Paris, França - O presidente francês, François Hollande, pediu nesta segunda-feira (1;/2) aos Estados Unidos que suspenda por completo o embargo a Cuba, após receber seu contraparte cubano, Raúl Castro, na primeira visita de Estado de um dirigente da ilha comunista à França.
"O presidente Obama, que fez com que avançasse, deve, disse-o ele mesmo, ir até o final" da suspensão do embargo, um "vestígio da Guerra Fria", afirmou Hollande, em declaração à imprensa após o encontro.
"A França sempre esteve convencida de que, apesar das tensões internacionais que possam existir, havia a necessidade de suspender o embargo e, portanto, o fim do bloqueio" a Cuba.
Este embargo "deve ser apagado para que Cuba assuma plenamente seu lugar. É a vontade deste país e a vontade da comunidade internacional", disse.
A visita de Raúl Castro à França, dominada por temas econômicos, carrega uma forte dimensão simbólica da abertura de Cuba ao mundo após o degelo com os Estados Unidos.
Vestindo trajes civis, Castro agradeceu a Hollande o apoio da França, qualificando o embargo americano de "principal obstáculo ao desenvolvimento do nosso país".
Ele agradeceu, ainda, a "liderança da França" no avanço das relações que Cuba mantém há quase dois anos com a UE com vistas a um acordo de diálogo político e cooperação com o bloco europeu.
Cooperação, dívida e também direitos humanosOs dois chefes de Estado qualificaram de intensas e frutíferas suas conversações.
"Não excluímos nenhum tema, inclusive os direitos das pessoas, aos quais a França sempre esteve apegada e que lembra a cada instante, em toda circunstância e em todos os países", acrescentou Hollande, como que respondendo de antemão eventuais críticas sobre o descuido dos direitos humanos em prol de interesses econômicos.
O encontro entre Raúl Castro e Hollande durou uma hora e levou à assinatura de meia dúzia de acordos de cooperação nos setores de turismo, transporte e comércio justo, mas sobretudo sobre a reestruturação da dívida de Cuba com a França, que se agrega à anulação, acertada em dezembro, no âmbito das negociações com o Clube de Paris.
"Queremos ir além no campo bilateral", disse Hollande.
Além dos juros atrasados (3,7 bilhões de euros) previstos neste acordo, a França anulará progressivamente a dívida principal e os jutos originais (530 milhões de euros).
No âmbito da reestruturação da dívida, Hollande anunciou um "fundo franco-cubano dotado de mais de 200 milhões de euros para acelerar os projetos de investimento da França em Cuba". A Agência Francesa de Desenvolvimento ficou encarregada de identificar os projetos deste fundo.
Segundo Raúl Castro, o acordo "cria condições mais favoráveis para o desenvolvimento das relações financeiras e a execução de novos projetos compartilhados".
Finalmente, os dois chefes de Estado anunciaram que haverá em maio próximo um mês cultural cruzado da França em Cuba e de Cuba na França.
Mais tarde, Raúl Castro foi o convidado de honra de um jantar de gala no Palácio do Eliseu, sede do Executivo francês, ao qual estiveram presentes o cineasta Costa Gavras, a cantante Barbara Hendricks e o músico David Guetta.
Em seu brinde, Hollande e Castro reforçaram os laços históricos que unem seus países.
O presidente cubano destacou "o legado histórico dos revolucionários franceses" e sustentou o "direito inalienável de todos os países a decidir seu sistema político".
Na terça-feira, Raúl Castro se reunirá com a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, com os presidentes da Assembleia e do Senado, com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e o premiê, Manuel Valls, antes de visitar o recém-restaurado Museu do Homem.
Por sua vez, o vice-presidente cubano, Ricardo Cabrisas, se reunirá com empresários franceses na manhã de terça-feira na sede do Medef, a principal organização empresarial da França.
Raúl Castro terminará sua visita à França na quarta-feira.
Desde que foi eleito em maio de 2012, o presidente francês recebeu vários dirigentes latino-americanos, fez várias visitas a países da região (Brasil, México, Cuba) e viajará em breve para Peru, Argentina e Uruguai.