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Sobrinhos de Nicolás Maduro são acusados de contrabando drogas nos EUA

A pena máxima para tais crimes é a prisão perpétua, esclareceu o promotor de Manhattan, Preet Bharara

Agência France-Presse
postado em 13/11/2015 07:21
New York, EUA - Dois sobrinhos da primeira-dama da Venezuela, Cilia Flores, esposa do presidente Nicolás Maduro, foram acusados na quinta-feira (12/11), em Nova York, de conspirar para introduzir cocaína nos Estados Unidos, um caso que ameaça complicar ainda mais as relações entre Washington e Caracas.

[SAIBAMAIS]Efraín Antonio Campo Flores, de 29 anos, e Francisco Flores de Freitas, de 30, foram apresentados ao juiz James Cott, do tribunal federal de Manhattan, em uma breve audiência de cinco minutos, comprovou a Agência France Presse (AFP) no local.

Os dois permaneceram sentados e em silêncio, enquanto escutavam as acusações de planejar o tráfico aos Estados Unidos de "cinco quilogramas e mais de misturas e substâncias contendo uma quantidade detectável de cocaína" e de ter "participado de reuniões na Venezuela relacionadas com uma carga de cocaína que devia ser enviada aos Estados Unidos, através de Honduras".

A promotoria fala ainda de "conspiração" para "produzir e distribuir" uma substância proibida, na qual estavam envolvidas "outras pessoas conhecidas e desconhecidas". A pena máxima para tais crimes é a prisão perpétua, esclareceu o promotor de Manhattan, Preet Bharara.

Campo Flores e Flores de Freitas são filhos de dois irmãos da primeira-dama venezuelana, confirmou à AFP em Caracas uma fonte da Assembleia Nacional (AN), que pediu para ter sua identidade preservada. O primeiro deles identificou-se perante as autoridades americanas como filho adotivo de Maduro, segundo o The Wall Street Journal, o primeiro a reportar a história.

Os dois venezuelanos, detidos na terça-feira (10/11) em um hotel de Porto Príncipe, capital do Haiti, foram entregues às autoridades americanas. O porta-voz da polícia haitiana confirmou a detenção, mas não deu detalhes sobre apreensão de drogas ou dinheiro e posse dos dois venezuelanos.

O caso ameaça aprofundar a crise nas relações entre Washington e Caracas - sem embaixadores desde 2010 - a três semanas das eleições legislativas que, segundo prognósticos, serão adversas para Nicolás Maduro (52) e Cilia Flores (59), candidata a deputada pelo partido governista.

Em Genebra, Maduro denunciou nesta quinta-feira o "assédio permanente" e a "manipulação do tema dos direitos humanos" para tentar "isolar" a Venezuela.

O presidente tomou a palavra ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU, momentos depois de o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid al Hussein, manifestar "sérias preocupações" sobre a "imparcialidade dos juízes e promotores na Venezuela".

Fracasso contra as drogas
Em setembro, o Departamento de Estado americano determinou que a Venezuela, juntamente com Mianmar e a Bolívia "fracassaram claramente" na luta antidroga no último ano.

As autoridades americanas avaliam que mais da metade das drogas produzidas na Colômbia passa pelo território venezuelano antes de seguir para a América do Norte e a Europa e também suspeitam que altos comandos das Forças Armadas e o governo venezuelano estão envolvidos na lavagem de dinheiro vinculado ao narcotráfico, segundo o The Wall Street Journal.

Entre as personalidades investigadas estava o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, número dois do partido da situação da Venezuela.

Caracas interpretou as denúncias como uma tentativa de Washington de minar o governo de Maduro, líder da "revolução socialista" fundada pelo falecido presidente Hugo Chávez. "Quem se mete com Diosdado (Cabello), se mete comigo. Vamos defender Diosdado", afirmou Maduro na época.

"Primeira combatente"

Até agora as acusações não tinham chegado ao círculo mais próximo do presidente venezuelano, que enfrenta uma importante queda de popularidade em meio a uma grave crise econômica, a poucas semanas das decisivas eleições legislativas.

Primeira-dama da Venezuela desde que Maduro assumiu a presidência em abril de 2013, após a morte de Hugo Chávez, Flores ocupou os postos mais altos do movimento chavista e do Estado venezuelano.



Batizada de "primeira combatente" por seu marido, a quem conheceu em 1992 quando era defensora de Chávez, após uma tentativa de golpe, Cilia Flores chegou a ser presidente do Parlamento e procuradora.

Nesta quinta-feira, o ex-candidato presidencial e líder opositor Henrique Capriles desafiou Maduro a explicar o caso: "sobre os detidos, esperamos uma versão oficial, a chancelaria deve informar por que estes cidadãos têm passaporte diplomático, o governo é obrigado a prestar contas ao país".

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