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Em Uganda, papa Francisco celebra os mártires e o ecumenismo

O pontífice celebrou a missa no santuário de Namugongo, perto da capital Kampala, onde 45 cristãos foram martirizados em 1886 por não abjurar de sua fé.

Agência France-Presse
postado em 28/11/2015 16:38
Milhares de ugandeses receberam neste sábado com entusiasmo o papa Francisco, que homenageou a memória de 45 mártires cristão anglicanos e católicos, símbolo do ecumenismo entre as duas confissões, e pediu as paróquias locais que se abram aos pobres. "Hoje recordamos com gratidão o sacrifício dos mártires ugandeses. Recordamos também os mártires anglicanos, sua morte por Cristo é testemunho do ecumenismo do sangue", disse o pontífice em Uganda, um país que tem mais de 40% de católicos e 30% de anglicanos. "Todas estas testemunhas cultivaram o dom do Espírito Santo em suas vidas deram livre testemunho de sua fé em Jesus Cristo, mesmo que ao custo de sua vida, e muitos deles em idade muito jovem", completou Francisco. O pontífice celebrou a missa no santuário de Namugongo, perto da capital Kampala, onde 45 cristãos foram martirizados em 1886 por não abjurar de sua fé. Os ugandeses aplaudiram e cantaram quando Francisco chegou ao templo, que fica ao ar livre. Mais de 100.000 pessoas chegaram ao local durante a madrugada para assistir à missa, um dos grandes momentos da visita papal a Uganda. Católicos do Sudão do Sul, país vizinho e que está em guerra civil, viajaram 12 horas de ônibus para presenciar a missa. Os presidentes do Sudão do Sul, Salva Kiir, e de Uganda, Yoweri Museveni, também compareceram à cerimônia religiosa. O testemunho dos mártires, destacou o papa, "mostra a todos que os prazeres mundanos e o poder terreno não dão alegria nem paz duradoura". "É a fidelidade a Deus, a honradez e a integridade da vida, assim como a genuína preocupação com o bem dos outros que nos levam a esta paz que o mundo não pode oferecer", completou o pontífice, antes de convidar os ugandeses a rejeitar a corrupção e a busca de prazeres terrenos. Os mártires homenageados pelo papa eram integrantes do reino de Mwanga II, rei dos Baganda (1884-1888), um dos povoados da atual Uganda. O monarca considerava que a influência dos missionários europeus reduzia seu poder de destruía as tradições de seu povo. O rei não perdoava que o fato de que estes jovens, influenciados pelo catecismo, negassem favores sexuais. Encontro com jovens Durante a tarde, o papa visitou a pista de aviação de Kololo, em Kampala, onde se reuniu com cerca de 150 mil jovens ugandeses, que o acolheram de forma alegre e desordenada. Milhares de jovens corriam de um lado para o outro tentando se aproximar de Francisco, diante de uma segurança atônita. Muitos fiéis esperavam que o papa se pronunciasse publicamente contra a homossexualidade, que em Uganda é considerada um crime, mas Francisco não abordou o tema, no momento em que o país acaba de aprovar uma lei contra as ONGs que defendem os homossexuais. Durante o encontro, o papa escutou o testemunho de um seminarista que foi sequestrado para ser usado como jovem soldado na sangrenta revolta do Exército de Resistência do Senhor (LRA). A organização, surgida em Uganda, reivindica um regime baseado nos dez mandamentos da Bíblia. O LRA é conhecido pelos atos violentos: sequestro de crianças que viram soldados ou escravos, mutilações e massacres de civis. Expulso do norte de Uganda, continua espalhando o terror nas florestas dos países vizinhos, incluindo a República Centro-Africana. O papa também expôs os tormentos de uma menina que nasceu com o vírus HIV e conseguiu se inserir na sociedade, citando ambos como um exemplo de pessoas que superaram suas dificuldades graças à fé. "Tanto Emmanuel como Winnie sofreram experiências negativas. Winnie pensava que não havia futuro para ela, que a vida era um grande muro, mas Jesus os fez entender que a vida pode ser um grande milagre: transformar um muro no horizonte". Depois do Quênia, Uganda é a segunda etapa da viagem ao continente africano de Francisco. No domingo, o papa visitará Bangui, capital da República Centro-Africana, devastada desde 2013 por uma guerra civil com tom religioso e a etapa mais perigosa da viagem, onde pretende apresentar uma mensagem de paz e reconciliação.

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