Agência France-Presse
postado em 17/11/2015 10:58
A França realizou nesta terça-feira (17/11) mais 100 operações em todo o país e bombardeou novamente um reduto sírio do Estado Islâmico (EI) em sua guerra declarada aos jihadistas após os atentados de Paris. Uma batalha em todas as frentes, incluindo a diplomática. O presidente François Hollande recebeu nesta terça-feira o secretário de Estado americano, John Kerry, e viajará na próxima semana a Washington e Moscou para debater com os colegas Barack Obama e Vladimir Putin a formação de uma coalizão contra o EI na Síria.[SAIBAMAIS]Na embaixada americana, iluminada com as cores da bandeira francesa, Kerry destacou a "determinação" dos dois países de "combater e derrotar juntos" os "monstros psicopatas" do EI. A União Europeia (UE) garantiu apoio unânime ao pedido de ajuda militar da França, que advertiu que "não pode estar sozinha nos cenários de operações" contra os jihadistas.
A França participa na coalizão internacional antijihadista liderada pelos Estados Unidos no Iraque e na Síria. Neste último país, os caças franceses atacaram pela segunda noite a cidade de Raqa (norte), reduto do EI, onde, segundo as autoridades, destruíram um centro de comando e um campo de treinamento. As operações devem ser intensificadas com a chegada à região do porta-aviões francês "Charles de Gaulle", que zarpará na quinta-feira para a Síria e Líbano com 26 caças a bordo, o que triplicará a capacidade de ação.
Cúmplices na Bélgica e na França?
Na França, as forças de segurança prosseguem com as operações, que chegaram a 128 nas últimas horas, dentro do estado de emergência decretado após os atentados, anunciou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve. Na noite anterior foram 168 ações.
A investigação sobre os atentados que deixaram pelo menos 129 mortos e 350 feridos na sexta-feira à noite na casa de espetáculos Bataclan, nos arredores do Stade de France e em vários bares e restaurantes em Paris conseguiu identificar cinco dos sete homens-bomba.
Mas a busca do possível oitavo autor dos atentados, Salah Abdeslam, continua, assim como a identificação dos restos mortais de outros dois terroristas suicidas. Abdeslam passou por um posto de controle em 9 de setembro na Áustria, anunciou o ministério do Interior de Viena.
A identidade do francês foi verificada em um controle de rotina em Haute-Autriche, pouco depois dele atravessar a fronteira com a Alemanha de carro, ao lado de outros dois homens, segundo o ministério. "Ainda não sabemos se há cúmplices do massacre na França ou na Bélgica", afirmou o primeiro-ministro francês Manuel Valls, antes de reconhecer que as autoridades não têm certeza sobre o número de pessoas envolvidas.
Os atentados foram "decididos e planejados na Síria, preparados e organizados na Bélgica e executados na França, com cúmplices franceses", afirmou Hollande na véspera.
Os homens-bomba identificados até o momento são franceses, mas o quinto tinha um passaporte sírio, que ainda precisa ter a autenticidade comprovada. O documento, em nome de Ahmad al-Mohammad, foi registrado na Grécia em posse de um migrante, cujas impressões digitais seriam compatíveis com as do terrorista, segundo algumas fontes da promotoria de Paris. Mas uma fonte próxima à investigação disse que o nome no passaporte sírio encontrado ao lado de um dos homens-bomba também pode ser o de um soldado sírio morto há vários meses.
O passaporte em nome Ahmad al-Mohammad, nascido em 10 de setembro de 1990 em Idleb (noroeste da Síria), corresponderia ao de um soldado das tropas leais ao presidente sírio Bashar al-Assad, segundo a fonte, que cita duas hipótese: o documento foi recuperado ou se trata de um passaporte fabricado a partir de uma identidade verdadeira.
O documento foi apresentado por um imigrante na ilha grega de Leros em 3 de outubro. A polícia também investiga um jihadista belga que viveria na Síria, Abdelhamid Abaaoud, e não descarta que ele tenha sido o "inspirador" dos atentados. Abaaoud, de 28 anos, apareceu em vários vídeos de propaganda do EI, incluindo um no qual arrasta cadáveres com um jipe.
Na segunda-feira, a Bélgica elevou a 3 o nível de alerta terrorista no país, o que implica uma ameaça possível e provável de atentados. Em consequência, o amistoso que seria disputado nesta terça-feira em Bruxelas entre Espanha e Bélgica foi cancelado.
O ministro francês dos Esportes, Patrick Kanner, descartou nesta terça-feira a possibilidade do país abrir mão de organizar a Eurocopa-2016 após os ataques, durante uma visita ao Stade de France. A ameaça à segurança levou Hollande a solicitar ao Parlamento a prorrogação do estado de emergência por três meses e a anunciar a criação de 5.000 postos adicionais na polícia e nas forças de segurança, 2.500 na justiça e 1.000 na Alfândega. Também prometeu uma reforma constitucional para "poder atuar contra o terrorismo de guerra" e administrar a crise.
Entre os projetos estão a retirada da nacionalidade de pessoas nascidas na França em caso de terrorismo e a imposição de um "visto de retorno" aos cidadãos "potencialmente envolvidos" com redes jihadistas que voltam da Síria e do Iraque.
Entre outras propostas o governo francês sugere instalar detectores de metais em todas as estações ferroviárias do país, do mesmo tipo que existem nos aeroportos. As medidas impedirão que a França, advertiu Valls, cumpra os critérios fiscais exigidos pela UE, que limitam o déficit ao máximo de 3% do PIB.