Agência France-Presse
postado em 19/11/2015 20:10
Moscou, Rússia - Acusados de servir de canal de comunicação dos jihadistas que escaparam dos serviços de segurança durante os atentados de Paris, os aplicativos de mensagens instantâneas em smartphones decidiram agir e bloquear contas ligadas a grupos islâmicos ou limitar seu acesso.O aplicativo que tem maior segurança, Telegram, informou ter bloqueado dezenas de contas relacionadas ao grupo Estado Islâmico (EI) utilizadas para fazer propaganda extremista.
Outro serviço de mensagens, o Silent Circle, restringiu o acesso a seus aplicativos para dificultar seu uso por jihadistas e criminosos.
Extremamente populares, os novos serviços de mensagens instantâneas, como WhatsApp, Viber ou iMessage são um problema para as autoridades, que tratam de antecipar planos de atentados e têm dificuldades para quebrar códigos cifrados.
Lançado em 2013 pelo russo Pavel Durov, que enfrentou no passado o poderoso serviço de inteligência russo FSB, o Telegram, pelo qual transitam mais de 10 bilhões de mensagens diárias, esta na primeira linha do problema.
Atendendo às preocupações com a privacidade na Internet, o Telegram deve sua popularidade a um serviço de codificação muito complexo e ao fato de que as conversas "secretas" não ficam armazenadas em qualquer servidor. Além disso, a empresa garante que jamais transmitirá os dados pessoais de seus usuários.
"Estamos perturbados em saber que contas públicas do Telegram foram utilizadas pelo EI para difundir sua propaganda", disse o aplicativo na noite de quarta-feira, acrescentando que 78 contas relacionadas ao EI, em 13 línguas, foram canceladas esta semana.
Silent Circle, com sede na Suíça, que desenvolve o smartphones de alta segurança Blackphone e tem aplicativos Silent Phone para uma troca de mensagens totalmente privada, anunciou que introduzirá tecnologias de pagamento mais sofisticadas "para reduzir a probabilidade" de que sejam utilizadas pelo grupo Estado Islâmico.
"Já que o EI nos qualificou de produto mais forte, vamos instalar procedimentos (...) responsáveis e moralmente aceitáveis para dificultar o acesso a nossas tecnologias por parte de maus elementos", declarou à AFP Mike Janke, fundador da Silent Circle.
Depois dos atentados de janeiro em Paris, vários presidentes, como o americano Barack Obama ou o britânico David Cameron, denunciaram o risco que as mensagens instantâneas representavam para a segurança nacional.
Na Rússia, diante do atentado contra o Airbus da Metrojet no Egito, o parlamentar Alexandre Agueiev pediu na segunda-feira que os serviços de inteligência controlem o Telegram e bloqueiem o serviço eventualmente, destacando que é "utilizado ativamente com objetivos de propaganda pelos terroristas do Estado Islâmico".
Isto equivale a "bloquear o uso de automóveis Toyota porque são usados pelos terroristas", reagiu o ministro das Comunicações, Nikolai Nikiforov.
O aplicativo de mensagens Threema advertiu que é contra uma "vigilância total" sobre as mensagens.
"Não sabemos como as agências de inteligência recolhem suas informações, mas se basear (...) em uma vigilância total para controlar problemas sociais e políticos jamais funcionou no passado e não funcionará no futuro", declarou à AFP o porta-voz da Threema Roman Flepp.
"Sacrificar alguns fundamentos da nossa democracia ocidental - liberdade, privacidade e liberdade de expressão - para obter uma falsa sensação de segurança não me parece algo razoável", concluiu.