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Funcionários públicos cruzam os braços em Buenos Aires

Líder dos protestos celebra o primeiro ato contra o governo

Rodrigo Craveiro
postado em 25/02/2016 06:00


Salários dignos, fim das demissões e da precarização trabalhista, negociações livres sobre aumento salarial, defesa da seguridade social, oposição à criminalização dos protestos. Com essas demandas, milhares de funcionários públicos cruzaram os braços, percorreram a Avenida 9 de Julio e se concentraram na Praça de Maio, no centro de Buenos Aires. Foi a primeira grande manifestação contra o presidente Mauricio Macri, empossado em 10 de dezembro passado.

Enquanto mais de 30 mil pessoas atendiam à convocação da Asociación Trabajadores del Estado (ATE) ; incluindo profissionais do setor de saúde, agentes legislativos e judiciais, docentes e integrantes de organizações sociais ;, Macri recebia na Casa Rosada o colega francês, François Hollande. A dispensa de 21 mil trabalhadores de distintos órgãos, incluindo a Secretaria-Geral da Presidência, foi o estopim das manifestações de ontem, que não contaram com a presença da Confederación General del Trabajo (CGT), de inclinação peronista.

Em entrevista ao Correio, Oscar de Isasi, secretário-geral da ATE para a província de Buenos Aires e um dos líderes dos protestos, classificou a greve de ontem como ;contundente;. ;Ela foi sentida não apenas na capital, mas em todas as províncias. Com essa mobilização, nós reclamamos um aumento salarial que recupere o poder aquisitivo, ante a brutal desvalorização do peso, o aumento de preços e os chamados ;tarifaços;. Também exigimos o término das demissões, a reincorporação dos companheiros, o fim da precarização trabalhista e da crescente criminalização do protesto, a qual tem um protocolo ;civilizador; lançado pelo governo;, declarou Isasi, enquanto marchava pelas ruas de Buenos Aires. A ATE congrega 240 mil afiliados em todo o país.

O sindicalista lembra que, ao preterir o kirchnerista Daniel Scioli, o povo argentino votou pela mudança. ;Mas não esse tipo de transformações;, alertou. ;Macri se equivoca, caso ele pense que pode aplicar receitas que fizeram muito dano a este país. As pessoas votaram, mas não lhe deram um cheque em branco. Hoje, ficou demonstrado nas ruas que a população não permitirá um ajuste brutal sobre a classe trabalhadora;, ironizou.

;A mobilização foi muito massiva, já que era apenas uma grave nacional de trabalhadores do Estado. Macri não pôde aplicar o protocolo de regulamentação dos protestos;, afirmou à reportagem Leandro Morgenfeld, professor de história argentina pela Universidad de Buenos Aires. Pelas novas normas, as autoridades concedem cinco minutos a quem se manifestar sem permissão para sair das ruas, antes de recorrerem à repressão. Por meio de um comunicado, o Ministério do Interior chegou a impor o horário e o local do início da passeata, segundo o jornal La Nación. Um número de telefone também foi divulgado para o caso de ;reclamações ou opiniões; sobre a manifestaçao. Exatamente uma semana atrás, a ministra Patricia Bullrich foi taxativa ao alertar contra protestos. ;Nós vamos dar a eles (manifestantes) cinco minutos; ou eles se vão, ou os retiraremos. A partir de agora, todos vão saber o que esperar;, avisou.

De acordo com Morgenfeld, o ato de ontem representou um indicativo da resistência dos funcionários frente aos demitidos e à deflação salarial. ;Neste momento, estão discutindo as negociações anuais para definir os aumentos salariais;, acrescentou.

Hollande
Se Macri enfrentou ontem a pressão das ruas, Hollande tratou de suavizar o clima e elogiou o anfitrião. ;O senhor abriu um novo capítulo na Argentina, para que seja mais aberta e mais crível, e a França quer ajudá-lo;, disse o presidente francês, após uma reunião de uma hora de duração. Os dois mandatários firmaram acordos de cooperação na área científica. Paris prometeu facilitar créditos para empresas francesas que decidirem operar em território argentino.

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