Agência France-Presse
postado em 26/01/2016 14:03
Beirute, Líbano - O regime sírio retomou um estratégico reduto rebelde poucos dias antes das negociações de paz em Genebra, nas quais a oposição deve confirmar nesta terça-feira sua participação.O emissário da ONU, Staffan de Mistura, anunciou ter enviado convites aos participantes sírios, sem detalhar quais, para que participem das negociações de sexta-feira em Genebra.
Com o apoio da aviação russa, de combatentes do Hezbollah libanês e de oficiais iranianos, as forças do regime tomaram na segunda-feira a cidade de Sheikh Miskin na província de Deraa, perto da fronteira com a Jordânia.
Trata-se de uma vitória importante porque a cidade está em uma situação estratégica no norte de Damasco e no leste da cidade de Sueida, ambas nas mãos do regime, embora a maioria da província de Deraa siga nas mãos rebeldes, entre eles os da Frente al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda.
A Rússia, aliada fiel do regime sírio que intervém no conflito desde 30 de setembro, comemorou que sua intervenção tenha permitido "reverter a situação" em favor das forças governamentais.
"As ações das forças aéreas russas a pedido das autoridades sírias ajudaram realmente a reverter a situação e a reduzir o espaço controlado pelos terroristas", disse o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, em Moscou, em referência à Frente Al-Nosra e ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
As tropas do regime retomaram a ofensiva na guerra com o apoio da aviação russa e avançam nos fronts de Latakia (noroeste), Aleppo (norte) e Deraa.
No entanto, o regime segue recebendo ataques dos jihadistas, como um novo atentado suicida nesta terça-feira reivindicado pelo EI em Homs, no qual 22 pessoas morreram, muitas delas militares.
Segundo a televisão oficial, trata-se de um duplo atentado suicida contra um posto de controle militar no bairro de Zahra com um balanço de 22 mortos. Por sua vez, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) deu um balanço de 25 mortos, 15 deles membros das forças favoráveis ao regime.
Negociações indiretas
Diante de uma situação cada vez mais alarmante em nível militar e humanitário, as grandes potências buscam uma solução para este conflito que deixou 260.000 mortos desde março de 2011.
O emissário da ONU para a Síria, De Mistura, anunciou negociações indiretas a partir de sexta-feira entre o regime e a oposição, previstas inicialmente para segunda-feira.
As negociações, as segundas desde o início da guerra, devem durar seis meses, mas a coalizão da oposição no exílio ainda precisa confirmar nesta terça-feira se participará do encontro.
A coalizão designou como negociador principal Mohamed Alluch, chefe do grupo rebelde pró-saudita Jaich al-Islam, muito criticado pela oposição interna na Síria e pela Rússia.
Outros dos pontos de discórdia é a participação nas negociações dos curdos, na linha de frente na luta contra os jihadistas do EI.
Lavrov considera que os curdos, até o momento excluídos da delegação negociadora da oposição, deveriam participar se as partes quiserem obter resultados. Já a Turquia, contrária ao regime de Assad, se opõe à presença na mesa do PYD, o principal partido curdo sírio.
As negociações se baseiam no mapa do caminho votado em dezembro de 2015 pelo Conselho de Segurança da ONU que prevê um cessar-fogo, um governo de transição em seis meses e eleições em 18.
Por sua vez, Lavrov desmentiu que o presidente russo Vladimir Putin tenha pedido para Assad abandonar o poder ou que tenha oferecido asilo a ele na Rússia. "Não é verdade", afirmou.
A ONU e os países ocidentais querem tentar evitar um novo fracasso diplomático como o das negociações do início de 2014, ao mesmo tempo em que seguem reforçando sua luta contra o EI na Síria e no Iraque.