Agência France-Presse
postado em 09/12/2015 10:11
Dezenas de educadoras sexuais e defensoras do aborto na América Latina estão sendo vítimas de ameaças de morte, perseguições e ataques por parte de cidadãos, inclusive sob o aval de alguns governos, fazendo com que muitas abandonem por medo seu trabalho, denunciou nesta quarta-feira a Anistia Internacional (AI)."Atrever-se a falar do aborto e da educação sexual na América Latina parece ser razão suficiente para que te chamem de ;delinquente;, ;assassina; e inclusive ;terrorista;", lamentou a diretora para as Américas da AI, Erika Guevara, ao apresentar um relatório sobre esta problemática.
A ONG cita como exemplo um caso midiático registrado recentemente no Paraguai, onde ativistas da ONG CLADEM apoiavam o pedido de aborto de uma menina de 10 anos que foi estuprada por seu padrasto. A menina acabou tendo em agosto uma filha, depois que as autoridades negaram a ela o aborto, e os ativistas denunciaram ter recebido telefonemas ameaçadores por telefone.
Também relembra um caso em Yucatán, no leste do México, onde há "uma brutal campanha" contra integrantes da única organização que pratica o aborto legal, que "obrigou a grande maioria dos funcionários a renunciar a seu trabalho" por medo de que "acontecesse algo se soubessem que trabalhavam na clínica".
A Anistia também lembra outro caso ocorrido em El Salvador, onde uma organização é alvo de uma "cruel campanha de perseguições" por apoiar 17 mulheres condenadas à prisão acusadas de ter matado seus fetos, embora elas tenham alegado ter tido abortos espontâneos.
"Pessoas do governo e de grupos fundamentalistas nos atacaram e estigmatizaram com mentiras horríveis nos meios de comunicação e nas redes sociais", denunciou Sara García, da Agrupação Cidadã pela Descriminalização do Aborto em El Salvador.
Para a diretora para as Américas da AI, "as campanhas de difamação são uma tática bem conhecida das autoridades para tentar impedir que se fale de assuntos que são incômodos" e "costumam ser também um primeiro passo para levar os que o fazem aos tribunais". "Se os governos não assumirem sua responsabilidade de defender estas valentes defensoras dos direitos humanos e respeitar seu trabalho, tal situação seguirá piorando perigosamente no futuro imediato", advertiu.