Agência France-Presse
postado em 28/01/2016 16:05
Riade, Arábia Saudita - A incerteza persistia nesta quinta-feira sobre a participação de grupos da oposição síria nos diálogos de paz sobre a Síria previstas para começar em Genebra na sexta-feira.Apesar da indecisão, a ONU afirmou que manterá, como previsto, a reunião.
Enquanto todos os olhos estavam voltados para Riad, onde a oposição está reunida, a violência não dava trégua na Síria. Ao menos 54 civis, sendo 15 crianças, morreram nas últimas 24 horas em bombardeios russos sobre zonas controladas pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) nas regiões norte e leste da Síria, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Depois de um adiamento inicial no início desta semana, a abertura na sexta-feira de uma nova rodada de negociações em Genebra foi confirmada apesar da indecisão dos líderes do Alto Comitê de Negociação (ACN), reunidos pelo terceiro dia consecutivo em um hotel de Riad.
Uma figura da oposição convidada a Genebra, Haytham Manna, advertiu que era muito provável que as negociações fossem adiadas "para o dia 1; do próximo mês (fevereiro)", em razão dos "muitos problemas que restam a resolver".
"O ACN não decidiu se participará ou não em Genebra", limitou-se a dizer uma fonte próxima à comissão, sem especificar se um anúncio seria feito ainda hoje.
O ACN foi especialmente criado em dezembro para representar os principais grupos políticos e armados da oposição nas negociações indiretas com o regime de Bashar al-Assad.
A incerteza sobre o seu envolvimento preocupa a comunidade internacional, que espera alcançar em Genebra uma solução política para o conflito que já fez mais de 260.000 vítimas e milhões de deslocados desde 2011.
Ela também vê como uma maneira de concentrar as forças na luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
Questão humanitária ;inegociável;
Os Estados Unidos, que lideram uma coalizão internacional contra o EI, pediram nesta quarta-feira aos grupos da oposição síria que participem, sem condições prévias, das negociações de paz que começarão em Genebra.
"As diversas facções da oposição síria têm uma oportunidade histórica para ir a Genebra e propor medidas concretas para colocar em prática um cessar-fogo, o acesso humanitário e outras medidas que restaurem a confiança. E devem fazê-lo sem condições prévias", declarou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Mark Toner.
Para Agnes Levallois, especialista em Oriente Médio, "a oposição está descontente porque sua margem de manobra encolheu" particularmente por causa das recentes vitórias do regime com a ajuda da Rússia, "consolidando a força de Assad".
"A verdadeira questão é: ;será que vale a pena ir a Genebra e participar de uma farsa; organizada pelo regime e os russos quando não se tem nada a ganhar?", acrescentou.
O Alto Comitê de Negociações indicou na quinta-feira que recebeu respostas satisfatórias às questões colocadas ao enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, mas disse que esperar outras do secretário-geral Ban Ki-moon.
Em sua resposta, de Mistura deu garantias sobre os pontos da resolução 2254, no qual o Conselho de Segurança da ONU pediu a suspensão dos bombardeios em áreas civis e um acesso aos civis nas áreas sitiadas.
Reunião em Munique?
Apesar de insistir ser o único representante da oposição síria, o ACN quer que se "esclareça a natureza dos convites" enviados a outras organizações ou personalidades opositoras.
Entre elas está Manna, co-presidente do Conselho Democrático Sírio (CDS), uma aliança de opositores curdos e árabes.
A participação dos curso, principal ator na luta contra o EI, é um dos pontos de discórdia entre os diferentes grupos de oposição e os países estrangeiros envolvidos no conflito, como a Turquia que se opõe.
A resolução 2254 prevê, entre outras coisas, uma reunião em janeiro entre representantes da oposição e do regime, um governo de transição no prazo de seis meses, e eleições dentro de 18 meses.
Neste contexto, a Rússia, propôs organizar uma reunião internacional sobre o conflito na Síria com líderes ocidentais, árabes e iranianos em 11 de fevereiro em Munique.