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Atiradora da Califórnia estudou em escola de doutrina islâmica no Paquistão

Escola é uma das mais conhecidas do país e ensina a doutrina religiosa do islã em vários países do mundo, como EUA, Índia e Reino Unido

Agência France-Presse
postado em 07/12/2015 09:07
Tashfeen Malik, que ao lado do marido matou 14 pessoas na Califórnia na semana passada, estudou em uma das escolas religiosas mais conhecidas do Paquistão, informou o centro nesta segunda-feira (7/12), o que revela dados sobre seu processo de radicalização. Malik, de 29 anos, se matriculou em 2013 no Instituto Al-Huda da cidade de Multan, que recebe mulheres de classe média que desejam aprofundar seu conhecimento do islã, afirmou à AFP um diretor do centro de estudos, Imran Amir.

[SAIBAMAIS]A madrassa é uma das mais conhecidas no Paquistão e tem unidades nos Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Índia e Reino Unido, além de um campus em construção no Canadá. O instituto não tem relações conhecidas com grupos extremistas, mas já foi acusado de difundir uma ideologia próxima a dos talibãs.

O fato de Tashfeen Malik frequentar o local ajuda a entender sua trajetória rumo ao extremismo, que provavelmente começou durante a infância na Arábia Saudita e prosseguiu com os estudos no Paquistão, culminando com o juramento de lealdade ao grupo Estado Islâmico (EI) antes de pegar em armas.



Malik e seu marido Syed Farook, de 28 anos, provocaram um massacre em um centro social de San Bernardino (Califórnia) na quarta-feira da semana passada. O ataque foi reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico, que chamou os dois de "soldados" de seu califado proclamado no Iraque e na Síria.

De acordo com a polícia, Malik, que tinha visto para morar nos Estados Unidos, mas passou longos períodos no Paquistão e na Arábia Saudita, pode ter radicalizado o marido. Os investigadores tentam determinar se ela teve contato com islamitas radicais em alguns destes países.

Tashfeen Malik estava inscrita em várias aulas, uma delas de tradução do Alcorão", disse Amir, da administração da Al-Huda. "Mas não concluiu a escolaridade, ficou muito pouco tempo", completou. "Era uma boa garota. Não sei por quê foi embora, nem o que aconteceu", disse uma professora do centro, que se identificou como Muqadas e confirmou que a jovem não concluiu a formação.

Malik emigrou aos Estados Unidos apenas em 2014. Malik estudou Farmacologia na Universidade Bahauddin Zakariya de Multan entre 2007 e 2012 e, segundo ex-colegas, frequentou o Instituto Al-Huda ao fim das aulas. "Pouco a pouco foi se tornando mais séria e rígida", disse um estudante, que pediu anonimato, segundo o qual ela "mudou drasticamente".

A peculiaridade do Instituto Al-Huda, fundado em 1994, é que está voltado sobretudo às influentes classes média e alta do Paquistão. "Nem o governo, nem as instituições nos acusaram de difundir o extremismo. Pelo contrário, ensinamos os preceitos pacíficos do islã", disse uma porta-voz da Al-Huda, Farrukh Saleem, em Karachi.

De acordo com Arif Rafiq, analista do Middle East Institute, com sede em Washington, "o fato de frequentar um centro do tipo mostra que abraçou uma variante mais moderna, mas também mais austera do islã". "Isto pode tê-la deixado mais sensível à ideologia de um grupo terrorista transnacional como o Estado Islâmico", indica, antes de recordar que é muito raro que as estudantes da Al-Huda se tornem extremistas. "O simples fato de frequentar Al-Huda não resolve a questão de como passou de uma muçulmana conservadora, ou inclusive salafista, para uma jihadista", completa.

As autoridades do Paquistão prometeram atuar contra as escolas religiosas suspeitas de difundir o islã radical, mas suas tentativas esbarraram nos líderes religiosos que acusam o governo de atacar o islã.

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