Agência France-Presse
postado em 26/12/2015 10:34
Beirute, Líbano - Um total de 4 mil pessoas, tanto civis quanto milicianos jihadistas, serão evacuadas neste sábado de três bairros de Damasco, um dia após a morte de um líder rebelde em um bombardeio aéreo do regime sírio.A evacuação será realizada no âmbito de uma surpreendente trégua negociada entre o governo de Bashar al-Assad e representantes da população, para permitir a saída do campo de refugiados palestinos de Yarmuk e dos bairros de Qadam e Hajar al Aswadde de civis e de combatentes do grupo Estado Islâmico (EI) e da Frente al-Nosra.
Estes três bairros do sul da capital sofreram uma profunda degradação de suas condições de vida devido ao cerco imposto pelo exército desde 2013, afirma o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede em Londres. Trata-se do primeiro acordo deste tipo que envolve o EI, após o fracasso de quatro tentativas anteriores de negociação para evacuar a população, segundo uma fonte do governo.
[SAIBAMAIS]A operação será realizada em um contexto de tensão que aumentou com a morte de Zahran Allush, líder do Jaish al-Islam (Exército do Islã), principal grupo armado da região de Damasco, em um bombardeio reivindicado pelo exército de Assad. A morte de Allush representa uma ameaça para o frágil processo de negociações de paz entre o regime e os rebeldes que deve começar em janeiro em Genebra, estimam alguns especialistas.
A organização Jaish al-Islam, vinculada à Arábia Saudita, controla a maior parte da periferia leste da capital, bombardeada regularmente pelas forças governamentais e pela aviação russa. O governo sírio acusa este grupo de bombardear a capital.
Allush "morreu em um ataque contra a localidade de Al Marj, na Ghuta Oriental, junto a comandantes do Jaish al-Islam", confirmou à AFP na sexta-feira um dos responsáveis do movimento. Horas depois, a organização armada designou como líder Abu Himam al Buwaydani, de 40 anos, cuja família tem vínculos estreitos com a Irmandade Muçulmana, informou à AFP Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Em uma declaração televisionada, um porta-voz do exército indicou que as forças do regime realizaram bombardeios e mostrou vídeos do ataque. Um responsável de segurança explicou à AFP que os ataques eram provenientes de dois aviões sírios com mísseis fornecidos por Moscou. A reunião do grupo, segundo esta fonte, tinha por objetivo reorganizar as forças militares após a tomada da localidade de Marj al Sultan.
Várias dezenas de líderes e guarda-costas foram abatidos, entre eles doze do Jaish al-Islam e sete do Ahrar al-Sham, outro destacado grupo rebelde, acrescentou.
Golpe para os diálogos de paz
Geralmente vestido de farda e usando uma barba negra, Zahran Allush, de 44 anos, era filho de um pregador salafista que vive na Arábia Saudita. Foi detido pelo regime em 2009 e libertado em junho de 2011 no âmbito de uma anistia geral, três meses após o início do conflito sírio, que já deixou mais de 250 mil mortos. O movimento que dirigia, Jaish al-Islam, de inspiração salafista, é profundamente antialauita (o braço do xiismo professado pelo presidente Assad. Embora a princípio tenha se mostrado partidário da implantação de um Estado islâmico, recentemente adotou uma retórica mais moderada.
Hostil à organização EI, o grupo executou em julho vinte jihadistas, imitando a cenografia macabra de seus adversários; em novembro utilizou civis alauitas e soldados do regime como escudos humanos para evitar os bombardeios. A morte de seu líder ocorre pouco depois que o exército sírio, que desde 30 de setembro conta com o apoio dos bombardeios russos, anunciou o início de uma grande operação para reconquistar o leste da capital.
Jaish al-Islam forma parte das organizações que participarão em janeiro dos diálogos organizados pela ONU em Genebra para conquistar um acordo que coloque fim ao conflito. Para o especialista Aron Lund, a morte de Allush "pode afetar o processo de paz, desestabilizando o Jaish al-Islam e debilitando-o". "As negociações precisavam de um envolvimento por parte de extremistas como Zahran Allush para que fossem críveis", acrescentou, informando que "no seio da rebelião síria, Allush era um dos poucos que havia conseguido centralizar (o poder)".