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Talibãs e chefes de guerra apedrejam mulher afegã por adultério

O apedrejamento é um castigo previsto pela lei islâmica para mulheres ou homens casados que mantiveram relações sexuais extraconjugais

Agência France-Presse
postado em 03/11/2015 09:18
Talibãs e chefes de guerra apedrejaram uma mulher no Afeganistão por ter tentado fugir com seu amante. Um vídeo que está circulando nas redes sociais mostra a cena de apedrejamento, que ocorreu há uma semana, em Ghalim, zona montanhosa e desértica da província de Ghor, informou a governadora Sima Joyenda à AFP.

Joyenda é uma das duas mulheres à frente de uma das 34 províncias do Afeganistão, onde a sociedade é muito patriarcal. No vídeo, se vê uma mulher de pé em um buraco cavado no chão, apenas com a cabeça para fora.

Um homem vestido de negro pega uma pedra e joga contra ela, e é seguido por outros três companheiros. Um deles a manda rezar a shahada, a profissão da fé islâmica. Abdul Hai Katebi, porta-voz da governadora, assegurou à AFP que o vídeo é autêntico.

A vítima, chamada Rojsahana, "foi apedrejada por dignitários religiosos e chefes de guerra irresponsáveis", reagiu Sima Joyenda. Segundo ela, Rojsahana, que teria entre 19 e 21 anos, foi casada com um homem contra sua vontade e resolveu fugir com um rapaz de sua idade.



A chefe da província condenou o assassinato e pediu que o governo central de Cabul faça uma limpeza nesta zona sob controle talibã. "É o o primeiro incidente deste tipo na região e não será o último. As mulheres têm dificuldade em todo o país e em particular em Ghor", uma província muito pobre, explicou Joyenda. O chefe da polícia de província, Mustafá Mohseni, confirmou que esta foi a primeira lapidação na região este ano.

Precedente de Farjunda
O apedrejamento é um castigo previsto pela lei islâmica para mulheres ou homens casados que mantiveram relações sexuais extraconjugais. Esta pena era aplicada quando os talibãs dirigiam o Afeganistão (1996-2001), mas é pouco frequente nos países muçulmanos. Os talibãs defendem uma interpretação rigorosa da sharia, a lei islâmica, o que agora é ilegal.

No final de setembro, quando os insurgentes islamitas ocuparam a grande cidade de Kunduz, no norte do Afeganistão, durante três dias, várias mulheres asseguraram à Anistia Internacional (AI) que os talibãs haviam cometido "estupros em grupo".

Algumas ativistas acreditam que a situação das mulheres no país não progrediu desde o final do regime talibã em 2001, apesar de o presidente Ashraf Ghani ter convertido esta causa em uma das prioridades de seu mandato.

A morte este ano de Farjunda, uma jovem linchada em Cabul por uma multidão que a acusava, injustamente, de ter queimado um exemplar do Corão, o livro sagrado muçulmano, demonstra isso. A polícia estava presente e não fez nada para impedir os acontecimentos.

Nos últimos anos, "o governo não agiu para impedir ações como as que resultaram na morte de Farjunda e de Rokhsahana, enfatiza Hasina Sarwari, uma defensora dos direitos humanos das mulheres em Kunduz. "Quatorze anos depois do fim do regime talibã, ainda é difícil fazer com que nossos direitos sejam respeitados", conclui.

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