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Tensão em Chicago após vídeo que mostra policial matando jovem negro

O adolescente de 17 anos foi brutalmente assassinado com 16 tiros em outubro de 2014

Agência France-Presse
postado em 25/11/2015 14:45
Frame do vídeo divulgado na última terça-feira (24) pela polícia de Chicago: policiais caminham perto do corpo do adolescente negro Laquan McDonald, morto com 16 tiros em novembro de 2014
O chefe da polícia e o prefeito de Chicago, terceira maior cidade dos Estados Undidos, lançaram na terça-feira (24/11) à noite um pedido solene de calma, pouco antes de tornar público um vídeo em que um policial branco mata com 16 tiros um adolescente negro.

As imagens registradas por uma câmera no painel de uma viatura da polícia revelam as condições da morte brutal de Laquan McDonald, de 17 anos, no ano passado. Andando no meio da calçada, segurando na mão um objeto - uma faca segundo as autoridades -, o jovem parece não obedecer os policiais que querem controlá-lo, sem, contudo, fazer qualquer gesto ameaçador contra eles. Enquanto o adolescente se afasta em direção à beirada da rua, o agente Van Dyke abre fogo, atingindo Laquan McDonald em cheio. Enquanto ele está no chão, o policial continua a disparar friamente.

Após a divulgação do vídeo, que logo tornou-se viral na internet, Chicago entrou em alerta. Centenas de pessoas começaram na terça-feira à noite a se reunir em várias ruas da metrópole, bloqueando o tráfego, segundo a imprensa estadunidense. Algumas brigas foram registradas entre os manifestantes e a polícia, que anunciou a prisão de três pessoas na madrugada desta quarta-feira (25/11). "As pessoas têm o direito de estar com raiva, as pessoas têm o direito de manifestar, as pessoas têm o direito de se expressar, mas não têm o direito de cometer crimes", avisou Garry McCarthy, o chefe da polícia de Chicago. "Não toleraremos qualquer comportamento criminoso", acrescentou.

"Este momento pode ser uma oportunidade de construir pontes para melhor nos entendermos, ao invés de erguer barreiras de incompreensão", declarou por sua vez Rahm Emanuel, o prefeito de Chicago. A coletiva de imprensa conjunta, transmitida ao vivo, ocorreu poucas horas depois de Jason Van Dyke, de 37 anos, ser acusado de "assassinato premeditado" - acusação inédita na cidade a um oficial da polícia.
Centenas de moradores de Chicago foram às ruas após a divulgação do vídeo; três pessoas foram presas durante os protestos
Manifestantes bloquearam várias ruas de Chicago em represália à morte de Laquan; parentes do jovem e organizações de defesa dos direitos dos negros acusaram a polícia de tentar abafar o caso
Vídeo chocante

O assassinato de Laquan McDonald aconteceu em outubro de 2014, mas a polêmica aumentou nos últimos dias devido à mobilização dos moradores de Chicago que exigiam que o vídeo fosse revelado. Um juiz finalmente concordou com o pedido. Este vídeo "é violento e chocante", comentou na terça-feira a procuradora do condado de Cook, Anita Alvarez.

Parentes de Laquan McDonald e organizações de defesa dos direitos dos negros acusaram a polícia de tentar abafar o caso e afirmaram que o policial só foi acusado porque as imagens foram divulgadas.No total, entre 14 e 15 segundos decorrem entre o primeiro e o último dos dezesseis tiros de Van Dyke, de acordo com um relatório consultado pela Agência France-Presse. Durante este tempo, "McDonald jaz no chão por cerca de 13 segundos", informa o relatório.

Van Dyke, em prisão preventiva sem fiança, declarou que sentiu-se ameaçado, de acordo com seus advogados. Segundo um relatório da necropsia, o adolescente, apresentava ferimentos à bala na cabeça, pescoço, peito, braços, uma mão, costas e coxa e, segundo a polícia, estava sob a influência de psicotrópicos.

Nos últimos 18 meses, a brutalidade policial contra negros provocou vários conflitos, como em Ferguson (centro) ou Baltimore (nordeste), e inúmeros protestos em todo o país.As tensões também são latentes em Minneapolis (norte), onde cinco pessoas ficaram feridas por tiros na terça-feira durante uma manifestação depois da morte de um homem nengro por um policial. Segundo o movimento Black Lives Matter, os tiros partiram de militantes racistas que pregam a superioridade dos brancos sobre os negros. A polícia de Minneapolis anunciou na terça-feira a detenção de dois suspeitos.

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