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Kirchner recebe sucessor, Macri, para iniciar transição na Argentina

Agência France-Presse
postado em 24/11/2015 18:49
A comentada "mudança de época" na Argentina, proposta pelo presidente eleito, Mauricio Macri, um liberal de direita, tem início, nesta terça-feira, quando a presidente de centro-esquerda em fim de mandato, Cristina Kirchner, recebê-lo para estreitar a transição no país, dividido à luz de um segundo turno apertado.

O encontro acontecerá na Quinta Presidencial de Olivos, ao norte de Buenos Aires, às 19h00 locais (21h00, no horário de Brasília), a 16 dias da transição, no dia 10 de dezembro.

Cristina Kirchner "me desejou muita sorte e marcou um encontro", anunciou Macri, de 56 anos, que venceu o segundo turno contra o oficialista Daniel Scioli por 51,4% a 48,6%, uma diferença apertada que condicionará sua gestão.

De acordo com analistas de mercado, o estreitamento desta margem causou o colapso da Bolsa de Valores (-5,1%) no dia após a eleição, além da realização de lucros após uma semana de ganhos quando as pesquisas previam uma vitória confortável de Macri.

"Me reunirei com a presidente e, então, fixaremos os parâmetros dos próximos dias. Irei sozinho, a transição é muito curta", disse Macri ao jornal Clarín, antecipando que pedirá "uma passagem ordenada" e que seja facilitado o acesso à informação nos ministérios.

Mas além dos bons presságios, a presidente e seu sucessor - prefeito em fim de mandato de Buenos Aires - compartilharam poucos cenários durante suas respectivas gestões iniciadas em 2007.

Há alguns dias, o líder da aliança conservadora, Cambiemos, permitiu-se sonhar com o momento em que receberá a banda presidencial: "os fotógrafos disputarão para ver quem capta melhor o momento", disse.

Gabinete econômico de seis cabeças


Macri, um homem pró-mercado, disse que começará a dar nomes na quarta-feita.

Ele anunciou uma nova formação que não contará com um "super-ministro" de Economia, como de costume, mas com uma equipe de seis ministros e um coordenador: Fazenda e Finanças, Produção (ex-Indústria), Infraestrutura (ex-Planejamento), Agricultura e as novas pastas de Energia e do Transporte.

O novo governo assumirá um país sem dívidas e com baixo desemprego (5,9% no terceiro trimestre de 2015), mas com temas críticos como a inflação, a restrição cambial (banda cambial), a queda das reservas (abaixo de 26 bilhões de dólares) e a desconfiança nas estatísticas oficiais.

"Vamos tornar as regras do jogo mais claras para que todo mundo saiba que se pode investir. Vamos estabilizar o valor da moeda baixando a inflação. Vamos ter um único mercado de câmbio, como em toda a América Latina", prometeu Macri.

Nesta terça-feira, o presidente eleito afirmou ao Clarín que levantará a banda cambial vigente desde 2011 no dia 11 de dezembro, um dia depois de assumir seu mandato, embora, na segunda-feira, tenha dito que tomará as medidas "quando forem dadas as condições".

"Haverá um único tipo de câmbio, onde o Banco Central vai intervir em sua administração", assistiu ao tomar como referência o preço do dólar no mercado paralelo (15,20 pesos na segunda-feira) e não o oficial, a 9,68 pesos.

Segundo Macri, "o problema não é a desvalorização, mas a inflação" de dois dígitos desde 2008.

Outros temas também estão na agenda, como a abertura de importações, a redução de subsídios aos serviços e a eliminação dos impostos às exportações agrícolas, reclamadas pelos grandes produtores.

Consensos e oposição K

Cristina Kirchner recebeu, na segunda-feira, Daniel Scioli e Carlos Zannini, a dupla oficialista derrotada no domingo, e concordaram em trabalhar juntos com o intuito de serem uma oposição "propositiva e construtiva", segundo a imprensa.

"A presidente leva a política no sangue. Não a vejo abandonando ou distanciando-se desse meio", afirmou à AFP o analista Rosendo Fraga, da consultora Nueva Mayoría.

Fraga acrescentou que a presidente em fim de mandato "vai tentar, nesses poucos dias antes de deixar o poder, ser uma espécie de líder da oposição, com a ideia de voltar ao poder nas eleições de 2019 ou em outro momento".

Macri, processado por um caso de escutas ilegais, será o primeiro presidente eleito por voto popular sem ser radical nem peronista, os dois partidos que monopolizaram a política argentina desde o século XX.

Deverá governar sem maioria no Congresso, controlado nas duas câmaras pela Frente para la Victoria, o partido de Kirchner.

A social-democrata União Cívica Radical (UCR) contribuiu através de sua força territorial com a aliança Cambiemos, mas seu principal membro, o senador Ernesto Sanz, desistiu por "razões pessoais" de integrar o gabinete, uma decisão que gerou ruídos antes da posse.

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