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Campanha começa na Venezuela com escândalo por prisão de parentes de Maduro

Dois sobrinhos de Maduro foram presos na última terça-feira no Haiti com cinco kg de cocaína e foram levados para Nova York

Agência France-Presse
postado em 13/11/2015 18:47
Caracas, Venezuela - A campanha para as eleições legislativas de 6 de dezembro começou nesta sexta-feira na Venezuela em um ambiente marcado pela detenção, nos Estados Unidos, de dois familiares do presidente Nicolás Maduro e com o governo e a oposição reivindicando seu favoritismo.

A contenda começou com diversos atos e a expectativa de uma reação de Maduro à captura de dois sobrinhos de sua esposa, Cilia Flores, na terça-feira passada no Haiti, de onde policiais da agência americana antidrogas (DEA) os levaram a Nova York. Ali, foram acusados de conspirar para introduzir 5 quilos de cocaína nos Estados Unidos.

Três dias depois da detenção de Efrain Campo e Francisco Flores - filhos de irmãos da primeira-dama e importante figura da situação - nenhuma autoridade venezuelana tinha comentado o caso, que abriu uma nova frente às vésperas das eleições em que a oposição ameaça levar a maioria legislativa pela primeira vez em 16 anos de governo chavista.

Em meio a este silêncio, a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) - à qual várias pesquisas dão vantagem de 14 a 31 pontos - reivindicou uma investigação dos fatos, concretamente para determinar porque Campo (30 anos) e Flores (29) supostamente estavam com passaportes diplomáticos.


"Aqui há um caso que escandaliza toda a nação (...) e deve haver uma resposta. Queremos que haja uma investigação imediata", disse a jornalistas Jesús Torrealba, secretário-geral da MUD.

Resistência à observaçãoNos últimos dias, o governo Maduro - que assegura ter 40% dos votos - se viu na defensiva diante das críticas do secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, pela negativa da autoridade eleitoral em aceitar uma missão de observação deste organismo.

Para Almagro, as condições em que se celebram as eleições "não estão neste momento garantidas em nível de transparência e justiça eleitoral".

Por causa disso, o número dois do chavismo e presidente da Assembleia Legislativa, Diosdado Cabello, chamou Almagro de porta-voz da oposição.

Por enquanto, só a União de Nações Sul-americanas (Unasul) participará das eleições como acompanhante, embora esta missão tampouco seja isenta de polêmica.

Um de seus integrantes, o Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) brasileiro, se pôs de lado da missão da Unasul, ao denunciar um suposto veto das autoridades venezuelanas a que seu titular, Nelson Jobim, presidisse a comitiva.

"Mantém-se a resistência a uma observação propriamente dita", disse à AFP a cientista política Elsa Cardozo, professora das universidades Simón Bolívar e Católica, para quem a campanha que começa é uma das que "gera mais expectativa e tensão na Venezuela e no exterior por sua complexidade para o governo e o desafio que representa para a oposição".

Maduro, cuja popularidade chega a 25%, segundo as consultorias Datanálisis e Venebarómetro, assegura que "vença quem vencer", respeitará os resultados das eleições e, inclusive, propôs um diálogo nacional com quem for vitorioso.

No entanto, advertiu que "a revolução não será entregue jamais" e que o chavismo levará a vitória em 6 de dezembro "como for", sem aprofundar estas afirmações.

Popularidade em quedaMaduro, herdeiro político do falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013), viu caírem sua popularidade e aprovação caírem em meio a uma profunda escassez de produtos básicos e uma inflação que o governo situa em 85% este ano e analistas estimam em 200%, fruto da queda dos preços do petróleo e do déficit fiscal próximo dos 20 pontos do PIB, que as autoridades enfrentaram emitindo dinheiro sem o apoio nas reservas.

O presidente atribui a crise a uma "guerra econômica" de empresários de direita, orquestrados com os Estados Unidos, mas seus críticos a vinculam a políticas como o ferrenho controle de preços e o monopólio das divisas.

Durante as últimas semanas, o governo elevou o salário mínimo em 30%, concedeu 110.000 pensões e multiplicou a entrega de residências e veículos subsidiados, além de concretizar uma importação de artigos natalinos por 50 milhões de dólares.

Sem rostos conhecidos após a prisão de figuras como Leopoldo López e a inabilitação de outros como María Corina Machado, a oposição parece estar capitalizando o descontentamento pela deterioração econômica.

"Mesmo quando boa parte do caminho já está percorrido, o objetivo daqui para frente será ganhar votos neste setor pouco comprometido" com o governo ou a oposição, afirmou Cardozo.

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