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Temas espinhosos farão parte da agenda de Obama em visita a Cuba

Regime de Raúl Castro aceita discutir tema e afirma que vizinho será bem-vindo. Última viagem de um presidente dos EUA ao país ocorreu em 1928

Rodrigo Craveiro
postado em 19/02/2016 06:00

Raúl Castro e Obama em histórico aperto de mãos, durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro: reaproximação começou em dezembro de 2014


;No próximo mês, eu viajarei a Cuba para avançar o nosso progresso e os esforços que possam melhorar as vidas do povo cubano. Ainda temos diferenças com o governo cubano, as quais eu abordarei diretamente. A América sempre se levantará pelos direitos humanos ao redor do mundo.; Ao confirmar a histórica viagem à ilha caribenha, por meio de seu perfil no Twitter, o presidente norte-americano, Barack Obama, deixou claro que temas espinhosos para o regime de Raúl Castro farão parte da agenda. Obama deve desembarcar em Havana em 21 de março e retornar a Washington no dia seguinte. Será a primeira visita de um mandatário dos EUA em 88 anos ; em 1928, o então presidente Calvin Coolidge chegou a Cuba a bordo de um navio de guerra e foi recebido pelo homônimo, general Gerardo Machado.

O anúncio foi recebido com fortes críticas por dois expoentes da oposição republicana. Os pré-candidatos à Presidência dos EUA Marco Rubio e Ted Cruz, ambos de descendência cubana, disseram que não visitariam a ilha. ;Minha família viu, em primeira mão, o mal e a opressão em Cuba. O presidente deveria defender uma Cuba livre;, declarou Cruz, no Twitter. Rubio lembrou à rede de TV CNN que ;não existem eleições em Cuba;. ;Hoje, um ano e dois meses depois da abertura a Cuba, o governo cubano continua tão repressivo como sempre.;

Além de selar a reaproximação entre os vizinhos, iniciada 14 meses atrás, a presença de Obama ; Prêmio Nobel da Paz ; deve marcar peso na assinatura do acordo para o fim do conflito entre a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e Bogotá, prevista para 23 de março. Por ora, a Casa Branca sustenta ;não estar programado; um encontro com o líder e comandante da Revolução Cubana Fidel Castro. O governo do irmão e presidente Raúl Castro reagiu positivamente ao anúncio da visita de Obama.

Josefina Vidal, diretora do Departamento dos Estados Unidos da chancelaria de Cuba, garantiu que o norte-americano será bem recebido. ;Cuba está disposta a dialogar com o governo dos Estados Unidos sobre qualquer tema, incluindo os direitos humanos, sobre o qual temos diferentes concepções;, afirmou. Segundo ela, Cuba ;tem opiniões sobre o exercício dos direitos humanos em muitos países, incluindo nos EUA, e muitas experiências exitosas para compartilhar neste campo;. Pouco antes, ela publicou nas redes sociais que Obama terá a oportunidade de conhecer a realidade local e aprofundar o diálogo e a cooperação bilateral. ;A normalização dos vínculos passa pelo levantamento do bloqueio (econômico) e pela devolução do território ocupado pela Base Naval de Guantánamo;, escreveu no Twitter.

Divergências
Em entrevista ao Correio, especialistas e ícones da oposição cubana divergiram sobre o simbolismo da visita. Para o cubano Antonio Morales-Pita, professor de economia da DePaul University (em Chicago), esta será a última chance de Obama provar ser a favor da democracia e da liberdade. ;Se ele se reunir com Raúl, mas não com a oposição, será uma indicação de que não se interessa pelos reais problemas do povo cubano;, afirmou. ;Eu admiro o senhor Obama por sua sistemática batalha em prol do acesso ao cuidado à saúde de seu povo e por contribuir com a melhoria da economia cubana. Espero que ele mostre apoio pela oposição.;

Sebastián Arcos, diretor do Instituto de Pesquisa Cubana da Universidade Internacional da Flórida (FIU), classifica a viagem de ;erro trágico;. ;A visita de um presidente norte-americano é poderoso símbolo de legitimidade, geralmente empregado para acelerar uma aliança estratégica ou um evento histórico transcendental. Não é o caso. A presença de Obama vai consolidar a oligarquia castrista no poder;, comentou o cubano exilado em Miami. Ele explica que, ao ;louvar a oligarquia castrista;, Obama adia indefinidamente mudanças urgentes para a ilha. ;O que Cuba precisa é de novo governo e de uma verdadeira transição a um modelo democrático de mercado;, defende.

Em Havana, Berta Soler, líder do grupo de ativistas Damas de Blanco, disse ao Correio não ter decidido se entrará com uma petição na Embaixada dos EUA para audiência com o visitante. ;Se Obama se mantiver em silêncio sobre as violações dos direitos humanos em meu país, ele será cúmplice do regime cubano e não ajudará o meu povo, conforme prometeu;, advertiu. Morador de Santiago de Cuba (sudeste) e um dos 75 presos de consciência, José Daniel Ferrer confia que a passagem de Obama possa ter impacto positivo. ;Creio que vamos escutar um Obama solidário com as vítimas da repressão. Esperamos nos encontrar com ele e expôr as inquietações. Falar sobre os graves problemas afetam o nosso povo, como as flagrantes violações dos direitos e das liberdades fundamentais. Tomara que ele impulsione uma profunda reforma, para que meu país saia da miséria;, desabafou.

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