingo e que o deixou apenas dois pontos e meio atrás de Scioli, a quem todos atribuíam uma vantagem de oito pontos e que, apesar de ter sido o mais votado, foi o grande derrotado nas eleições.
"Eu não quero que vença", disse, sem rodeios, o ex-candidato à Presidência Sergio Massa na quarta-feira à noite, em entrevista à televisão, quando consultado se desejava a vitória de Scioli.
Horas antes, sua aliança, UNA, que obteve no domingo 21% dos votos, se expressava com ambiguidade com relação à sua posição com vistas ao segundo turno, ao dizer que apoiaria o candidato que melhor atenda às propostas deste espaço.
Seus votos serão cruciais na definição do segundo turno depois que Scioli, como candidato do governista Frente para a Vitória, alcançou no domingo 36,86% dos votos, e Macri, da coalizão Cambiemos (Mudemos), 34,33%, um resultado muito apertado que nenhuma pesquisa antecipou.
"No intervalo que resta até o dia 22, vamos ver os candidatos tentando capturar o que chamam de ;votos de Massa; e os votos não são de Massa, são de cada cidadão", disse nesta quinta-feira, referindo-se a si mesmo em terceira pessoa o deputado e ex-chefe de gabinete de Cristina Kirchner, que saltou à oposição com seu partido, Frente Renovadora (peronismo de centro direita).
Massa, no entanto, insistiu em pedir "uma mudança na Argentina", algo que muitos leram como um aceno à aliança de Macri, nomeada Cambiemos, e que apregoa uma ruptura com o kirchnerismo, no poder há 12 anos.
Reduto-chave
Enquanto a dúvida for a respeito dos votos de Massa, o cientista político Carlos Fara avalia que "o verdadeiro empurrão para a candidatura de Macri está na vitória que obteve na província de Buenos Aires", onde Scioli governa desde 2007.
Nesta província do tamanho da Itália, com quase 16 milhões de habitantes, a candidata de Macri, María Eugenia Vidal, derrotou Aníbal Fernández, chefe de gabinete de Kirchner, dando-lhe um golpe mortal neste reduto do peronismo há quase três décadas.
"Se o kirchnerismo tivesse ganhado ali, teríamos alguma dúvida sobre o cenário que vem. Mas à luz dos fatos não há muita alternativa a que Macri não vença no segundo turno", disse Fara à AFP.
Em sua opinião, o espaço de Massa deu sinais de um apoio a Macri. "A grande maioria de eleitores de Massa defendia a mudança e não a continuidade, não fez mais que sintonizar com seu eleitorado".
O cientista político Gustavo Córdoba avaliou que "no domingo houve um forte chamado de atenção e não tanto mérito de Mauricio Macri. Houve uma subestimação do cenário político de parte da situação", disse.
Assim como Fara, acredita que "em todo caso, o mérito de Macri é ter lançado Vidal em (a província de) Buenos Aires".
Pablo Knopoff, sociólogo e diretor da consultora Isonomia, também atribuiu um peso fundamental a este triunfo, mas adverte que a sorte não está perdida para Scioli.
"Na Argentina nunca é tarde, sempre há algo de imprevisibilidade", advertiu.