Agência France-Presse
postado em 05/12/2015 10:22
Paris, França - Os cadáveres dos autores dos atentados de 13 de novembro geram um delicado e incômodo problema às autoridades francesas: devem ser enterrados discretamente, enviados as suas famílias ou repatriados aos seus países de origem?A lei prevê várias situações, lembra François Michaud-Nérard, diretor-geral dos serviços funerários da Cidade de Paris: "Se as famílias os reivindicam, os cadáveres têm o direito a uma sepultura no local onde residiam, onde a família tenha um túmulo familiar".
Se as famílias não quiserem organizar o funeral, cabe aos municípios envolvidos realizá-lo. "Embora não tenha a obrigação de enterrar em um túmulo anônimo, (fazer isso) pode servir ao interesse geral", opina Michaud-Nérard, referindo-se ao temor das autoridades de que as sepulturas dos terroristas se convertam em objeto de culto ou de peregrinação.
Sete jihadistas morreram nos atentados de 13 de novembro. Três perto do Stade de France, ao norte de Paris (Bilal Hadfi e dois homens que portavam passaporte sírio e cuja identidade ainda não foi confirmada), três na casa de show Bataclan (Omar Ismail Mostefai, Samy Amimour e um terceiro não identificado) e Brahim Abdeslam, que detonou seus explosivos em um bar parisiense.
Outros três morreram na operação policial em um apartamento de Saint-Denis (ao norte de Paris) no dia 18 de novembro: Abdelhamid Abaaoud, suposto organizador dos atentados, sua prima Hasna Aitboulahcen e um terceiro homem não identificado.
Túmulo anônimo
Interrogados pela AFP, os municípios de Drancy, onde vivia Samy Amimour, de Courcouronnes, de onde era originário Omar Ismail Mostefai, e de Saint-Denis, onde os três suicidas detonaram seus explosivos perto do Stade de France, indicaram não ter sido informados sobre planos de sepultamentos.
O advogado da família Amimour, Alexandre Luc-Walton, explicou que seus clientes "esperam notícias do Instituto Médico Legal, e ainda não têm permissão para enterrar".
Com exceção de Abdelhamid Abaaoud, o suposto organizador dos ataques, que era belgo-marroquino, e dos que ainda não foram identificados, os demais jihadistas eram franceses. Brahim Abdeslam e Bilal Hadfi residiam na Bélgica, mas eram de nacionalidade francesa.
Podem ser enterrados em algum dos cemitérios da região parisiense que tem uma parte muçulmana, como o da localidade de Thiais, onde foi enterrado Amedy Coulibaly, autor da sangrenta tomada de reféns em um supermercado kosher, em janeiro passado em Paris. Mas o cemitério de Thiais indica que "não houve demanda alguma de enterro de terroristas".
Riva Kastoryano, autora de "O que fazer com os corpos dos jihadistas?", destaca que os autores de atentados precedentes "foram enterrados na França, país de sua nacionalidade, país de residência de seus familiares".
Quando vários países estão envolvidos "tudo depende das relações entre os dois Estados", que costumam atribuir um ao outro "a responsabilidade da radicalização" do indivíduo, explica a autora.
No caso de Mohamed Merah, assassino em 2012 no sudoeste da França de três militares e quatro judeus, nem a cidade de Toulouse, onde vivia, nem a Argélia, de onde era originário, quiseram se responsabilizar pelo destino do cadáver.
O corpo de Mohamed Merah foi finalmente enterrado em uma sepultura sem nome, em um cemitério dos subúrbios de Toulouse, fora das horas de abertura.
"Foi enterrado na parte muçulmana, no fim (do cemitério). Algumas famílias muçulmanas não queriam que fosse enterrado ali" ao lado dos corpos de seus familiares, conta Abdallah Zekri, então delegado da Grande Mesquita de Paris no sudoeste do país.
Embora algumas dezenas de pessoas tenham acompanhado o enterro e deixado o lugar gritando "Allahu Akbar", atualmente, segundo Zekri, "ninguém visita o túmulo de Merah".