Agência France-Presse
postado em 09/11/2015 08:50
Zagreb, Croácia - A vitória apertada da oposição nas legislativas da Croácia, sem obter a maioria absoluta no Parlamento, abre um período de instabilidade em um país afetado pela recessão econômica e a crise dos refugiados.[SAIBAMAIS]Com 99% dos votos apurados, a Coalizão Patriótica - uma aliança opositora conservadora liderada pela União Democrática Croata (HDZ) - obteve 59 cadeiras de 151, superando por apenas três deputados a a coalizão no poder, liderada pelo atual primeiro-ministro Zoran Milanovic.
A aliança de centro-esquerda ("Croácia está crescendo"), de Milanovic, conquistaria 56 cadeiras. A surpresa da eleição foi o Partido Most (ponte, em croata), com 19 parlamentares, e que será fundamental para formar o governo. Das 17 cadeiras restantes, oito correspondem às minorias nacionais e nove serão divididas entre os outros partidos.
O primeiro-ministro Milanovic, de 49 anos, convidou o partido Most ao diálogo para formar uma maioria governamental. Mas durante a campanha eleitoral o Most garantiu que não faria aliança nem com a esquerda, nem com os conservadores, promessa repetida no domingo pelo líder do partido, Bozo Petrov.
Ao mesmo tempo, o líder da oposição Tomislav Karamarko, aclamado por seus seguidores, disse que seu partido está "aberto à cooperação com todos os que desejam lutar por uma vida melhor na Croácia".
Segundo a Constituição, o chefe de Estado designa o primeiro-ministro depois de consultar os partidos com representação no Parlamento e entre os deputados do partido que demonstrar ter obtido a maioria.
O surgimento do Most demonstra que os eleitores "não querem um sistema de dois partidos, nem uma direção política que começa a formar um mundo à parte, longe do povo", explicou o analista independente Davor Gjenero.
Reformas difíceis
Para Milanovic, o surgimento da crise migratória em meados de setembro, quando a Croácia viu 300.000 refugiados atravessarem seu território em direção à Europa ocidental, acabou desviando o foco do governo da implementação de reformas indispensáveis para a reativação da economia.
"O governo teve a sorte de ver como essa crise deixou em segundo plano o restante dos temas do debate eleitoral", apontou Djenero.
O atual primeiro-ministro demonstrou empatia com os migrantes, mas também firmeza com os países vizinhos, como a Hungria, que teve sua decisão de fechar a fronteira condenada. Outra crítica foi direcionada à Sérvia, por seu modo de administrar a crise, enquanto anunciava que sua prioridade era proteger os investimentos nacionais da Croácia.
A oposição e seu líder Tomislav Karamarko, que fizeram uma campanha eleitoral baseada principalmente na retórica nacionalista, também tentaram se concentrar na temática dos migrantes, mas sem muito sucesso.
Em Zagreb, durante um evento eleitoral do SDP, os assistentes armados de bandeiras croatas se mostraram preocupados com o futuro econômico da ex-república iugoslava.
As dificuldades econômicas da Croácia perduram. O desemprego alcançou em setembro 16,2% da população ativa e 43,1% entre os jovens, enquanto que a dívida pública alcançou quase 90% do PIB, o que faz da economia croata uma das mais pobres da União Europeia.
Embora o PIB tenha melhorado nos três primeiros trimestres de 2015, os analistas indicam que os dois principais candidatos nas eleições legislativas não ofereceram soluções concretas para reativar de maneira eficaz a economia, nem para resolver o problema de uma administração ineficaz.