Agência France-Presse
postado em 20/11/2015 15:00
Paris, França - A União Europeia decidiu nesta sexta-feira (20/11) reforçar "imediatamente; os controles em suas fronteiras exteriores na esteira dos atentados jihadistas de Paris de 13 de novembro, enquanto um hotel do centro da capital do Mali sofria uma tomada de reféns massiva. A mais de 6 mil quilômetros de Bruxelas, onde estavam reunidos os ministros do Interior e Justiça da União Europeia para blindar o território europeu frente à ameaça jihadista, homens armados invadiram o hotel Radisson de Bamako e abriram fogo.
Eram "dois ou três", segundo o governo do Mali, mas testemunhas falam numa "dezena de agressores". Os assaltantes detiveram 170 pessoas, mas várias delas foram libertadas após uma operação das forças de segurança.
O presidente francês, François Hollande, pediu nesta sexta-feira (20/11) aos franceses que se encontram em "países sensíveis" que "tomem suas precauções". A França lidera desde 2013 uma operação lançada no país africano para enfrentar os jihadistas que tomaram parte do território.
Este ataque na capital maliense ocorreu uma semana após os atentados terroristas em Paris, reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI), com um saldo de 130 mortos.
[SAIBAMAIS] Os ministros europeus concordaram em reforçar de maneira "imediata" os controles nas fronteiras da zona de livre circulação de pessoas Schengen, inclusive para cidadãos europeus. A França quer que sejam permanentes e "sistemáticos".
A Comissão Europeia apresentará "até o final do ano uma proposta" para reformar as regras do acordo de Schengen, segundo o governo francês.
A França também defende reforçar a luta contra o tráfico de armas e acelerar a adoção de um conjunto de dados compartilhados sobre os passageiros aéreos conhecidos como arquivo PNR. Esse mecanismo já existe nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Rússia, e se destina a acompanhar os jihadistas que regressam à Europa a partir do Oriente Médio.
Em Paris, a procuradoria anunciou ter identificado o corpo da francesa de origem marroquina Hasna Aitboulahcen, prima do suposto organizador dos atentados de Paris Abdelhamid Abaaoud, que também morreu na operação policial de quarta-feira em Saint-Denis, ao norte da capital.
Os investigadores estão tratando de identificar um terceiro corpo encontrado no lugar da operação e continua buscando Salah Abdeslam, um dos supostos autores dos atentados.
Europa vulnerávelA confirmação da presença em Saint-Denis de Abaaoud, que todos acreditavam estar na Síria, levantou uma polêmica sobre a situação da Europa em matéria de segurança e cooperação antiterrorista.
O suposto mentor dos ataques de 13 de novembro, Abdelhamid Abaaoud, foi filmado por câmeras na estação de Metro de Montreuil (leste de Paris) na noite do massacre às 19h (de Brasília), segundo uma fonte policial.
Como esse homem, objeto de um mandado internacional de prisão, conseguiu entrar na Europa para organizar uma rede de pelo menos nove pessoas que perpetraram o ataque de Paris? "Não sabemos", admitiu o primeiro-ministro francês, Manuel Valls.
O inquérito revelou que um dos homens-bomba que se explodiu perto do estado de França, cuja identidade ainda é desconhecida, chegou à Europa em outubro através da Grécia com passaporte sírio aparentemente falso e entre as centenas de milhares de refugiados que chegaram por mar a partir da Turquia.
Toque de recolherFrança está se preparando para prorrogar por três meses o estado de emergência, com uma votação no Senado nesta sexta-feira, após a aprovação dos deputados na quinta.
A polícia, cujos agentes agora podem andar armados a partir de agora fora das horas de trabalho, realizou desde os ataques 600 investigações e deteve 157 pessoas consideradas potencialmente perigosas que foram colocados sob prisão domiciliar.
Para este fim de semana, autoridades declararam um toque de recolher em um bairro de Sens, uma cidade situada cerca de 100 km ao sudeste de Paris, onde as forças de segurança descobriram um esconderijo de armas.
No front externo, a França propôs ao Conselho de Segurança da ONU uma resolução para tomar "todas as medidas necessárias" contra o EI.
Enquanto isso, o grupo continua a bombardear a Síria, assim como a Rússia, atingida por um ataque jihadista contra um avião russo no Sinai egípcio. A Turquia chamou, por sua vez, uma frente unida de países muçulmanos contra o EI.
Especialistas consultados pela AFP estimam que os atentados do 13 de novembro poderiam ser o início de uma campanha de ataques do EI nos países da coalizão que combatem o grupo na Síria e no Iraque.
Nos bairros mais turísticos de Paris, o clima é de medo. Os comércios, as lojas de luxo e o mercado de Natal da avenida Champs-Élysées, muito concorridos nestas datas, registram uma diminuição de clientes e faturamento. "Isso aqui está deserto", constatou Marine, do departamento de cosméticos da Printemps, um dos grandes magazines no coração da cidade.
Mas nem todos se resignam. Personalidades do mundo da cultura, como o cantor Charles Aznavour, pediram "fazer barulho e acender as luzes" às 21h20 locais (19h20 de Brasília), para lembrar o momento exato do início dos atentados há sete dias.
Os estrangeiros também se solidarizam. Neste final de semana, a Marselhesa, hino nacional francês, vai tocar antes das partidas de futebol da Premier League inglesa.