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Jihadistas teriam pasta de alumínio de fabricação brasileira, diz relatório

Organismo britânico independente alerta para a facilidade de acesso de extremistas a componentes usados na fabricação de explosivos

Rodrigo Craveiro
postado em 26/02/2016 06:08
Durante 20 meses, especialistas da organização independente Conflict Armament Research (CAR), sediada em Londres, investigaram, na Síria e no Iraque, mais de 700 componentes utilizados pelo Estado Islâmico (EI) na fabricação dos dispositivos explosivos improvisados (IEDs, pela sigla em inglês) ; geralmente usados em atentados à beira de estradas. Apoiados pelas Unidades de Mobilização Popular Iraquiana, pela Polícia Federal do Iraque, pelas forças peshmerga (guerrilheiros curdos) e pelas Unidades de Proteção Popular (YPG), eles identificaram 51 entidades comerciais e 20 países envolvidos na cadeia de suprimentos de componentes empregados pelos jihadistas ; com 13 companhias, a Turquia é o mais importante ;ponto de estrangulamento; para os materiais.

Especialistas das forças iraquianas vasculham região de Tikrit, em busca de dispositivos explosivos improvisados: bombas são usadas em estradas

As empresas produziram, venderam ou receberam ;material crítico;, tais como precursores químicos, cordões de detonação, detonadores, cabos, fios e outros componentes eletrônicos. O trabalho em campo deu origem ao relatório Tracing the supply of componentes used in Islamic State IEDs (;Rastreando o suprimento de componentes usados em IEDs do Estado Islâmico;).

[SAIBAMAIS]Marcus Wilson, diretor administrativo do CAR, afirmou ao Correio se preocupar com a velocidade com que os jihadistas adquirem componentes para produzir IEDs. ;Em alguns casos, os compradores do EI receberam os produtos, fabricaram os IEDs e os distribuíram em questão de semanas, em relação à última data conhecida da transferência.; Entre as companhias citadas pelo dossiê, está a brasileira Aldoro, sediada em Rio Claro (SP) e especializada em pigmentos metálicos. Segundo o relatório, ela vendeu tambor com pasta de alumínio para um distribuidor da Turquia, dois anos atrás. O produto teria caído nas mãos de jihadistas.



Em 29 de abril passado, o material, junto de tambores produzidos pela romena Alba Aluminiu e pela chinesa Sunrise Aluminium Pigments, foi identificado pela equipe do CAR em armazém capturado das mãos do EI em Tikrit, no norte do Iraque. Wilson faz questão de afastar qualquer suspeita sobre a Aldoro e as 50 companhias. ;Como todos os fabricantes citados, não suspeitamos nem acusamos a Aldoro de ter feito algo errado. Não existe evidência que surgira transferência direta de bens para as forças do EI por parte da companhia brasileira;, explicou. ;Qualquer informação que pudermos obter das companhias nos fará traçar o caminho para determinar como o EI recebeu os produtos.;

De acordo com ele, todas as transações investigadas foram feitas legalmente, com a apresentação da documentação exigida. ;As companhias internacionais forneceram os produtos para corretores, agentes e intermediários, que, então, os venderam a varejistas locais. Acreditamos que estes negociaram a mercadoria com representantes do EI;, relatou.

Confirmação
A Aldoro respondeu a e-mail enviado pelo Correio. ;Confirmamos uma exportação para o nosso distribuidor Gultas Kimya, na Turquia, em agosto de 2014. Foram 12 mil quilos de pasta de alumínio e mil quilos de purpurina ; pigmentos de bronze. São matérias-primas em tintas para manutenção, indústrias, decoração, setor automotivo e impressão;, admitiu Steffan Martendal, diretor administrativo da empresa. O dossiê do CAR atesta que a Gultas Kimya recebeu a pasta de alumínio em agosto de 2014. O relatório aponta que o produto foi usado pelo EI entre março e abril de 2015. ;Claro que ficamos preocupados, mas a informação era muito vaga. Não conseguimos saber de onde veio o balde nem se tinha produto dentro;, disse o diretor da Aldoro.

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