Beirute, Líbano - Milhares de pessoas que fogem da grande ofensiva do regime sírio contra os rebeldes, cada vez mais encurralados, estão saturando os improvisados campos de refugiados no norte da Síria, junto à fronteira turca.
Na província de Aleppo, a situação humanitária continua piorando e, segundo a ONU, 31.000 pessoas, 81% delas mulheres e crianças, fugiram nos últimos dias.
Por sua parte, as ONGs PAX e Tha Syria Institute afirmaram que mais de 1 milhão de sírios vivem sob sítio em 46 cidades depois de quase cinco anos de guerra, "muito mais do que acredita a ONU".
A maioria dos deslocados estão bloqueados em Oncupinar, o único ponto de passagem até a Turquia, que as autoridades turcas mantém fechado apesar da pressão internacional. "Estão bloqueados, abandonaram suas casas e seus pertences e não podem entrar na Turquia, lamentou Ahmad al Mohammad, da organização Médicos Sem Fronteiras.
Os campos de refugiados estão saturados e "não há lugar suficiente para acolher a todas as famílias", explica este responsável, que todo dia viaja à província de Aleppo desde a Turquia.
Na localidade de Azaz e seu arredores, situadas a cinco quilômetros da fronteira turca, famílias inteiras não têm mais solução do que dormir à intempérie ou em tendas abarrotadas com capacidade para sete pessoas, mas nas quais dormem até 20. "A maioria das famílias fugiram levando só a roupa do corpo", assegura Mohammad, e adverte que começaram a registrar casos de diarreia provocada pelo frio e pela confusão.
AS ONGs distribuem roupa, colchões e ajuda humanitária que a Turquia deixa transitar por sua fronteira. O secretário-geral adjunto de Assuntos Humanitários da ONU, Stephen O;Brien, disse estar "profundamente preocupado" pela situação e assegurou ter informações de civis mortos e feridos e de hospitais que haviam sido afetados pelo conflito.
O;Brien pediu às partes que não ataquem infra-estruturas civis e que permitam à população se deslocar até zonas seguras.
Turquia em primeira linha
A Turquia, em primeira linha do conflito e que já acolhe em seu território 2,7 milhões de refugiados, teme outra onda de deslocados. "Até quando seja possível nosso objetivo é manter do outro lado das fronteiras turcas esta onda de migrantes e proporcioná-los os serviços necessários onde estão", disse nesta segunda-feira o vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmus.
A agência da ONU para os refugiados (Acnur) pediu nesta terça-feira ao governo turco que "abra suas fronteiras a todos os civis que fogem do perigo e que estão buscando proteção".
Nesta terça-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, assegurou que estudaria "muito seriamente" qualquer petição de ajuda da Turquia para lutar contra os traficantes de migrantes em suas costas.
Esta questão será debatida na quarta-feira e na quinta-feira em Bruxelas pelos ministros da Defesa da Otan. Também na quinta-feira será realizada uma conferência internacional sobre a Síria em Munique (Alemanha).
Os Estados Unidos e a Arábia Saudita, dois países hostis ao regime de Bashar Al-Assad e a intervenção russa para apoiá-lo, pediram novamnete um cessar fogo.
No local, a situação é cada vez mais difícil para os rebeldes, que estão perdendo terreno em várias regiões, em particular em Aleppo, onde o exército só está a vinte quilômetros da fronteira turca e se aproxima de Tall Raifaat. Esta localidade é um dos três últimos redutos nas mãos dos rebeldes, mais armados que o exército e que abandonam algumas zonas para minimizar suas baixas.
As forças do regime também consolidam suas posições no norte da cidade de Aleppo, cujos bairros do leste estão nas mãos dos insurgentes, afora quase encurralados.
Em paralelo, o conflito continua em outras partes da Síria e nesta terça-feira um carro-bomba matou ao menos nove pessoas e feriu outras 20 em Damasco, em um atentado contra um clube da polícia, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos.