Agência France-Presse
postado em 15/12/2015 12:12
Um ano depois do atentado contra uma escola do Paquistão, os pais mantêm a exigência de punição, tanto contra os talibãs que mataram a sangue frio 134 crianças, como contra as autoridades que não protegeram as vítimas. As operações militares e até mesmo os enforcamentos após o massacre representam um pequeno consolo para as famílias em luto, muitas delas pashtun, uma etnia inclinada à vingança.
Muitas denunciam o silêncio das autoridades, que ainda não explicaram como o sistema de segurança não conseguiu evitar a morte de 151 pessoas em uma escola administrada pelo exército em Peshawar, a grande cidade do noroeste paquistanês.
O atentado, o mais violento da história moderna do Paquistão, aconteceu em 16 de dezembro de 2014, quando nove extremistas em uniforme paramilitar invadiram a escola e mataram, um a um, alunos e professores, antes da ação das forças de segurança, que eliminou os agressores. "Há ao menos um determinado número de pessoas em um certo nível com parte da responsabilidade. Por quê não se fala disto?", pergunta Abid Raza Bangash, que perdeu o filho de 15 anos.
O atentado provocou uma forte comoção e escandalizou o país. Em resposta, as autoridades iniciaram uma campanha contra o extremismo entre a sociedade civil e intensificaram a ofensiva militar contra os grupos armados que antes operavam com total impunidade nas zonas tribais do noroeste do Paquistão.
Mas nenhum dirigente do exército, do governo ou dos serviços de segurança teve que prestar contas até o momento. "Queremos uma missão de investigação presidida por um juiz de alto nível. E que as conclusões da comissão sejam públicas", afirma Bangash, que abandonou o emprego de engenheiro para virar o representante dos pais das vítimas.
A volta da pena de morte
Em agosto, seis extremistas vinculados ao ataque foram condenados à morte e um sétimo à prisão perpétua, após um julgamento a portas fechadas, segundo o exército. A pena de morte foi restabelecida no país após o atentado, depois de seis anos de moratória. Quatro dos condenados foram enforcados no dia 2 de dezembro na prisão, para desespero dos parentes das vítimas, que desejavam assistir a execução.
De acordo com Bangash, "toda a nação queria ver estes animais enforcados publicamente, para dissuadir outros a seguir o exemplo". "Enquanto pashtun, acredito que seu enforcamento público seria uma solução para os pais, uma forma de apaziguamento", disse Ajun Khan, que perdeu o filho, Asfand. Ao mesmo tempo, os pais exigem uma investigação e não descartam recorrer à Corte Internacional de Justiça ou às Nações Unidas.
O governo da província de Khyber Pajtunkhwa, da qual Peshawar é a capital, descartou uma investigação judicial ao afirmar que os fatos foram estabelecidos com clareza. Ao mesmo tempo, anunciou que a investigação policial foi ampliada e as conclusões serão comunicadas em breve aos pais.
Alguns pais, no entanto, estão satisfeitos com a reação das autoridades. "Fomos ouvidos", declarou Tufail Jattak, ao recordar que as vítimas foram condecoradas a título póstumo e as famílias indenizadas. Mais de 100 escolas públicas foram rebatizadas com os nomes dos alunos falecidos.
Mas também existem aqueles que não consideram nem a vingança nem a indenização uma forma de consolo. "Queremos voltar apenas a ver nossos filhos", afirma, sem conter as lágrimas, Andelib Aftab, uma professora de Química que perdeu o filho Huzaifa, de 16 anos, e vários alunos.