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Veteranos da jihad são uma ameaça em longo prazo, afiram especialista

Os Estados Unidos estimam que há ao menos 30 mil procedentes de uma centena de países

Agência France-Presse
postado em 08/12/2015 12:06
Eles são dezenas de milhares e mesmo que o grupo Estado Islâmico (EI) seja derrotado, os estrangeiros envolvidos na Jihad e formados em suas fileiras representarão uma ameaça para o mundo em muito longo prazo, afirmam os especialistas.

[SAIBAMAIS]Os Estados Unidos estimam que há ao menos 30 mil procedentes de uma centena de países. Ou seja, um número muito maior que os 10 a 20 mil islamitas radicais que passaram entre 1996 e 2001 pelos campos de treinamento da jihad no Afeganistão, alguns deles montados por Osama Bin Laden. Após a queda do regime dos talibãs, que os protegiam, os chamados "árabes afegãos" se disseminaram, exportando a muitos países sua ideologia radical.

"Muito tempo depois da derrota do Daesh (acrônimo em árabe do EI), o mundo inteiro pagará pelos anos de cegueira durante os quais permitiu que o monstro jihadista crescesse às portas da Europa", adverte Jean-Pierre Filiu, especialista em movimentos jihadistas. "Com ao menos 5.000 jihadistas de todas as nacionalidades (europeias) envolvidos no Daesh, os países da Europa são, é claro, os mais afetados", explica.



"Responder unicamente com (políticas de) segurança, por mais legítimo que seja, não bastará. Será preciso estabelecer programas específicos para os dissidentes ou desertores do Daesh, ainda que seja apenas para neutralizar através deles seus antigos companheiros de armas", acrescentou.

O autoproclamado chefe do EI, Abu Bakr al Bagdadi, conquistou extensas zonas entre Síria e Iraque e declarou um califado em direção ao qual convergiram voluntários. Uma ofensiva que pode ter semeado décadas de revoltas jihadistas.

França e Estados Unidos prometeram destruir o EI, mas quando conseguirem "assistiremos a uma fragmentação do núcleo central", afirma Mathieu Guid;re, professor universitário e especialista em terrorismo islamita. "E como só sobrevivem os mais audaciosos, os mais radicais, acabaremos com algo pior que o EI. Lembrem, acreditávamos ter eliminado a Al-Qaeda matando Bin Laden: a fragmentação da Al-Qaeda levou a algo ainda pior. Serão grupos mais perigosos e mais radicais", explica.

Muito a ser feito
Com as estruturas democráticas da União Europeia e de outros países que precisam de tempo para evoluir, "nos expomos a ficar sempre para trás", afirma. "Os jihadistas sabem se adaptar perfeitamente ao novo. Geram novas estruturas e formas de ação mais bem adaptadas ao seu entorno e sempre mais difíceis de combater".

Nos territórios sob seu controle, uma intensificação dos bombardeios aéreos pode aumentar a violência contra os civis, ao menos no curto prazo. O grupo pode se tornar mais cruel e também enviar "combatentes estrangeiros aos seus países de origem para operações de represália", explica Matthew Henman, do centro de reflexão IHS Jane;s em Londres.

Na França, os serviços de segurança têm dificuldades para vigiar todos os que vêm da Síria e ao mesmo tempo não perder de vista os veteranos jihadistas de Afeganistão e Iraque, radicalizados há muito tempo e ainda perigosos. Quase todos os aproximadamente 250 que retornaram comparecem imediatamente ante a justiça, explica um responsável da luta antiterrorista que pediu o anonimato. Ainda que não seja possível demonstrar que têm sangue nas mãos, serão condenados a entre sete e dez anos de prisão, acrescenta.

"Cumprirão uma parte da pena. Ou seja, dentro de quatro ou cinco anos os primeiros sairão", acrescenta. "É preciso se preparar agora mesmo, e ver como podem ser reinseridos na sociedade. Alguns estarão traumatizados durante anos (...) Será preciso conjugar o curto prazo, impedindo atentados, e o longo prazo, e não será fácil".

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