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Moscou e Washington aumentam pressão por trégua na Síria

O cessar-fogo é parcial, porque exclui os grupos jihadistas Estado Islâmico (EI) e Frente Al-Nosra

Agência France-Presse
postado em 24/02/2016 18:25

A Rússia e os Estados Unidos aumentaram nesta quarta-feira (24/02) a pressão sobre seus aliados na guerra na Síria, a fim de impor um cessar-fogo a partir de sábado, mas que ainda parece distante de ser conseguido.

O cessar-fogo é parcial porque exclui os grupos jihadistas Estado Islâmico (EI) e Frente e Al-Nosra (ramo sírio da Al-Qaeda), que controlam grandes porções do território, mas que continuam sujeitos a ofensivas do exército sírio apoiado pelos ataques russos e da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

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Neste conflito devastador que já fez mais de 270.000 vítimas e desalojou mais da metade da população em quase cinco anos, a Rússia e o Irã apoiam o regime de Bashar al-Assad, enquanto os Estados Unidos, a Arábia Saudita e Turquia apoiam os rebeldes.

O cessar-fogo, previsto para entrar em vigor na sexta-feira às 22h00 GMT (sábado à 0h00 local), teoricamente, deveria aplicar-se a esses protagonistas.

Mas os rebeldes estão muito enfraquecidos frente ao crescimento dos grupos jihadistas e, portanto, marginalizados na equação síria. O regime, no entanto, ganhou terreno com a ajuda da Rússia.

O presidente americano, Barack Obama, expressou nesta quarta estar prudente "para não criar expectativas muito grandes" quanto ao cessar-fogo.

"Se nas próximas semanas constatarmos uma redução da violência (...) poderia constituir uma base para um cessar-fogo mais prolongado (...) que nos permitiria avançar para uma transição política", afirmou após um encontro com o rei Abdullah II da Jordânia.

O presidente sírio, Bashar al-Assad, garantiu ao seu colega russo, Vladimir Putin, que está disposto a respeitar o projeto de acordo americano-russo de cessar-fogo entre o regime e a oposição na Síria.

O presidente sírio considerou que esta trégua é "um passo importante para uma solução política ao conflito".

Já o exército russo afirmou que começou as negociações de cessar-fogo com grupos rebeldes em cinco províncias sírias para a aplicação do acordo obtido, Hama, Homs, Latakia, Damasco e Deraa.

Ajuda humanitária

O Kremlin multiplicou nesta quarta as consultas diplomáticas com os países do Oriente Médio envolvidos no conflito. Neste sentido, Putin discutiu com o líder sírio, com o rei Salmane da Arábia Saudita, que financia os rebeldes sírios, e com o presidente iraniano Hassan Rohani, aliado político e militar de Damasco.

De acordo com o Kremlin, "o rei da Arábia Saudita saudou o acordo concluído (sobre um cessar-fogo) e está disposto a trabalhar com a Rússia para a sua implementação".

E os líderes russo e iraniano reiteraram "a importância do trabalho conjunto da Rússia e do Irã na resolução da crise síria, especialmente na luta incansável contra o grupo jihadista Estado Islâmico, contra a Frente al-Nusra e contra as outras organizações terroristas presentes na lista negra do Conselho de Segurança das Nações Unidas".

Os rebeldes temem que Damasco aproveite esta trégua para atingir as regiões onde são aliados da Al-Nosra, como Idleb (noroeste) ou Aleppo (norte).

Um general sírio afirmou nesta quarta que a emblemática cidade rebelde de Daraya, perto de Damasco, seria excluída das zonas de cessar-fogo, mesmo se os jihadistas são minoria.

Tendo entrado no conflito há duas semanas com bombardeios um importante grupo armado curdo, a Turquia considerou que esta milícia deveria ser excluída do cessar-fogo.

No plano humanitário, a ONU lançou pelo ar pela primeira vez ajuda humanitária na Síria, segundo o diretor de Operações Humanitárias da ONU, Stephen O;Brien.

"Nesta manhã um avião do Programa Alimentar Mundial (PAM) lançou uma primeira carga de 21 toneladas de provisões em Deir Ezzor" (leste da Síria), indicou O;Brien, acrescentando que a operação foi bem-sucedida.
Plano B?

A trégua proposta, cujos termos foram definidos por Moscou e Washington, aparece cerca de três semanas após o fracasso das negociações de paz em Genebra e após um cessar-fogo que deveria entrar em vigor na sexta-feira, de acordo com um acordo patrocinado por Moscou e Washington, foi ignorado.

Enquanto isso, o secretário de Estado americano, John Kerry, admitiu na terça-feira ante o Senado que um eventual "plano B" para a Síria seria discutido em caso de fracasso do processo diplomático e político que os Estados Unidos e a Rússia estão tentando avançar.

Os acordos internacionais preveem também um processo de transição política, com eleições e uma constituição nos próximos meses.

"Saberemos em um mês ou dois, se o processo de transição é realmente sério", afirmou Kerry. "Se este não for o caso (...) opções para um plano B serão, obviamente, examinadas", insistiu, mas sem dar detalhes.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ressaltou nesta quarta-feira que é "prematuro" falar sobre Plano B.

"A tarefa mais urgente é alcançar um cessar-fogo com os grupos que apoiam a iniciativa dos dois presidentes", acrescentou.

"Partimos do princípio que houve tantos esforços para chegar a este comunicado conjunto (com os Estados Unidos), que é necessário implementá-lo agora e não trabalhar em planos B", declarou, por sua vez, a porta-voz da diplomacia russa Maria Zakharova.

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