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Potências impõem negociações sobre a Síria apesar de interesses opostos

Os protagonistas têm posições contrárias obre estas questões fundamentais e algumas mais

Agência France-Presse
postado em 31/01/2016 15:18
Genebra, Suíça - A pressão internacional desbloqueou finalmente o início das negociações de paz sobre a Síria em Genebra, mas os atores ocidentais, árabes, russo e iraniano têm interesses opostos e visões muito diferentes sobre como solucionar o conflito.

Quem são os "terroristas" na Síria? Que papel o presidente Bashar al Assad pode desempenhar? Quais são as prioridades? Os protagonistas têm posições contrárias obre estas questões fundamentais e algumas mais.

Iniciado em março de 2011 com uma revolta popular contra o regime de Assad, o conflito se regionalizou rapidamente antes de se internacionalizar a partir de 2014, contribuindo para criar um intrincado caos no terreno, cuja única vítima é a população civil.

De um lado, Rússia e Irã apoiam sem reservas, financeira e militarmente, o regime de Damasco, e não parecem dispostas a deixar o presidente Assad cair.

Do outro, os países ocidentais, as monarquias sunitas do Golfo e a Turquia querem a partida a curto prazo do presidente sírio, considerado o carrasco do seu próprio povo, e apadrinham cada um deles diferentes grupos de opositores no terreno.

No entanto, todos eles, tando os que apoiam Damasco quanto a oposição, asseguram que querem lutar contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) e, com este pretexto, bombardeiam alvos na Síria.

Todos os atores internacionais destacam, ainda, seu compromisso na busca de uma solução política para o conflito e conseguiram entrar em acordo em novembro em Viena. Em dezembro, também acordaram nas Nações Unidas um mapa do caminho para sair da crise.

Mas por trás deste esquema relativamente simples, os interesses e as agendas de uns e de outros estão tão distantes e os desafios são tão importantes que o processo de Genebra parece a princípio ter começado com o pé esquerdo, resume uma fonte diplomática europeia.

Para Teerã e Moscou, a Síria é um assunto crucial por várias razões. "Se o Irã perder a Síria, perde de longe seu principal aliado no Oriente Médio. Se a Rússia perder a Síria, será um revés geopolítico", dizia recentemente à AFP Shashank Joshi, pesquisador do Royal United Services Institute (RUSI) de Londres.

Teerã, que enviou milhares de "conselheiros militares" no terreno na Síria, quer assegurar seu braço armado na região, o movimento xiita libanês Hezbollah, que combate junto às tropas de Assad.

A Síria constitui para Moscou sua última possibilidade de influência e consolidação no Oriente Médio. Por isso, lançou em setembro uma intervenção militar para bombardear os "terroristas", embora estes ataques aéreos tenham reforçado, na realidade, um regime em dificuldades, cujo exército recuperou terreno no norte, no noroeste e no sul.

Uma oposição com apoios distintos

Diante dos pesos-pesados Irã e Rússia, o grupo ocidental e árabe apoia uma oposição que parece com frequência dispersa.

Os Estados Unidos renunciaram em agosto de 2013 atacar o regime de Bashar al Assad, acusado de ter cometido um "massacre químico" na região da Guta, arredores de Damasco.

O presidente americano, Barack Obama, foi eleito em parte por sua promessa de retirar as tropas da região e seu país não tem interesses vitais na Síria. Washington combate militarmente o EI, apoia os grupos de oposição moderada, especialmente uma força curda e árabe sunita, mas não considera a saída de Assad uma prioridade absoluta.

Já outros membros da coalizão anti-jihadista, como França e Reino Unido, têm, sim, interesses diretos na Síria.

Os atentados de 2015, reivindicados pelos jihadistas do EI, atingiram em cheio Paris, que, ao lado de Berlim, Londres e toda a Europa, também enfrenta a maior crise de migrantes no Velho Continente, a maioria sírios, desde a Segunda Guerra Mundial.

Os países árabes, especialmente a Arábia Saudita e o Catar, desempenham um importante papel no conflito na Síria, onde lutam contra o Irã, seu primeiro e principal adversário na região, apoiando grupos opositores sírios. Riad e Doha financiam precisamente grupos armados salafistas na Síria.

E embora a oposição política e militar tenha conseguido mais ou menos unir-se em dezembro na Arábia Saudita, o regime sírio e seus aliados rebatem sua representatividade.

Finalmente, a Turquia, um país essencial, mas frágil na coalizão contra os jihadistas, também tem seus próprios interesses. Ancara, acusada durante muito tempo de ser indulgente com os combatentes do Estado Islâmico (EI), considera os curdos sua principal ameaça, apesar de os jihadistas do EI terem lançado em solo turco atentados mortais.

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