Agência France-Presse
postado em 16/11/2015 17:08
Paris, França - Jovens ativos em sua maioria, trabalham com publicidade, música e comunicação. Os atentados jihadistas de Paris golpearam uma juventude moderna, intelectual e festeira, rapidamente denominada de "Geração Bataclan".Os atentados deixaram ao menos 129 mortos e 350 feridos. Salvo Manuel Colaco Dias, um português de 63 anos que morreu nas proximidades do Stade de France, as demais vítimas faleceram no noroeste de Paris, uma zona popular em vias de aburguesamento, onde ainda se misturam imigrantes e hipsters.
A maioria morreu na casa de espetáculos Bataclan, onde assistia ao concerto de um grupo de rock californiano, quando irromperam seus agressores. As demais vítimas bebiam com amigos, comemoravam aniversários e jantavam nos cafés e restaurantes do bairro.
Para o jornal de esquerda Libération, que falava em sua primeira página, nesta segunda-feira (16/11), da "Geração Bataclan", essa juventude se distinguia por sua "abertura cultural, costumes liberais e certo cosmopolitismo".
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, retomou essa expressão. "No fundo, (os falecidos) são uma Geração Bataclan", declarou.
A maioria das vítimas tinha entre 25 e 45 anos e muitos trabalhavam no mundo da música, como Thomas Ayad (32 anos), produtor da gravadora Mercury Records, Guillaume Decherf (43 anos), colaborador da revista Les Inrockuptibles, e Grégory Fosse (28 anos), programador musical de um canal televisivo.
Outros eram diretores de cinema (Maxime Bouffard, de 26 anos), professores de artes plásticas (Alban Denuit, de 32 anos) e trabalhavam em uma agência de publicidade (Fabrice Dubois, de 46 anos).
Muitas profissões intelectuais, nem sempre bem pagas, que talvez o tenham feito ganhar o apelido de "bubo" (junção de burguês com boêmio), um término nascido no início dos anos 2000 para descrever uma categoria da população que geralmente vota em partidos de esquerda e defende valores humanistas e ecológicos.
[SAIBAMAIS] ;Cosmopolita;As vítimas também pareciam compartilhar outra característica: sua sociabilidade. Thierry Hardouin, um policial de 36 anos, era um "bon vivant", um "homem alegre e profissional", segundo um ente próximo. Esse é um retrato similar ao de David Perchiron e Cédric Mauduit, dois amigos que faleceram juntos no Bataclan, asseguram antigos companheiros de classe.
Para a prefeita socialista da capital francesa, Anne Hidalgo, os jihadistas desafiaram "o que mais odeiam: a vida cosmopolita, generosa, insubmissa e barulhenta de Paris em (...) bairros onde convivem todas as gerações, todas as línguas e todas as culturas".
Há cerca de 20 estrangeiros entre os falecidos, como Halima Ben Khalifa Saadi, uma tunisiana de 34 anos residente no Senegal, que havia se unido à irmã mais velha, Hodda, para comemorar um aniversário em Paris.
Kheireddine Sahbi, um violinista argelino de 29 anos, voltava para casa, depois de uma noite com os amigos, quando foi baleado. "Sobreviveu a 10 anos de terrorismo" na Argélia, contava, ressentido, um de seus primos.
Franceses e estrangeiros, muitos deixam para trás companheiros e filhos. Mohamed Amine Ibnoumoubarak, um arquiteto marroquino, morreu diante de sua mulher, Maya Nemeta, que sofreu uma ferimento grave em uma perna.
Na sexta-feira, Elsa Delplace, de 35 anos, assistia ao concerto do Eagles of Death Metal com sua mãe, Patricia San Martín, uma chilena de 55 anos, e o filho de cinco anos. O menino foi o único sobrevivente dos três.