Agência France-Presse
postado em 05/11/2015 13:35
Atenas, Grécia - Uma nova tragédia migratória no Mar Egeu custou a vida de duas crianças nesta quinta-feira (5/11), provocando uma mobilização na ilha de Lesbos "pelo fim dos afogamentos" no mar entre a Turquia e a Grécia, uma zona que permanecerá sob tensão com 600.000 novas chegadas esperadas até fevereiro.Além disso, a Marinha espanhola resgatou nesta quinta-feira (5/11) cerca de 500 migrantes que tentavam chegar à Europa a bordo de um barco pesqueiro pelo litoral líbio. Os 517 migrantes, entre eles 40 mulheres, 33 crianças e dois bebês, se encontravam em condições precárias em um velho pesqueiro à deriva, explicou a fonte em um comunicado.
Desde o início do ano, mais de 750 mil migrantes cruzaram o Mediterrâneo para chegar à Europa, segundo cifras da Organização Internacional para as Migrações. Mais de 3.400 morreram durante a travessia, segundo a mesma fonte.
Neste contexto, a Comissão Europeia estimou que quase três milhões de pessoas chegarão à União Europeia (UE) entre 2015 e 2017, fugindo da guerra e da pobreza.
"Quase três milhões de pessoas adicionais chegarão à UE no período", afirma a Comissão nas previsões econômicas de outono (hemisfério norte), nas quais considera que o fluxo ter uma impacto "leve mas positivo" na economia do bloco.
Mas, de imediato, as perdas humanas continuam a aumentar. Uma menina e um menino se afogaram durante a noite quando o bote em que viajavam com suas famílias a partir da Turquia afundou perto da ilha grega de Kos. O mau tempo na região provocou a morte de cerca de 90 migrantes, em sua maioria crianças, desde a semana passada.
O corpo da menina foi recuperado, mas o do menino, de seis anos, ainda está sendo procurado. O pai das crianças, um dos 14 sobreviventes do naufrágio, afirmou às equipes de resgate que não conseguiu salvar os filhos e abandonou os corpos para ajudar outros passageiros.
"Um crime é cometido no Mar Egeu, que deve ser parado", reagiu o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, que visitava com o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, a ilha de Lesbos, mais ao norte, a principal porta de entrada dos exilados na Europa.
O primeiro-ministro instou a UE a "entrar imediatamente em acordo com a Turquia para impedir o fluxo, agindo contra os traficantes". Ele também reiterou seu pedido para que o registro e seleção dos refugiados elegíveis para o exílio na UE seja organizado na Turquia, "para que ninguém arrisque sua vida no Mar Egeu".
"O Egeu está repleto de cadáveres de migrantes, europeus assassinos dos povos", acusava uma faixa pendurada na prefeitura da ilha por um grupo de manifestantes.
Êxodo positivo para o crescimento Outros ativistas, vestindo coletes salva-vidas - símbolo do êxodo e seus perigos - também exigia que um acesso seguro na Europa seja oferecido aos migrantes durante uma manifestação no campo de registro e seleção (chamado de "hotspot") de Moria, onde Tsipras e Schulz estavam.
"Abram as portas, fim aos afogamentos", exortavam seus cartazes, repetindo as chamadas que se multiplicam na Grécia em favor da abertura de uma passagem na fronteira terrestre greco-turca, onde uma cerca foi erguida em 2012.
Tsipras descartou a possibilidade de um tal gesto em nome de uma "gestão responsável" dos fluxos.
A Comissão Eruopeia prevê a chegada de um milhão de pessoas em 2015, 1,5 milhão em 2016 e meio milhão em 2017. Estas chegadas são traduzidas por um aumento da população do bloco de 0,4%, uma vez que as solicitações de asilo sejam aceitas.
Este movimento, "existirá um impacto sobre o crescimento econômico que poderia ser leve, mas positivo para a UE em seu conjunto, e aumentar o PIB em entre 0,2% e 0,3% em 2017", afirmou o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici, em uma entrevista coletiva.
Esta avaliação "vai de encontro a muitas ideias", declarou Moscovici num momento em que os membros da UE não se entendem sobre a partilha dos migrantes.
A avaliação leva em consideração os gastos públicos adicionais, assim como o aporte da mão de obra adicional no mercado de trabalho, segundo Moscovici.
Também nesta quinta-feira (5/11), a ONU revisou em alta a previsão da chegada de migrantes à Europa e prevê a entrada de mais 600.000 pessoas em quatro meses, procedentes da Turquia.
"Entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) antecipa que podem acontecer, em média, 5.000 chegadas por dia a partir da Turquia, provocando um total de 600.000 chegadas a Croácia, Grécia, Sérvia, Eslovênia e a ex-república iugoslava da Macedônia", afirma um comunicado.
A Alemanha igualmente informou nesta quinta-feira que o país registrou a entrada de 181.166 migrantes em outubro, um número recorde, que eleva a 758.473 o total desde o início do ano.
Para tentar limitar as travessias do Mediterrâneo, a UE tentará obter dos países africanos um maior esforço para o controle de fluxo durante a cúpula de La Valette, prevista para Malta entre os dias 11 e 12 de novembro.