Agência France-Presse
postado em 27/01/2016 15:31
A oposição síria adiou até a quinta-feira uma decisão sobre sua participação nas negociações com o regime de Damasco, previstas para a sexta-feira em Genebra, informou um porta-voz nesta quarta-feira.O Alto Comitê das Negociações (ACN) que teoricamente deve encabeçar a delegação de opositores, decidiu suspender suas conversações para retomá-las na manhã de quinta (05h00 de Brasília), informou seu porta-voz, Salem al Meslet.
Os opositores aguardavam respostas do emissário da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, a perguntas feitas por eles, em especial sobre a ajuda humanitária.
"Dizermos sim ou não depende da resposta de De Mistura", disse al Meslet à AFP e a uma emissora de TV árabe.
O ACN foi criado em dezembro, em Riad, por grupos opositores e é liderado por Mohammed Alush, o líder do grupo armado rebelde pró-saudita, Jaish al Islam.
O ACN quer ser o único representante da oposição nas negociações indiretas com o regime de Bashar al Assad, discussões que apontam a por um fim ao conflito que deixou mais de 260 mil mortos em cinco anos.
O emissário da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, enviou na terça-feira os convites à conferência, mas não se sabe a quem estavam dirigidos.
O ACN é considerado o único habilitado para participar, mas algumas figuras da oposição que não formam parte da instância disseram à AFP ter recebido convites.
Entre as figuras da oposição convidadas, mas que não formam parte do ACN está Quadri Jamil, ex-vice-primeiro-ministro sírio que foi demitido em 2013 e que tem boas relações com a Rússia, aliada do regime, e Haytham Manna, co-presidente do Conselho Democrático Sírio (CDS), uma aliança de opositores curdos e árabes.
O CDS é o braço político das Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança rebelde apoiada pelos Estados Unidos e composta principalmente pelas Unidades de Proteção do Povo (YPG), uma milícia curda que controla zonas do norte da Síria.
Participação dos curdos
A participação dos curdos - na linha de frente na luta contra os jihadistas do Estado Islâmico, presentes em várias zonas de Síria e Iraque - é um dos pontos de discórdia entre as potências estrangeiras presentes no conflito.
A Turquia se opõe categoricamente a sua participação nas negociações, porque considera que as YPG formam parte do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que desde 1984 realiza uma rebelião em território turco.
As autoridades turcas já disseram nesta quarta-feira que não estarão em Genebra se o Partido de União Democrática (PYD), o braço político das YPG, comparecer. A Rússia considera, por sua vez, que sem os curdos as negociações não darão resultado.
Uma porta-voz de De Mistura indicou nesta quarta-feira, no entanto, que a ONU não tem nenhuma intenção de convidar ninguém que não seja sírio, em referência às grandes potências, como a Turquia.
O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, disse que ainda há três problemas relacionados às negociações: "Quem participa de verdade, o que será feito com a questão humanitária e o que será discutido".
O ACN também pediu à ONU detalhes sobre as medidas humanitárias e solicita o levantamento das zonas sitiadas, o fim dos bombardeios e ajuda humanitária.
As negociações, previstas para durar seis meses, se baseiam no mapa do caminho votado em dezembro no Conselho de Segurança da ONU, que prevê um cessar-fogo, um governo de transição em um período de seis meses e eleições em 18 meses.
A oposição pede a saída de Assad quando o período de transição começar.
Em campo, as forças do regime, com o apoio da aviação russa, conquistaram uma nova vitória contra os rebeldes na segunda-feira, com a retomada de Sheikh Miskin, uma cidade estratégica ao norte de Damasco e a leste da cidade de Sudeia (sul).