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Venezuelanos votam em parlamentares que ameaçam hegemonia chavista

Longas filas se formavam em um dia no qual foram convocados 19,5 milhões de venezuelanos para eleger 167 deputados da Assembleia Nacional

Agência France-Presse
postado em 06/12/2015 11:51
Caracas, Venezuela - Descontentes com a crise econômica, os venezuelanos votavam neste domingo em eleições legislativas cruciais nas quais a oposição pode arrebatar do chavismo o controle parlamentar pela primeira vez em 16 anos.

Longas filas se formavam desde muito cedo em muitos dos 14.500 centros de votação, que abriram às 06h00 locais (08h30 de Brasília), em um dia no qual foram convocados 19,5 milhões de venezuelanos para eleger 167 deputados da Assembleia Nacional.

"Queremos sair deste pesadelo, é preciso lutar com uma fila para comprar um pouco de comida, não há remédios, nem fraldas... Imagine! Isso precisa mudar", declarou à AFP Maria, uma professora aposentada de 53 anos, na fila desde as cinco da manhã em um centro de votação em Chacao, leste de Caracas, reduto da oposição.

O presidente Nicolás Maduro aposta pelo "voto duro" chavista, mas segundo as pesquisas a coalizão opositora Mesa de la Unidad Democrática (MUD, centro-direita) conquistaria ao menos a maioria simples em um parlamento dominado pelo governismo de esquerda desde que em 1999 Hugo Chávez, falecido em 2013, chegou ao poder.

"Apesar de ser eleições parlamentares - em um regime presidencialista - são muito relevantes: provocarão uma recomposição das forças políticas e permitirão que a vontade de punição possa se expressar", declarou à AFP o analista Nicmer Evans, próximo a Chávez, mas crítico de Maduro.

As eleições parlamentares representam, segundo o cientista político John Magdaleno, a possibilidade de um contrapeso em um Estado cujos poderes estão totalmente controlados pelo governismo.

A partir do Parlamento, a oposição planeja impulsionar uma anistia para presos políticos, entre eles o líder radical Leopoldo López, a quem, segundo uma missão de ex-presidentes latino-americanos que acompanha a oposição, Maduro permitirá votar, embora ainda se desconheça como o faria.

Mais ambiciosa ainda, a MUD busca conquistar a partir da Assembleia que se instalará em 5 de janeiro uma guinada econômica, sem descartar a busca de uma saída antecipada do presidente. O chavismo promete aprofundar o sistema socialista.

Nas primeiras horas de votação, o país petrolífero, de 30,6 milhões de habitantes, permanecia em calma, embora em um ambiente marcado pela polarização política, que desta vez tem um novo ator: chavistas irritados com o governo de Maduro.

Cansados das filas

Maduro, que assumiu o poder em abril de 2013 após a morte de seu mentor, encara, com uma popularidade de 22%, o que, segundo ele, são as eleições "mais difíceis" do chavismo, em meio ao crescente mal-estar pelo elevado custo da vida e pela aguda escassez de alimentos.

"Não se consegue papel higiênico. Em outros países isso não acontece. Não se pode votar pelo governo quando há problemas para sobreviver. A insegurança também me afeta", disse à AFP Filros Guzmán, de 24 anos, funcionário de um restaurante. Anteriormente já votou pelo chavismo, mas agora faz fila para apoiar a oposição.

A Venezuela é, depois de Honduras, o segundo país com a maior taxa de homicídios do mundo, segundo a ONU.

Deixando para trás por enquanto suas divisões, a MUD prometeu uma mudança que acabará com a insegurança e com as "distorções econômicas". O governismo invocou o legado de Chávez e advertiu que se a oposição vencer acabará com os programas sociais.

"É um compromisso irrefutável vir votar porque nos vemos ameaçados pelo império", comentou à AFP Luis Aguilera, em um centro eleitoral de Caracas.

O governo atribui a crise a uma guerra econômica dos empresários da ultradireita apoiados pelos Estados Unidos e à queda dos preços do petróleo, que desferiu um duro golpe a este país - que tem as maiores reservas petrolíferas do mundo - e no qual 96% de suas divisas são provenientes do petróleo.

"O principal motor destas eleições é a crise", comentou à AFP o cientista político Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela (UCV).

A Venezuela encerrará 2015 com uma contração econômica de 10% e uma inflação de 200%, segundo economistas independentes. Um rígido sistema de controle de divisas - com três taxas de câmbio - convive com um mercado negro onde o dólar é cotado 145 vezes mais que o mínimo legal.

O dia de votação se estenderá por ao menos doze horas.

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