Agência France-Presse
postado em 02/02/2016 15:11
O presidente cubano Raúl Castro cumpre com uma agenda de reuniões nesta terça-feira com altas autoridades políticas francesas, no segundo dia de sua visita de Estado à França, que abre uma nova página nas relações internacionais da ilha em seus esforços para pôr fim ao embargo norte-americano.
Cultura e política dominam a apertada agenda de Castro, que começou o segundo dia de sua visita de Estado à França com uma reunião com a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, que o elogiou pelo "processo de transformação e abertura" de seu país, segundo fontes da organização com sede em Paris.
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[SAIBAMAIS]Castro e Bokova destacaram as excelentes relações bilaterais entre Cuba e a Unesco, cuja sede regional latino-americana está em Havana. O governante reiterou no encontro que "Cuba está disposta a colaborar com todos os países do mundo", recordando seu papel de mediadora no processo de paz colombiano e sua ajuda para combater a epidemia do Ebola na África, segundo as mesmas fontes.
O presidente cubano se reuniu depois com o presidente da Assembleia Nacional, Claude Bartolone. Após um almoço com o presidente do Senado, Gérard Larcher, participará de reuniões durante a tarde com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e com o primeiro-ministro Manuel Valls. Durante a noite, seu programa oficial terminará com uma visita ao Museu do Homem, recentemente restaurado.
Diversificação
No capítulo econômico, o vice-presidente Ricardo Cabrisas e o ministro de Comércio Exterior, Rodrigo Malmierca, que acompanham Castro na viagem, reuniram-se com empresários franceses na sede do MEDEF, a principal organização empresarial francesa, onde destacaram o compromisso de Cuba de diversificar suas relações comerciais, uma vez que seja levantado o embargo imposto pelos Estados Unidos ao país.
"Posso assegurar-lhes que está muito longe de nossa intenção que (novos) empresários substituam os de outros países que estiveram durante todo este tempo trabalhando conosco com sucesso", declarou Malmierca.
"Logicamente, não vamos bloquear os empresários dos Estados Unidos, também serão bem-vindos", mas temos "uma forte vocação de diversificação de nossas relações econômicas".
"Não queremos voltar a depender de um só mercado no futuro", disse o ministro, como foi o caso na história de Cuba com os Estados Unidos depois da independência e com a URSS depois da revolução.
"Queremos separar o Estado da direção empresarial", afirmou, destacando que os empresário cubanos "devem reagir agora sem esperar orientações do governo".
Modelo chinês
Estas afirmações refletem uma nova política cubana, que se verá favorecida pelo acordo firmado na segunda-feira, em Paris, sobre a dívida cubana com a França, na esteira do alcançado em dezembro por Havana com o Clube de Paris, e o apoio dado a Cuba pelo presidente francês, François Hollande, no plano internacional, declarou o pesquisador Jean-Jacques Kourliandsky.
"Cuba orienta-se até um modelo chinês, com uma economia mais aberta e um sistema político sob controle", considera Kourliandsky, especialista na América Latina do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris.
Hollande pediu na segunda-feira aos Estados Unidos que levantem totalmente o embardo à ilha, que classificou de "vestígio da Guerra Fria", e afirmou que hoje se abre "uma nova página da história entre França e Cuba, mais adiante entre Europa e Cuba e amanhã entre o mundo e Cuba".