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ONU aproveita a trégua para entregar ajuda humanitária na Síria

O conflito sírio deixou em cinco anos mais de 270 mil mortos e milhares de deslocados e refugiados

Agência France-Presse
postado em 29/02/2016 16:05

Damasco, Síria - As Nações Unidas começaram a entregar nesta segunda-feira ajuda humanitária a milhares de civis sírios em zonas sitiadas na Síria, onde a fome pode provocar milhares de mortes, aproveitando o terceiro dia de uma trégua.

Em Genebra, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou que a trégua era "respeitada de modo geral", apesar "de alguns incidentes".

A ONU anunciou que aproveitará a suspensão das hostilidades, em vigor na Síria desde sábado, para reforçar suas operações humanitárias e ajudar nos próximos cinco dias mais de 154.000 pessoas que vivem em localidades cercadas por algum dos grupos em conflito.

De acordo com o Crescimento Vermelho sírio, 10 de seus 51 caminhões de ajuda destinados a Muadamiyat al-Sham, localidade rebelde localizada ao sudoeste de Damasco e cercada pelas forças do regime, entraram na cidade no início da tarde desta segunda.

Segundo Muhanad al-Assadi, eles estão carregados de produtos de limpeza, higiene e cobertores. Esta é a primeira vez que uma ajuda humanitária é fornecida na Síria desde o início da trégua.

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"Mais de 450 mil pessoas estão atualmente bloqueadas em cidades e vilarejos da Síria", lembrou nesta segunda-feira o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra;ad Al-Hussein, durante a abertura da 31; sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra.

"Os alimentos, os medicamentos e outros produtos de ajuda humanitária de urgência são bloqueados de forma reiterada. Milhares de pessoas podem morrer de fome", advertiu.

"A privação deliberada de alimentos está claramente proibida como arma de guerra. Por extensão, o cerco de localidades também está", declarou o Alto Comissário.

A entrega efetiva de ajuda também criaria um ambiente mais propício para discussões de paz, após as tentativas fracassadas no início do mês.

Neste sentido, o grupo de trabalho (task force) sobre o cessar-fogo na Síria se reunirá nesta segunda à tarde, a fim de avaliar as acusações de violações da trégua, segundo anuncio à AFP o mediador da ONU na Síria, Staffan de Mistura.

O enviado da ONU espera relançar as negociações de paz em 7 de março, caso o cessar-fogo seja mantido e a entrega de ajuda prossiga.

A Rússia e os Estados Unidos, promotores da trégua, demonstraram prudência quanto ao futuro da trégua, respeitada de forma global, mas marcada por acusações mútuas de violações. O conflito sírio deixou em cinco anos mais de 270.000 mortos e milhares de deslocados e refugiados.

Trégua difícil

Nesta segunda ao amanhecer, os rebeldes dispararam foguetes contra a parte da cidade de Aleppo (norte) controlada pelo regime. Por outro lado, aviões russos bombardearam uma aldeia no sul da província de Hama (centro), onde os rebeldes são maioria, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Segundo o OSDH, sete civis morreram no domingo vítimas dos bombardeios russos em uma cidade na província de Aleppo.

Já a artilharia turca atacou posições do Estado Islâmico na província de Aleppo em coordenação com a coalizão internacional.

A trégua envolve o regime e os rebeldes "moderados", mas exclui os grupos jihadistas como o Estado Islâmico e a Frente al-Nusra, o ramo sírio da Al-Qaeda. O cumprimento do cessar-fogo é difícil, uma vez que a al-Nusra é aliada a alguns grupos rebeldes em várias regiões do país.

Em visita ao Koweit, o secretário-geral da Otan se disse preocupado com as violações da trégua. "É importante que todas as partes respeitem o cessar-fogo", afirmou Jens Stoltenberg, que também alertou para "o reforço das capacidades militares da Rússia na Síria".

Nas grandes cidades da Síria, os habitantes saíram às ruas no domingo depois de uma noite tranquila para fazer compras, aproveitando uma calma incomum.

Nos distritos rebeldes de Aleppo, os estudantes, acostumados a andar colados às paredes para evitar os bombardeios, puderam caminhar no meio da rua, observaram os correspondentes da AFP.

"Antes, os nossos professores nos proibiam de sair por causa dos ataques aéreos. Mas hoje saímos", contou à AFP Ranim, uma menina de 10 anos do distrito rebelde de Bustan Al-Qasr.

A calma era total nas proximidades de Damasco, e as ruas da capital estavam muito animadas, constatou a AFP.

O acordo de trégua promovido por Moscou e Washington, apoiado pela ONU, é o primeiro do tipo nos cinco anos de guerra.

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