Berlim, Alemanha - A câmara baixa do parlamento alemão autorizou nesta sexta-feira (4/12) a participação de cerca de 1,2 mil militares nas operações internacionais contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque.
Dos 598 deputados presentes, 445 votaram a favor, 146 contra e 7 se abstiveram, um resultado sem surpresas, já que a coalizão da chanceler Angela Merkel apoiava a participação militar da Alemanha.
Berlim prevê participar em missões de reconhecimento com seis aviões Tornado e escoltar o porta-aviões francês Charles de Gaulle com uma fragata.
Dessa forma, a Alemanha não realizará bombardeios na Síria ou no Iraque, ao contrário da França, Estados Unidos, Rússia e Reino Unido, que iniciou na quinta-feira uma campanha de ataques aéreos.
As operações ocidentais não são coordenadas com Moscou, acusada de não atacar somente o EI, como também os rebeldes sírios não jihadistas para ajudar o regime do presidente Bashar al Assad, seu aliado.
Velocidade de Tornado
Berlim tomou a decisão de participar nas operações na Síria há uma semana, depois que o governo francês pediu ajuda em função dos atentados que deixaram 130 mortos em Paris, em 13 de novembro.
Sua adoção pelo parlamento superou todas as etapas necessária em um tempo recorde, apesar das críticas da oposição.
"Em três dias devemos decidir se a Alemanha entra de novo em guerra e não podemos decidir isso em velocidade de Tornado", lamentou a deputada do partido de esquerda radical Die Linke, Petra Sitte.
O ecologista Anton Hofreiter denunciou, por sua parte, a falta de uma estratégia pensada por parte dos ocidentais.
"Estamos de acordo que é preciso combater o EI, mas os bombardeios não são uma estratégia. Assad é um aliado ou não? Não é algo que possa continuar sendo confuso".
O governo insistiu na legitimidade da missão, alegando que a ONU aprovou resoluções para combater o EI e que Berlim estava respondendo a um pedido de ajuda da França.
"Temos que deter esse bando de terroristas assassinos. Não pode funcionar apenas com meios militares, e também não pode funcionar sem eles", declarou o ministro da Justiça, Heiko Maas, falando ao jornal Tagesspiegel.
Transição políticaOs países ocidentais descartam enviar tropas terrestres à Síria, apesar de Washington anunciar sua intenção de mandar centenas de soldados das forças especiais ao Iraque e à Síria.
O secretário de Estado americano, John Kerry, defendeu na quinta-feira a presença de tropas terrestres árabes e sírias para combater o EI, durante uma reunião ministerial da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), em Belgrado.
"Todo o mundo sabe que, sem a capacidade de encontrar tropas terrestres dispostas a se opor ao Daesh (acrônimo do EI em árabe), o conflito não poderá ser vencido completamente apenas com os bombardeios", declarou Kerry.
Ele explicou que pensa em tropas "sírias e árabes", e não ocidentais, embora tenha afirmado que os Estados Unidos poderão enviar 50 unidades de suas forças especiais à Síria.
"Se conseguirmos pôr em marcha uma transição política, permitiremos que todas as nações e entidades se unam, o Exército sírio junto com a oposição... junto com Rússia, Estados Unidos e outros para ir lutar contra o Daesh", disse Kerry.
Além da luta antijahdista, os ocidentais asseguram que fazem todo o possível para obter uma transição política na Síria.
"Imaginem com que velocidade se eliminaria essa praga (o EI), no espaço de alguns meses, se fôssemos capazes de conseguir essa resolução política", insistiu o secretário de Estado.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou uma reunião internacional em Nova York para encontrar uma solução política para o conflito que assola a Síria desde 2011.