Mundo

Com vitória histórica, oposição conquista maioria qualificada na Venezuela

A coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) conseguiu a eleição de 110 deputados, contra 55 do chavismo, em uma Assembleia Nacional de 167 cadeiras

Agência France-Presse
postado em 08/12/2015 07:20
A coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) conseguiu a eleição de 110 deputados, contra 55 do chavismo, em uma Assembleia Nacional de 167 cadeiras
Caracas, Venezuela - A oposição venezuelana conquistou uma vitória histórica nas eleições parlamentares de domingo (6/12), acabando com 16 anos de hegemonia chavista com a maioria de pelo menos três quintos da Assembleia Nacional. A coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) conseguiu a eleição de 110 deputados, contra 55 do chavismo, em uma Assembleia Nacional de 167 cadeiras, que iniciará a legislatura em 5 de janeiro. Duas cadeiras ainda estão indefinidas.

Com este número de deputados, o bloco opositor supera a marca de três quintos (101 deputados) necessária para remover ministros e o vice-presidente, assim como os integrantes do CNE (prévio pronunciamento do Tribunal Supremo de Justiça). Mais cedo, a MUD havia anunciado a eleição de 112 deputados, que representariam a maioria de dois terços, uma situação inédita em um Parlamento que foi dominado pelo governo de esquerda desde 1999, quando Hugo Chávez, que faleceu em 2013, chegou ao poder.

[SAIBAMAIS]Os dois terços permitem grandes atribuições, como criar ou suprimir comissões permanentes, aprovar e modificar leis orgânicas, submeter a referendo tratados internacionais e projetos de lei, remover magistrados do TSJ, designar os integrantes do CNE, aprovar projeto de reforma constitucional e até buscar retirar de maneira antecipada o presidente do poder.

O presidente Nicolás Maduro, cujo mandato termina em 2019, convocou na segunda-feira o chavismo "estabelecer fileiras em união cívico militar" ante o que chamou de "situação complexa" após a vitória da oposição. Também convocou um congresso do partido do governo para fazer "críticas autocríticas construtivas". "É um caminho repleto de possibilidades de ;concertação;, mas também de resistências. O risco de gerar mais ingovernabilidade é muito grande tanto para o governo como para a oposição. Há muito em jogo", disse a cientista política Elsa Cardozo, da Universidade Simón Bolívar (USB).



Maduro aceitou a derrota, que disse receber como uma "bofetada". Com tom moderado, Jesús Torrealba, secretário executivo da MUD, anunciou o "início da mudança na Venezuela", mas reconheceu que a oposição tem uma "responsabilidade imensa" para "enfrentar a crise". "Esperamos que seja possível abrir um canal para que a transição na Assembleia seja mais ou menos normal, ou será uma transição selvagem", disse à AFP Colette Capriles, analista da USB.

Luis Vicente León, presidente da empresa de pesquisas Datanálisis, concordou que "tal como estão as forças políticas no país, existem apenas dois cenários: negociação ou guerra". "A maioria qualificada não é para perseguir", disse o líder da ala moderada da oposição, o ex-candidato à presidência Henrique Capriles, que descartou uma ;caça às bruxas;.

Maduro, que assumiu o poder em abril de 2013, atribuiu o "revés conjuntural" a uma "guerra econômica" de empresários de direita, admitindo o descontentamento da população com o alto custo de vida e a escassez de produtos básicos, que provoca longas filas nos supermercados.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação